Vive a tua vida!

Ocupamo-nos demasiado da vida dos outros. Vivemos para nos comparar com o que os outros fazem, com os carros que os outros têm, com as casas bonitas que compraram, com as famílias perfeitas que aparentam ter, com os empregos de sonho que conseguiram, com as férias paradisíacas publicadas no instagram. Enquanto nos vamos comparando e julgando à luz do que cremos que os outros são, estamos a viver mal e a viver pouco. Estamos, mais ainda, a viver uma ilusão que nos deixa infelizes e desanimados. A comparação e o desejo de ter isto ou aquilo que o outro tem é inevitável, mas a vida alheia não pode ser premissa para a nossa própria vida. A verdade é que, muitas vezes, o que julgamos ver e encontrar na vida dos outros pode não existir realmente. Aquilo que vemos é só o que os outros nos deixam ver e isso quase nunca corresponde à verdade toda. Mas não há vidas melhores que a minha? Depende daquilo em que estás a pensar quando fazes essa pergunta mas, na realidade, cada vida e cada experiência é diferente da outra e os desafios inerentes a essa realidade podem ser exigentes numa medida que a tua compreensão não alcança. Mais do que viveres a tua vida para alcançar algo parecido com o que os outros parecem ter ou alcançar, é importante que vivas, experimentes e construas a vida que queres. A vida que te faz feliz. A vida que te deixa adormecer em paz. A vida que rima com os teus princípios e com a tua consciência. A vida que te foi dada e que pode ser preenchida com o que bem te apetecer. A vida que não pertence a mais ninguém. Enquanto vivermos de aparências, de comparações e de falsas e irremediáveis expectativas não me parece que estejamos a experimentar uma existência justa e condizente com aquilo que merecemos. Às vezes também chove e há tempestade nas férias paradisíacas. Às vezes o emprego de sonho é um esqueleto de sentidos e de realização pessoal. Às vezes o carro é emprestado. Às vezes a casa está vazia. Queres uma vida bonita? Vive a tua. (© iMissio)
Precisas de ouvir mais

O silêncio é uma forma simples e muito eficaz de dar espaço e tempo ao outro. De lhe dar a importância que outros lhe negam sempre que decidem carregá-lo com discursos sem fim nem grande sentido. É incrível o quanto se pode aprender sobre alguém só de estar a seu lado em silêncio e com atenção. Para muita gente, o silêncio é um incómodo, pelo que tentam preenchê-lo, falando de si! Revelam-se, porque não se suportam! Quase como se tivessem vergonha de serem quem são… sentem a sua voz interior como uma ameaça. Quando escutamos, podemos ouvir o que nos dizem, mas também, e talvez ainda mais importante, o que não nos dizem! Por vezes, falar é uma forma da vaidade se alimentar a si mesma. Alguns só falam porque são incapazes de se calar… Mesmo as conversas que começam por ser sobre algo útil, em pouco tempo chegam a assuntos desnecessários e, sempre que continuam por aí, acabam em temas despropositados, com afirmações quase sempre imprudentes. Aprender a fazer silêncio é essencial, porque nos coloca no nosso lugar. Os sofrimentos ensinam-nos a arte do silêncio. A felicidade também. Pensar a vida, e cada uma das suas dimensões concretas em nós, demora. Exige calma e concentração, atenção ao exterior, e paz interior. Mais, mesmo que tenhas algo importante a dizer, ainda assim isso não te dá o direito de o declarar sem que tenhas de esperar pelo momento certo para o fazer. Precisas de ouvir mais. Até porque o mais provável é que haja muita gente a precisar que tu os escutes. E quando alguém partilhar contigo o seu coração, aceita-o. Escuta com toda a atenção. Não estejas apenas à espera da tua vez de falar e a pensar no que vais dizer. Quando escutares, escuta. Escutar já é uma resposta! (© iMissio)
Afastados – I

Robert Barron é um bispo americano que começa a ser tido em conta nas temáticas que se referem à aproximação dos «afastados», esses que acreditam em Deus ou, pelo menos, em que “algo existe”, mas não praticam qualquer fé. Trata-se de um grupo numeroso, pois calcula-se que cerca de metade dos batizados se afasta da Igreja e cada vez mais cedo: quase todos antes dos trinta anos e a maioria entre os treze e os dezoito. Normalmente, invocam como motivo assuntos que se supunham apreendidos na catequese, mas que lhes passaram ao lado: razão de ser da Missa dominical, compromisso fé/vida, conciliação entre ciência e religião, a Igreja como povo de Deus, etc. Comprova-se, portanto, que a ignorância é a grande inimiga da fé e da Igreja. Perante isto, o bispo propõe “cinco vias”. Uma é a da solidariedade ou “caminho da justiça”, tão caro aos jovens que sonham com um mundo novo. Em termos simples: se um agente pastoral convidar um afastado para a Missa, este ri-se; mas se o convidar para uma especial campanha solidária, é muito provável que ele adira com entusiasmo. Barron diz mesmo que os jovens gostam da doutrina social da Igreja e daqueles luminares da Patrística que nos ensinaram a ver Cristo nos pobres. E afiança: devemos falar mais de S. João Crisóstomo, de Bartolomeu de las Casas, de Madre Teresa, etc. Outra via é a da beleza. Os pós-modernos não toleram que se lhes diga o que devem fazer. Mas entusiasmam-se com o que alguém foi capaz de sonhar para exprimir o inefável, o divino. A Sagrada Família, de Barcelona, fala de Deus com a simplicidade e a pujança de uma floresta; a catedral de Chartres prega mais do que todos os compêndios de homilética. Mas a beleza não reside só nas coisas: é mais intensa no ser humano. Uma pessoa dedicada aos outros de alma e coração, com alegria e simplicidade, é mais testemunha do que mestre, para usar a expressão de Paulo VI. Já sabíamos, há décadas, que a idade crucial para manter ou largar a fé é a adolescência. Também nos damos conta que uma catequese «escolar» não produz os resultados que se esperavam. Então, “uma Igreja em saída” tem de privilegiar novas vias. Não as abandonemos, sob pena de enjeitarmos a própria pedagogia divina.
XVI Domingo do Tempo Comum
A Palavra de Deus deste domingo convida-nos a reflectir o tema da hospitalidade e do acolhimento. Sugere, sobretudo, que a existência cristã é o acolhimento de Deus e das suas propostas; e que a acção (ainda que em favor dos irmãos) tem de partir de um verdadeiro encontro com Jesus e da escuta da Palavra de Jesus. É isso que permite encontrar o sentido da nossa acção e da nossa missão. I LEITURA (Gen 18, 1-10) A primeira leitura propõe-nos a figura patriarcal de Abraão. Nessa figura apresenta-se o modelo do homem que está atento a quem passa, que partilha tudo o que tem com o irmão que se atravessa no seu caminho e que encontra no hóspede que entra na sua tenda a figura do próprio Deus. Sugere-se, em consequência, que Deus não pode deixar de recompensar quem assim procede. II LEITURA (Col 1, 24-28) A segunda leitura apresenta-nos a figura de um apóstolo (Paulo), para quem Cristo, as suas palavras e as suas propostas são a referência fundamental, o universo à volta do qual se constrói toda a vida. Para Paulo, o que é necessário é “acolher Cristo” e construir toda a vida à volta dos seus valores. É isso que é preponderante na experiência cristã. EVANGELHO (Lc 10, 38-42) No Evangelho, apresenta-se um outro quadro de hospitalidade e de acolhimento de Deus. Mas sugere-se que, para o cristão, acolher Deus na sua casa não é tanto embarcar num activismo desenfreado, mas sentar-se aos pés de Jesus, escutar as propostas que, n’Ele, o Pai nos faz e acolher a sua Palavra. XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
O que nos tira o sono?

Dormimos mal. Parece que, por muito que o corpo precise de descanso, a cabeça não quer deixar. Faz-nos, diariamente, um desfile com as nossas maiores preocupações, com os cenários imaginários (que dificilmente se concretizarão), com as possibilidades de tragédia, de abandono, de não merecimento, de fracasso, de não-perdão, de não-aceitação. Dormimos mal porque pensamos demasiado. A quantidade de pensamentos é avassaladora e a qualidade destes deixa muito a desejar. Como o dia nos ocupa a nossa estrutura mental, pessoal e emocional, parece que nos resta aquele pedacinho de tempo antes de cair no sono para pensar em tudo o que nos atropelou e atropela. Em tudo o que passou por nós e não nos passa. Em todas as palavras ditas e não ditas. Por nós e pelos outros. Eu sei. É difícil dormir bem quando aquilo que ouvimos só rima com mal. Com fracasso. Com possibilidades de uma vida que terá muito mais de trágica do que de cómica ou saudável. Ou é a guerra que não acaba. Ou os preços das casas que não descem. Ou o crash imobiliário que ninguém sabe se chega. Ou os médicos e enfermeiros que andam zangados. Ou os professores que estão em vias de extinção. Ou o preço da gasolina que não desce. Ou os incêndios. Ou isto ou aquilo. Precisamos de encontrar espaço e tempo para nos distanciarmos desta loucura que nos quer tomar o coração, a saúde e os pensamentos. Há muito que não depende de mim, nem de ti. Há muita coisa que nem eu nem tu poderemos resolver, por muito grande que seja a nossa vontade. Naquilo que depende de ti, o que podes fazer diferente? Naquilo que depende de ti, onde podes dizer não? Encontra tempo para o descanso. Para o cuidado da totalidade do que és. Os nossos pensamentos estão doentes, como nós e como esta sociedade estranha em que nos mergulhamos a cada dia. Mas a sociedade também és tu. Guarda-te e protege-te do que não pode ser mudado por ti; dos acontecimentos em que não podes interferir. Pensa naquela pessoa querida que te melhora os dias. Pensa naquele prato maravilhoso que te faz lembrar os tempos da tua infância. Pensa naquele dia de gargalhadas que tiveste e que te fez expandir o coração. Pensa naquela praia com pouca gente onde vais quando tens tempo. Pensa em ti. No que há de bonito para ver além do que nos mostram. Pensa em bom. Em bonito. Em amor. E faz a tua vida rimar com isso. (© iMissio)