O que teve compaixão dele!

Cada vez estou mais ciente que a evangelização passa pelo testemunho de vida. Imitando São Bento, que ontem celebramos, é pela oração e pelo trabalho que mostramos ao mundo quem somos e em quem acreditamos. Nos últimos tempos, tenho sido abordado por alguns conhecidos e amigos no sentido de os desenrascar nos critérios e formações para serem padrinhos de Batismo, Crisma ou Matrimónio. Se num passado recente, procurava encontrar formas ou pessoas que simplificassem os processos, hoje começo por questionar estes futuros padrinhos, pelos motivos pelos quais aceitaram esses encargos. Se é uma questão social, familiar ou de simples amizade? Se sabem o que é ser padrinho/madrinha de um sacramento católico? Depois enveredo pela coerência de vida. Que mensagem passam aos pais, amigos ou familiares? Como é que os próprios afilhados olharão, mais tarde ou mais cedo, para o testemunho dos padrinhos? Num mundo em que andamos acelerados, constantemente estimulados para uma realidade sempre, e cada vez mais, imediata, e por vezes, mesmo mediata. Precisamos de momentos, tempos de reflexão, para que encontremos a coerência entre o que se diz defender e o que se vive! Numa sociedade cada vez mais egoísta e egocêntrica, precisamos de luzeiros que nos deem segurança no caminho que trilhamos dia após dia. Creio que começamos a estar cansados de luzes que são apenas aquele estrondo do momento, mas que nada mais iluminam que eles mesmos. A oração e o silêncio podem ajudar-nos a a encontrar as razões para todo o nosso trabalho. «Mestre, que hei de fazer para receber como herança a vida eterna?»; «O que teve compaixão dele.» (cf. Lc 10, 25-37) Compaixão, no dicionário Priberam diz que é um “Sentimento benévolo e solidário que inspira em alguém a infelicidade ou o mal alheio; sentimento de partilha do sofrimento de outro ou outros”. Só com estes sentimentos que a oração nos capacita, é que podemos aproximar-nos dos outros para tratar deles. Tudo o resto é teatro! Esta é a única forma de nos evangelizarmos e de evangelizar os outros. (© iMissio)
Sacramento da Crisma ou Confirmação

No passado dia 9 de Julho, realizou-se a cerimónia festiva do Sacramento da Crisma ou Confirmação na Paróquia de S. Salvador de Ramalde. Presidiu à Eucaristia D. Pio Alves, Bispo Auxiliar da Diocese do Porto, e concelebraram os Párocos de Ramalde e da Senhora do Porto, Pe. Mário Henrique e Pe. Manuel Correia Fernandes. Estiveram presentes 36 crismandos, sendo 30 da comunidade paroquial de Ramalde e 6 da Senhora do Porto. Com o Baptismo e a Eucaristia, o Sacramento da Crisma ou Confirmação constitui o conjunto dos sacramentos da Iniciação cristã, cuja unidade deve ser salvaguardada. Por isso, é preciso explicar aos fiéis que a recepção deste sacramento é necessária para a plenitude da graça baptismal (CIC 1285) O efeito deste sacramento é a infusão do Espírito Santo em plenitude, facto que contribuirá decisivamente para um enraizamento mais profundo na filiação divina, uma união mais firme a Cristo, o aumento em nós dos dons do Espírito Santo, uma união mais íntima à Igreja e uma força especial do Espírito Santo para difundir e defender a fé através de actos e palavras, como verdadeiras testemunhas de Cristo. A celebração da Eucaristia decorreu com muita alegria, ressaltando o momento em que os crismandos efectuarem a confirmação das promessas do baptismo e a profissão de fé. O rito do sacramento completou-se com a unção do sagrado crisma na testa e pela imposição das mãos. No final, D. Pio Alves agradeceu a participação de todos nesta celebração e apelou à vivência cristã e ao compromisso eclesial dos novos crismados.
«Deves amar-me por aquilo que sou»

Há frases que representam autênticos “lugares-comuns” muito perigosos para o êxito de um casamento. A primeira é esta: se realmente me amas, «deves amar-me por aquilo que sou». Malgrado a aparente inocuidade desta afirmação, trata-se, na realidade, de uma frase muito ambígua: que significa, de facto, amar alguém por aquilo que é? Demasiadas vezes esquecemos que para se ser amado é necessário ser-se também pessoas “amáveis”, isto é, capazes de se fazerem amadas. À primeira vista, esta afirmação pode parecer contraditória: então, o amor não é gratuidade? Não deverei esperar de agrade “naturalmente” a quem diz que me quer bem, a quem se enamorou de mim e me escolheu? E se o outro já não se sente espontaneamente atraído por mim, não será este um sinal claro de que já não me ama? O facto é que uma parte de nós, ao pensar no amor, faz apenas referência ao modelo relacional primário, a relação entre a mãe e o seu filho: um amor que não coloca condições, que não precisa de ser merecido, mas que se origina simplesmente do nosso ser. Ao início de uma relação, o enamoramento reporta-nos com muita proximidade a esta experiência e parece prometer-lhe o cumprimento: o enamoramento atenua as fronteiras entre um e outro, faz-nos sentir reciprocamente especiais, enfatiza os aspetos positivos e minimiza os menos satisfatórios. Ao mesmo tempo, o desejo de se ser amado impele a pessoa comportar-se de maneira que a outra possa, por sua vez, enamorar-se: quer-se ser-se visto e apreciado, e isso estimula a aparecer, o mais possível, como pessoa bela e interessante; apesar dos defeitos próprios, a perceção do olhar do outro suporta a nossa capacidade de dar o melhor. A quotidianidade da vida põe à prova este modo de estar em relação, porque, ao viverem juntas, as pessoas estão constantemente uma sob o olhar da outra, mas a consciência dessa realidade desapareceu. É fácil esquecer que quem nos vê nas condições mais diversas não pode evitar reagir espontaneamente àquilo que perceciona: pode considerar-nos agradáveis, mas pode também aborrecer-se ou irritar-se, mesmo se isso não significa que já não nos ame. Se o amor pode ser continuamente e voluntariamente alimentado para se tornar cada vez mais forte, o enamoramento é uma reação ao outro que provém da vontade e é por isso um dom belíssimo e frágil, que devemos saber proteger. Sem nos darmos conta, podemos “desamorar” o outro por causa da nossa negligência. Demasiados casamentos, infelizmente, esgotam-se por culpa da incúria e por vezes até da má-educação, porque os cônjuges interpretaram a frase «ser amado por aquilo que sou» como uma licença para deixar andar e para não mais se vigiarem a si próprios para encorajar o amor do outro. Devemos, por isso, continuar a cultivar, sem nos cansarmos, a bela pessoa que podemos ser: pessoas belas por dentro e belas por fora, não só para os estranhos, mas também e sobretudo para quem nos escolheu e partilha a sua vida connosco. Estar à vontade e livremente na sua casa nunca deve ser confundido com o tornar-se desleixado ou negligente. Mas é importante também continuar a enriquecer e aprofundar a nossa personalidade e a desenvolver os nossos dotes, porque ser uma pessoa interessante não tem apenas uma função narcisista, mas é, ao contrário, a melhor maneira para facilitar da parte do outro um amor “enamorado”. (Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)
Só é livre quem é firme

É um erro enorme julgar que a liberdade é a capacidade de ter sempre por onde escolher. Não é. Depois de se ter escolhido um caminho é preciso ser fiel a ele. Afastando as tentações para mudar de rumo, que aparecem assim que começam a surgir adversidades mais fortes. Ser livre é dizer ‘sim’ a uma opção e ‘não’ a todas as outras. Resistindo ao tempo, às aparências e aos apetites. Continuando, mesmo quando o mal nos seduz a voltar atrás e ficarmos ali… sem escolher nada. É curioso como o mal nos quer sempre desviar do bem, ao ponto de as contrariedades inesperadas poderem ser uma espécie de sinal de que estamos no caminho certo! Talvez tudo comece com a descoberta dos nossos valores. É necessário tempo e serenidade para chegarmos às profundezas do nosso coração e para lá encontrarmos essas balanças e bússolas, que sabem pesar as hipóteses e apontam para o bem. Depois, assim que surge uma possibilidade de escolha, temos de escolher de acordo com o que somos e com o que queremos ser. No exato instante em que decidimos, não se acaba a liberdade, antes sim começa a sua etapa mais bela e importante: sermos fiéis a nós mesmos. Sem temores nem tremores, porque de nada vale a alguém a maior riqueza do mundo, se se perdeu de si mesmo, se se quis desviar em busca de ser outro… E se tivermos escolhido mal? Se cometermos um erro? Então, não voltamos atrás. Assumimos o fracasso, e todas as consequências, e seguimos adiante, sem desculpas nem explicações. Com renovada responsabilidade para nos escolhermos bem, para nos escolhermos melhor. Ser livre não é querer tudo, tentado até escolher duas ou três coisas ao mesmo tempo. Voltando atrás assim que nos sentimos a perder algo bom de um outro caminho. Estamos condenados, e ainda bem, a escolher um caminho. Um só. Ser livre é saber querer, mas é, em especial, saber ser leal ao que escolhemos antes. Ser livre é comprometer-se consigo mesmo. (© iMissio)
Desmaterialização

A pandemia confrontou-nos com um aspeto a que não estávamos habituados: o teletrabalho. Teve de ser. Pela sua novidade encantou muitas pessoas. As empresas, sempre hábeis a explorar redução de custos, aderiram a este sistema e várias tentaram impô-lo para o futuro. A situação que se viveu nos anos 2020 e 21 apenas veio acelerar um processo que já se tinha tornado crónico em alguns âmbitos: o privilegiar as comunicações interpessoais pelos meios digitais, a realidade virtual tornada «real», o desenvolvimento espantoso das redes sociais das frivolidades e do descarregar da violência interior, etc. Mas, além do trabalho, existem outros setores que investem nisto (quase?) a cem por cento: compras on-line, telemedicina, cursos universitários à distância, robotização das intervenções cirúrgicas, «visitas» a doentes internados nos hospitais ou nos lares da terceira idade exclusivamente por zoom, reuniões e cimeiras, etc. E os governantes, quase sempre mais aptos a cavalgar a onda que a discernir as reais vantagens e inconvenientes, apressam-se a endeusar o «mundo novo» da transição digital e da transformação de todas as relações sociais. Só que este conceito reporta-se diretamente à noção de desmaterialização. A matéria tem as suas leis, bem conhecidas por nós, que também o somos. As duas principais são o espaço e o tempo. Desmaterializar, significa tornar tudo acessível, independentemente da distância e do momento do acontecido. E alguns encantam-se com isto e com a fuga do mundo real e das suas asperezas. Vamos com calma. Não sei se os riscos compensam as vantagens. Eis alguns: desumanização das relações sem a ternura dos afetos físicos; desprezo da unicidade pessoal, pois a informática é niveladora; incapacidade de gerir a multiplicidade das informações e de reflexão pessoal; desprezo do real e nova ambiência do ficcional; incomunicabilidade tu a tu; atomização do trabalhador, sem a «proteção» dos colegas; etc. Desmaterialização total? Por mim, não. Ou apenas na vida eterna. Como espírito encarnado ou corpo que também sou, não creio que algo possa substituir a visão e a audição de proximidade, a voz de empatia, o sabor e o olfato e todos os outros sentidos com que Deus me dotou para servirem de base à harmonia e à felicidade. Um ecrã é um meio, mas jamais um fim.