Dinamismos

O poder, especialmente o político, consiste sempre na demarcação de um “espaço” social que tenta preservar. Raramente pensa em termos de tempo: não se preocupa com verdadeiras reformas, mas em «não fazer ondas» para conservar a maioria obtida. E corta com o passado: sempre diz mal de quem o precedeu. A Igreja, pelo contrário, assenta na continuidade. Por natureza, o seu passado é assumido como parte de si: penitencia-se pelos períodos em que não foi fiel e exulta com aqueles em que a sua ação se manifestou em comprovada santidade. E dá crédito à frase de Francisco: “O tempo é superior ao espaço”. Por isto, ao contrário do poder, é típico da Igreja gerar processos ou dinamismos de mudança. Não se centra no imediato, mas advoga transformações que começando agora, se projetam no futuro de forma irreversível e inalienável. Uma delas chama-se sinodalidade. Que atitudes devem presidir a essa atuação para vencer rotinas e contrariar inércias? Várias Mas algumas parecem determinantes. Antes de mais, saber escutar. O próprio Papa cita um aforismo clássico: “O que diz respeito a todos, deve ser tratado por todos”. Obviamente, não no sentido do parlamentarismo moderno: estabelecer maiorias para que a decisão tenha valor. Aqui é no sentido de alargamento de visões, pois o Espírito sopra onde quer. Em todos. Psicologicamente, deve predominar a abertura à novidade. Em Igreja, o pior que pode acontecer é refugiar-se na ideia de que “sempre se fez assim”. Até porque, mudando as circunstâncias históricas, tem de mudar o procedimento. Não há renovação sem compromisso. Grande «erro» histórico foi confiar ao clero a totalidade dos destinos da fé. Isso «desocupou» ou descomprometeu os leigos. Pense-se no judaísmo ou no islão: a não existência de uma «hierarquia» ordenada empenha a totalidade dos crentes. E há que cultivar a fé. Em todo o povo de Deus repousa a garantia da sua autenticidade. Falamos mesmo em “sentido da fé”. O problema é o seu discernimento e implicações. O que é difícil. Aliás, a noção de discernimento remete para sabedoria. Sem esta, ficam as banalidades típicas da comunicação de massas. O cristão é ser de tempo e cultura. Não demarca espaços seus, mas assume dinamismos. Dá corpo a uma Igreja que ou é sinodal ou centro de poder. Tertium non datur.
Amar é arriscar ser.

Atirar-nos e ir. Arriscar. Praticar o recomeçar. Uma e outra vez. Ousar ser inteira, cada vez mais inteira em cada recomeço. Ousar mostrar-nos. Ousar falar, ousar errar, ousar cair, ousar cometer erros. Viver é a verdadeira adrenalina. Não me iludo. Não me pressiono. Aceito que às vezes a melhor opção é parar, mesmo quando todos nos dizem para continuar. Eles não são nós. Só eu só eu. Só eu sou capaz de ouvir o chamamento da vida, de Deus, de Jesus, do espírito santo, do amor. Só eu sei. Só nós sabemos. Uma vez uma amiga disse-me, citando Susanna Tamaro: “E quando à tua frente se abrirem muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não metas por uma ao acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que te distraia, espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio, e ouve o teu coração. Quando ele te falar, levanta-te, e vai para onde ele te levar.” O nosso coração sabe o caminho. Ele sabe mesmo. Ousar senti-lo e segui-lo é o desafio diário. Mas quando o fazemos, quando nos colocamos inteiras no mínimo que fazemos não há erros ou desilusões, há oportunidades de aprendizagem, há crescimento, há vida. Sim, é mais fácil ficar no sofá. É mais fácil ficar sentado no conforto. Mas ir é o que nos permite florescer, é o que nos permite criar-nos, experimentar-nos. Confiar é o verdadeiro desafio. Confiar que sabemos o caminho. Confiar na voz que ouvimos dentro de nós. Confiar nos nossos dons. Confiar no espirito santo. Confiar. Entregar. Precisamos de nos entregar com a mesma coragem com quem um paraquedista se atira do avião. Ele testou tudo. Mas quantas coisas ainda assim podem dar errado? Muitas!. Todas! E ainda assim ele vai. Confia, entrega-se. Assim façamos nós. Ouçamo-nos, sintamos o espírito santo dentro de nós a mostrar-nos o caminho. E, ouvindo-o, vamos. Só vamos. Vamos reconhecendo que podemos não estar totalmente capacitados, mas certos que “Deus não escolhe os capacitados, capacita os escolhidos”(Albert Einstein). “No entardecer da vida seremos julgados pelo amor” diz-nos São João da Cruz e “a salvação que brota do encontro com o Amor Incarnado leva, não a uma vivência em busca do não pecar, mas a uma vivência em procura constante do mais amar.” (Susana Vilas Boas). Então que o nosso foco seja o amor, que o nosso foco seja amar. Se nos focarmos no amor nada mais na nossa vida e no nosso caminho será se não o amor. Seremos e viveremos em vida o que santo agostinho apregoou “Ama e farás o que quiseres”. (© iMissio)
Carta às famílias da Diocese do Porto

Caras Famílias da nossa Diocese do Porto, Saúdo-vos muito afetuosamente e apresento-vos os mais calorosos cumprimentos. Esta época que nos é dado viver, maravilhosa em muitos aspetos, duvida das grandes instituições da humanidade, incluindo a mais básica e estruturante, a família. Porém, não obstante as dificuldades e os sacrifícios típicos de toda a existência humana, a família deve ser sempre fonte de alegria: é no interior da família que sentis o amparo da outra parte, do marido ou da esposa; que viveis um amor intenso e de felicidade; que sonhais e programais; que decidis em conjunto as melhores formas de resolver as problemáticas da vida; que gerais vidas e as colocais no mundo, com um misto de espanto e de muito sonho; que vedes crescer os filhos e os inseris na sociedade e na Igreja; que os educais na escolarização e na fé; enfim, sentis-vos realmente colaboradores de Deus na obra da Criação e de fazer este mundo mais belo no amor, nas novas vidas com sentido e na abertura à esperança e ao futuro. Reparai neste processo: uma mulher e um homem que deixam a família em que viviam, a dos pais e irmãos, e se abrigam na intimidade e serenidade de um novo lar. Lá acontecem os grandes momentos que tecem a existência: geram os filhos, criam-nos, educam-nos, dialogam à procura dos melhores caminhos a seguir, gerem os conflitos, celebram os momentos de alegria e, porventura, também abafam um ou outro soluço e limpam algumas lágrimas. Do lar nasce também uma relação de abertura ao exterior, seja na relação com as estruturas do mundo, seja na participação da vida da comunidade da fé, concretamente da Paróquia. Por isso a Igreja pede que, na amizade e na dedicação, cada família se ligue a outras famílias para lhes levar um gesto de ânimo, uma palavra de conforto nas situações difíceis, uma ajuda quando tudo parece que falha. E também para as evangelizar. Sim, é preciso ajudá-las a abrirem-se à fé que dá sentido à vida, é preciso fazer-lhes ver que a prática religiosa liberta, é preciso fazer-lhes compreender que há valores humanos e cristãos que só se transmitem na catequese e, se os seus filhos a não frequentarem, vão menos preparados para o mundo complexo e para a vida ativa. Peço-vos, pois, que partilheis com as outras famílias os muitos dons que Deus vos concede. A começar pelo dom da fé. Dedicai-vos aos outros. Daqui a poucos dias, vai celebrar-se, em Roma, com o Papa Francisco, o 10o Encontro Mundial das Famílias. Nós associamo-nos, aqui no Porto, com vários atos; convido-vos, em especial, para o grande encontro em Vilar no sábado 25 de junho, com o tema e mote: “O Amor na família: vocação e caminho de santidade”. Sim, caras famílias, o amor é possível e necessário. Apresentemos ao mundo o amor como a salvação da humanidade no Deus que o Apóstolo definiu como amor: “Deus é amor” (1 Jo 4, 8). Por isso é que todos somos chamados ao amor. E porque o amor humano é participação no amor de Deus, aí é que se constrói santidade. Caras famílias, rezo por vós. Rezai também por mim. Tenho muita admiração e confiança nas famílias crentes da nossa Diocese! Em vós! Deus vos ajude a cumprir integralmente a vossa alta e difícil missão. E que Ele vos abençoe e vos conceda muita alegria e felicidade. + Manuel, Bispo do Porto
A alegria do amor

Lembro-me da reação instintiva de um alto quadro de uma empresa. Num anuo com o patrão, decidiu despedir-se. E contou-me o que lhe disse: que não tinha «casado» com ele. Que para sofrer já chegava a família que tinha constituído. Para sofrer? Impressionou-me a ligação entre família e sofrimento. Pelo que dele sei, não creio que isso fosse verdade. Certamente usou esse termo de comparação por mero desabafo. Apenas para ilustrar o discurso. Não obstante… Vem-me isto à memória no ano dedicado à Amoris laetitia, no quinto aniversário dessa extraordinária exortação apostólica do Papa Francisco, publicada na sequência de dois Sínodos sobre a família. Documento sobre a beleza do amor, mas também sobre a compreensão, integração e possível recomposição daquelas que o deixaram fraturar. De facto, olhamos à volta e deparamos com muitas situações familiares. Mas que se poderiam sintetizar em duas grandes linhas: as que se sentem envolvidas num amor feliz e as que, em alguma circunstância, se sentiram oprimidas por um duro fardo. Quanto às primeiras, é ocasião de dar graças a Deus e jamais omitir os ingredientes que fazem o matrimónio alimentar-se como a chama a partir da cera. Os segundos, porque feridos e angustiados, reclamam a solidariedade devida a quem sofre. Nem todos compreenderam o esforço de acolhimento e integração do Papa Francisco destes que, muitas vezes com o coração a sangrar, intentaram a cura das chagas em nova relação familiar. Mas a Igreja podia voltar-lhes as costas? A Igreja é uma comunidade de solidariedade. Se não se aproxima dos seus membros, particularmente dos vulneráveis e fragilizados pela dor, fraqueza ou pecado, desconhece as atitudes de Jesus e torna-se egocêntrica e autorreferencial. Sem interesse para ninguém. Sabemos que muitos casais em situação não-canónica se aproveitaram da ideia simplória, transmitida pela comunicação social de massas, de que «agora é tudo igual ao litro». De que já não há distinção entre os que vivem em sacramento e os que o quebraram ou o recusaram. Desgraçadamente. Mas a culpa pode ser da própria Igreja que não foi suficientemente rápida e zelosa a aproximar-se dessas situações. Mais um motivo para se fazer agora o que devia ter sido feito antes. Porque a profunda comunhão com Deus através da experiência do seu amor misericordioso é um processo que dura… a vida inteira.
Primeira Comunhão

Na passada quinta-feira (16/6), dia em que se celebrou a Solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, a comunidade de S. Salvador de Ramalde viveu em ambiente festivo e de alegria a primeira comunhão de 90 crianças. No dia em que as crianças participaram plenamente na Eucaristia, alimentando-se pela primeira vez do Corpo e Sangue de Jesus Cristo, os seus pais, padrinhos, familiares e amigos encheram a Igreja Paroquial, testemunhando com a sua presença a importância que tem o Sacramento da Eucaristia na educação da fé das crianças e na vida de todos os fiéis. Os catequizandos participaram de maneira consciente e responsável em todas as partes da Eucaristia, nomeadamente no cortejo de entrada, nas leituras, na oração universal, na apresentação dos dons e na procissão de comunhão, contribuindo assim para a beleza da celebração. No momento próprio, 8 crianças, 4 meninas e 2 meninos, acompanhadas pelos seus pais e padrinhos receberam o Baptismo e a Crisma, sacramentos que os tornaram Filhos de Deus, membros da Igreja e Templos do Espírito Santo. Dando continuidade à celebração, chegou o momento esperado ansiosamente pelas crianças: a sua primeira experiência de encontro com Jesus Cristo. Finalmente, irão receber Jesus Cristo, um amigo especial, que muito os ama e quer ser seu companheiro inseparável e fiel na caminhada cristã agora iniciada. Que esta primeira comunhão, com a qual completaram a iniciação cristã, não seja entendida como o fim do percurso de vida cristã, mas o início de um caminho de amizade profunda e duradoura com Jesus Cristo. Continuem, por isso, a participar na Eucaristia, o único e verdadeiro alimento que, ao longo da vida, pode ajudar a manter viva a vossa fé. Desejamos a todos as maiores venturas.