Na dor, na fadiga e no perigo

Sofrer, suportar e afrontar são decisões duras apenas possíveis quando se cultiva a fortaleza. Uma virtude tão importante e decisiva no campo de batalha do mundo exterior, como na nossa casa ou, ainda mais, no nosso íntimo. Só quem é forte no seu coração, pode ter valor em sua casa e no mundo. A constância que resulta de uma fé firme é capaz de fazer milagres. À medida que vai revelando a sua existência, vai também alargando o seu poder de resistência a tudo o que nos quer meios mortos. O mal quer-nos submissos. O bem quer-nos livres. A constância é a firmeza do ânimo nos bons propósitos. É próprio da constância não variar, duvidar ou questionar, apesar das contradições que se apresentem ou dos trabalhos e desgraças que possam acontecer. A constância é fortaleza em ação continuada. O bem vence sempre que nos dispomos a combater o mal a cada dia, arrancando pela raiz cada vez que germina em algum ponto. Os heróis são também estes que compreendem que esta luta não termina. Há talvez mais heroísmo em resistir aos sofrimentos, desgostos e injustiças sem perder a confiança e o rumo do que em lutar para alcançar algo novo. A quem foram dadas as graças das virtudes que compõem a honra e delas ainda não se desfez, sabe que é tão nobre aquele que arrisca a sua vida como o que, com o mesmo ânimo, se dispõe a sofrer o que tiver de enfrentar. Uma grande parte das cicatrizes são como que condecorações se são sinal de uma batalha vencida e não de uma mágoa que ainda queremos que doa. Pode vencer o inimigo quem não se consegue vencer a si mesmo? Não cedas ao mal. Por mais que te tente. Não lhe cedas, porque resistir-lhe é vencê-lo. Se lhe cederes uma vez, perdoa-te. Se lhe cederes várias vezes, perdoa-te. Mas se algum dia chegares a fazer-te seu servo, perdeste-te. Deposita em ti a mesma confiança que depositaram aqueles que te sonharam, geraram e criaram. Na dor, na fadiga e no perigo, sê firme na fé. (© iMissio)
Exclusão- II

Voltemos ao tema da exclusão, agora sob o ponto de vista da pobreza. Deve-se ao Padre Wresinsky (1917-1988), nos anos sessenta, a primeira abordagem sócio-teológica a partir do interior desta realidade concreta. No seu seguimento, Jules Klanfer (1909-1967) cunhou o conceito de “exclusão social” para designar o fenómeno da pobreza extrema no interior dos países ricos. De facto, quando há privação dos bens necessários para as necessidades fundamentais da vida –alimentação, alojamento, roupa, acesso a cuidados básicos de saúde, instrução, cultura – a pessoa desliga-se dos restantes âmbitos sociais. Infelizmente, a noção pós-moderna de desenvolvimento passa pela indiferença para com o excluído: rejeitam-se obrigações entre indivíduos em detrimento do princípio contratualístico da compensação ou da troca comercial. Em linguagem simples: entende as relações de trabalho e comerciais como a fidelidade a um mero contrato, sem se importar de saber se os contraentes estão dotados das mesmas possibilidades ou se o poderoso não acaba por impor as suas condições ao faminto. Por causa disso, o Papa Francisco tem insistido na necessidade da contextualização da questão moral no âmbito da proximidade às periferias existenciais. Face a “uma economia de exclusão e de iniquidade” (EG 53) que conduz à “globalização da indiferença” (EG 54), impõe-se recuperar a noção de bem comum como específica atenção ao modo como a sociedade persegue finalidades compartilhadas por todos. O que supõe o compromisso solidário (cf. SRS 38) de ajudar o excluído a tornar-se protagonista da sua própria promoção. Estar ao lado daqueles cujas possibilidades de desenvolvimento integral são mais dificultadas supõe uma efetiva centralidade da pessoa no interior do sistema e a valorização do princípio do destino universal dos bens. Ou transformar a situação injusta mediante uma perspetiva emancipatória a ser desencadeada pela pessoa em causa e não menos pelo Estado. Mas como fazer que o excluído tome nas suas próprias mãos a tarefa da promoção e consequente inclusão social? Aqui reside o nó-górdio. Creio que só atitudes de proximidade e companheirismo social motivarão este processo. É preciso descer ao nível do excluído para o elevar. A exemplo de Jesus que encarna “por nós homens e para nossa salvação”.
Solenidade da Santíssima Trindade

Depois de terminado o tempo dedicado à celebração do Mistério Pascal, retomamos este domingo o Tempo Comum com a Solenidade da Santíssima Trindade. Nesta festa, somos convidados a contemplar a Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cujo modelo de amor, de perfeita unidade e de comunhão nos deve estimular e comprometer a viver da mesma forma com Deus e com os outros. A Santíssima Trindade é formada por três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que têm a mesma natureza, a mesma divindade, o mesmo poder e a mesma perfeição; é um Mistério de um só Deus em três pessoas distintas, consubstanciais e de igual glória. É um Mistério de difícil interpretação e compreensão através da razão humana. Por isso, o mais importante não será procurar decifrar e compreender tal Mistério, mas sim acreditar e vivê-lo em toda a sua dimensão. Como dizia Santo Agostinho, quando analisou a sua experiência sobre as relações entre fé e razão, é necessário crer antes de entender, pois a fé é uma preparação para o entendimento daquilo em que se acredita. Os cristãos não professam três deuses, mas um só Deus em três pessoas. É um Deus uno e trino, um Deus que se foi revelando de várias formas e comunicando a sua vida de amor e comunhão ao longo da História da Salvação. Revelou-se no Amor do Pai Criador, no Amor filial de Jesus Cristo, que morreu para redimir toda a criação e no Amor do Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, cuja presença e acção realiza a obra santificadora de todos os homens. A Santíssima Trindade está presente na vida da Igreja e marca a vida dos cristãos desde o seu início. Somos baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, professamos a nossa fé nas três pessoas da Santíssima Trindade, dirigimos as nossas orações ao Pai, por meio de Cristo, Nosso Senhor, na unidade no Espírito Santo, e rezamos frequentemente a oração em que damos glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como diz o Catecismo da Igreja Católica “o mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da nossa fé e da vida cristã. É o mistério do próprio Deus. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, e a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na “hierarquia das verdades da fé”. Toda a história da salvação não é senão a história dos caminhos e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, Se revela, Se reconcilia, e Se une aos homens que se afastam do pecado” A Palavra de Deus deste Domingo fala-nos de Deus Pai como Criador de todas as coisas e que tudo fez com sabedoria e amor (1ª Leitura), da obra de redenção realizada pelo Filho, Jesus Cristo, por quem fomos justificados e introduzidos numa nova relação com Deus (2ª Leitura), e do Espírito Santo, o “Espírito da verdade”, que introduzirá todos os crentes na compreensão plena da verdade e os ajudará a compreender o mistério da obra redentora de Cristo (Evangelho). SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE
Cuidado com o mito da eterna juventude, rugas são símbolo da vida

O Papa se inspirou na figura do ancião Nicodemos na catequese desta quarta-feira, dando continuidade ao ciclo sobre a velhice. Nicodemos é um dos chefes dos Judeus e está entre as pessoas idosas mais relevantes nos Evangelhos. No seu diálogo com o Mestre, manifesta-se o coração da Revelação de Jesus e de sua missão redentora: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16). Quando Jesus lhe diz que é preciso “nascer do Alto”, Nicodemos apresenta como objeção a velhice. Mas, à luz da palavra de Jesus em resposta a esta objeção, descobrimos que a velhice não é um obstáculo a este novo nascimento, e sim o tempo oportuno para entendê-lo. O “nascimento do Alto”, que nos permite entrar no reino de Deus, é uma nova geração no Espírito. O mito da eterna juventude Para o Pontífice, esta objeção é muito instrutiva, pois a nossa época e a nossa cultura mostram uma tendência preocupante para considerar o nascimento de um filho como uma simples questão de produção e reprodução biológica do ser humano e cultivam então o mito da juventude eterna como a obsessão – desesperada – da carne incorruptível. A velhice, prosseguiu o Papa, é desprezada porque traz a prova irrefutável do despedimento deste mito, que nos faria regressar ao ventre da mãe, para sermos eternamente jovens no corpo. Uma coisa é o bem-estar, disse , outra coisa é a alimentação do mito, com inúmeras cirurgias e tratamentos estéticos. O Papa citou uma frase da atriz Anna Magnani, que não queria que suas rugas fossem tocadas, já que havia levado uma vida inteira para tê-las. “É isto: as rugas são um símbolo da experiência, um símbolo da vida, um símbolo da maturidade, um símbolo do caminho percorrido. Não tocá-las para se tornar jovens, mas jovens no rosto: o que interessa é toda a personalidade, o que interessa é o coração, e o coração permanece com aquela juventude do vinho bom que quanto mais envelhece, melhor fica.” Os idosos são os mensageiros da ternura A vida em nossa carne mortal é uma belíssima obra inacabada, como algumas obras de arte que, apesar de incompletas, possuem um fascínio único. Porque a nossa vida aqui na terra é iniciação, e não consumação. A fé, que acolhe o anúncio evangélico do reino de Deus ao qual estamos destinados, nos torna capazes de ver os sinais de esperança nesta nova vida em Deus. A velhice é a condição na qual o milagre do “nascimento do alto” pode ser assimilado intimamente e tornar-se sinal de credibilidade para a humanidade. Nesta perspetiva, a velhice tem uma beleza única: caminhamos rumo ao Eterno. Ninguém pode voltar a entrar no ventre da mãe, nem sequer no seu substituto tecnológico e consumista. Isso seria triste, mesmo que fosse possível. O velho caminha para a frente, em direção ao destino, rumo ao céu de Deus. A velhice, por conseguinte, é um tempo especial para dissolver o futuro da ilusão tecnocrática de uma sobrevivência biológica e robótica, mas sobretudo porque se abre à ternura do útero criador e gerador de Deus. O Papa então destacou uma palavra: a ternura dos idosos, a ternura com a qual se relacionam com os netos. Estar ternura nos ajuda a compreender a ternura de Deus. “Deus é assim, sabe acariciar.” “Os idosos são os mensageiros do futuro, os mensageiros da ternura, os mensageiros da sabedoria de uma vida vivida. Vamos em frente e olhemos para os idosos.” (Vatican news)
Ama e serás eterno!

O medo nunca está nos perigos que nos assustam, está sempre e só em nós. É o medo que é perigoso. A consciência de que, por vezes, o medo é apenas um monstro interior que nos quer moribundos é já um golpe decisivo para o vencer e para vivermos melhor. Há medos bons, até porque o excesso de valentia é por vezes pior do que a cobardia, porque conduz a resultados ainda mais imprudentes e trágicos. Aqui, como em tudo, importa encontrar a virtude por entre os excessos. Todos sentimos medo, mas alguns de nós conseguem assumir uma espécie de coragem de existir que permite viver uma vida muito mais larga, sem demasiadas inquietações. Quem tem medo do sofrimento já está a sofrer. Se tens medo, vai ver. Aproxima-te e poderás verificar que a fonte de desassossego é, quase sempre, menor do que aquela que a tua imaginação havia criado. A ignorância é cúmplice do medo. Se tenho mesmo de sofrer, então mais vale que seja já. Por maior e mais concreto que seja o perigo que tens à frente, não deixes que o medo seja maior do que tu, não permitas que seja ele que guie os teus passos. Olha o medo nos olhos e vais vê-lo fugir de quem lhe pergunta quem é. Não tenhas medo de perder quem amas. Não o perderás, nunca. Entretanto, aproveita para o amares o melhor que puderes já neste mundo. Se não tiveres medo da vida, compreenderás o que é a morte. Não fujas de nada, ama. Não temas o ódio dos outros, tem, sim, esperança no seu amor. Quem ama é feliz. Por mais horrores que tenha de sofrer por causa disso, se o amor for verdadeiro, a sua alma fez-se feliz… e assim será, para sempre. (© iMissio)