Mediante convite do Bispo de Viana, senhor D. Emílio Sumbelelo, e acompanhado do senhor P. Samuel Guedes, concedeu-me Deus a graça de me familiarizar mais de perto com a espiritualidade dos cristãos de Angola, na grande peregrinação da Mamã Muxima, Mamã do Coração ou Senhora da Conceição de Muxima. Foi muito enriquecedor esse contacto. Porque há valores e atitudes que são válidos em qualquer tempo ou contexto, gostava de assinalar:
- O espírito de sacrifício dos crentes que, em zona onde não há qualquer estrutura hoteleira ou comércio organizado, dormiram vários dias em tendas e comeram do pouco que levaram.
- A participação nas catequeses coletivas, porventura, um dos maiores meios de evangelização de muitas dessas pessoas.
- A boa harmonia entre a dimensão festiva da celebração, por exemplo, no ofertório, e o enorme silêncio e concentração nos outros momentos, mormente na consagração.
- A autêntica partilha de bens, à maneira da primitiva comunidade de Jerusalém. Ao longo de mais de vinte minutos, centenas e centenas de ofertantes passaram em frente do altar, sem sequer pararem, para apresentaram o que tinham: frutas, bolachas, águas engarrafadas, sacos de arroz, bancos ou cadeiras, sementes, objetos de decoração, etc., etc. Estas ofertas encheram dois grandes camiões. Como é belo os pobres a cuidar dos outros pobres!
- Neste clima, compreendi melhor a alegria dos missionários, portugueses ou de outras nacionalidades. Entendo agora a razão de muitos quererem lá permanecer para sempre.
- Chamou-me a atenção o respeito que o povo de Deus dedica a quem o serve: aos catequistas, sacerdotes e, obviamente, também aos bispos. Não veem a Igreja como fornecedora de serviços, mas como estrutura de comunhão e de ajuda.
- Vi um clero nativo muito jovem e os seminários cheios. E interroguei-me: não será este contexto de uma fé vivida, celebrada e tornada caridade que entusiasma os jovens?
- Muito gostaria que, em regime de completo voluntariado, os nossos seminaristas, e especialmente os Diáconos, bem como qualquer outro fiel leigo, realizassem, num destes países, o seu estágio pastoral. Seria muito enriquecedor.
- Fora do contexto da peregrinação, apercebi-me do relevo que as Paróquias concedem às (porventura, rudimentares) estruturas de saúde, quase sempre dirigidas por Religiosas, e às “cozinhas coletivas”, semelhante às nossas «portas solidárias» ou antiga Sopa dos Pobres. É isto que credita a Igreja.
- A nível da evangelização, aposta-se muito na rádio. A maior e mais ouvida é a Rádio Maria e a Rádio Eclésia. Mas existem muitas outras, de âmbito local. Sinal de uma «Igreja em saída», de uma Igreja que não perdeu o contacto com o seu povo.
Agradeço às pessoas com quem contactamos os dons da simpatia e da alegria com que nos brindaram. Um agradecimento especial aos senhores D. Emílio Sumbelelo, Bispo de Viana, e a D. Filomeno Vieira Dias, Arcebispo de Luanda.
+ Manuel, Bispo do Porto