Com a celebração da Festa do Baptismo do Senhor encerra-se o ciclo festivo do Natal, tempo em que celebramos jubilosamente a presença de um Deus que se fez homem e veio habitar entre nós.
A Palavra de Deus deste Domingo fala-nos de Jesus, o Servo de Deus, o Messias, e do Seu baptismo no rio Jordão, a Sua primeira manifestação pública na idade adulta, pela qual dá início ao seu Ministério, e convida-nos a reavivar a nossa condição de baptizados, pela qual nos tornamos Filhos de Deus, membros da Igreja e testemunhas da ressurreição de Cristo.
I LEITURA (Is 42, 1-4.6-7)
A primeira Leitura, uma passagem do primeiro dos quatro “Cânticos do Servo” que fazem parte do Deutero-Isaías, relata-nos a mensagem de esperança dirigida aos exilados, na qual o profeta anuncia que um Servo do Senhor, por Ele eleito e em quem repousará o seu Espírito, será enviado para reacender a aliança com o povo escolhido e ser uma luz libertadora para todas as nações da terra. A sua acção não se destina apenas a cuidar do povo escolhido, mas de todos os povos.
A missão do servo será a de ser luz de todas as nações, para que sejam eliminadas todas as formas de trevas que impossibilitam os povos de caminharem no sentido de alcançarem a liberdade e a paz, e possa ser edificado um mundo novo, onde impere a justiça.
A figura singular do servo anunciada pelo profeta tem o seu cumprimento na pessoa de Jesus Cristo, que pela sua doação até à entrega da própria vida, veio redimir toda a humanidade, concretizando, dessa forma, o projecto de libertação e salvação pensado por Deus.
II LEITURA (Actos 10, 34-38)
A segunda Leitura, retirada dos Actos do Apóstolos, relata-nos o discurso de Pedro em casa de Cornélio, um oficial romano que, por não ser judeu, não estava incluído no grupo daqueles que poderiam alcançar a salvação.
No essencial, Pedro afirma que a promessa de salvação oferecida por Deus é universal e destina-se a todos os homens, independentemente da nacionalidade, da raça ou da condição social, pois Deus não faz acepção de pessoas. Ela destina-se a todos aqueles que vivem de forma a agradar a Deus, seguindo o exemplo de Jesus Cristo, o ungido pelo Espírito Santo que “passou pelo mundo fazendo o bem…porque Deus estava com Ele”.
O encontro de Pedro com Cornélio tem um grande significado para a Igreja de todos os tempos, uma vez que, por meio dele, é implicitamente manifestada a vontade de Deus de que sejam formadas comunidades cristãs abertas e inclusivas.
Hoje, os cristãos são chamados anunciar Jesus, a dar testemunho da salvação que, por Ele, nos foi oferecida por Deus, e a participar na construção de comunidades em que todos sejam acolhidos e integrados.
EVANGELHO (Lc 3,15-16.21-22)
No Evangelho, S. Lucas relata-nos o Baptismo do Senhor, realizado por João Baptista nas águas do Rio Jordão, acontecimento que marca o início da vida pública de Jesus.
Na primeira parte do texto evangélico, João Baptista anuncia a chegada de uma pessoa que terá uma missão mais importante do que a sua, diante da qual ele não será digno de se inclinar para desapertar as suas sandálias.
E para justificar que tal pessoa era maior do que ele, João refere a grande diferença entre o baptismo praticado por ele e o que será feito por aquele que chegará: enquanto o que praticava era realizado com água, o novo baptismo será com o Espírito Santo e com fogo.
Na segunda parte, o evangelista refere que Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi baptizado por João.
Como o baptismo de João era um baptismo de arrependimento para remissão dos pecados, o facto de Jesus ter sido baptizado pode não ser facilmente compreendido. De facto, Jesus não tem pecado (Ele tornou-se igual a nós em tudo menos no pecado) mas, apesar da sua condição, quis receber o baptismo, não apenas para cumprir a vontade do Pai, mas também para se colocar humildemente entre os pecadores e demonstrar a sua solidariedade com todos aqueles que Ele veio redimir.
No momento do baptismo há uma manifestação da Trindade (a voz do Pai, o Espírito, simbolizado em forma de pomba, e a presença do próprio Filho) e uma revelação, de forma clara, da missão e da identidade de Jesus, quando se ouve uma voz: «Tu és o meu filho muito amado, em Ti pus toda a minha complacência».
No Baptismo que recebeu, Jesus manifesta-Se como sendo Aquele que o profeta anunciara na primeira leitura (o Servo do Senhor, por Ele eleito e a quem Ele protege, que será enviado aos homens para os libertar) e, ao mesmo tempo, o Filho muito amado, sobre quem repousa o Espírito de Deus, que é enviado para anunciar o Reino de Deus e ser portador da Boa Nova da salvação para todos os homens.
Também nós, os cristãos, pelo baptismo recebemos o Espírito Santo, somos configurados com Cristo, tornamo-nos filhos de Deus e somos incorporados na Igreja, condições que nos comprometem a dar testemunho de Jesus Cristo e a assumir a missão de anunciar a Boa Nova.