No II Domingo do Tempo Comum, a Palavra de Deus convida-nos a reflectir sobre algumas das formas como Deus revela o Seu amor.
I LEITURA (Is. 62, 1-5)
A primeira Leitura é retirada da terceira parte do Livro do profeta Isaías, também designada por terceiro Isaías ou trito-Isaías. Esta passagem do livro situa-se no tempo em que o povo já regressou a Jerusalém, depois de ter passado cerca 50 anos no exílio da Babilónia. O Templo tinha sido destruído e a cidade estava completamente em ruínas, o que provocou no povo o sentimento de que Deus o tinha abandonado.
No meio do desânimo e sofrimento surge a voz do profeta que, usando a imagem do amor esponsal (Deus é o esposo que ama a sua esposa, o seu povo) para mostrar a relação de Deus com o seu povo, anuncia que Jerusalém não mais será chamada de “abandonada”, nem será devastada; ela tornar-se-á uma terra favorita do Senhor e será por Ele “desposada”.
Esta mensagem de esperança do profeta aplica-se também a todos nós que, muitas vezes, por andarmos tristes, desanimados e com a fé abalada, esquecemos que Deus nos ama, está connosco e nunca nos abandona.
II LEITURA (1 Cor 12, 4-11)
Na segunda Leitura, S. Paulo dirige-se à comunidade de Corinto, uma comunidade em que existiam muitas divisões, para lhes lembrar que os dons que recebemos de Deus não são escolhidos por nós, mas distribuídos de acordo com a vontade de Deus e a missão que Ele pretende confiar a cada um.
Paulo refere que “há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo; há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo; há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que realiza tudo em todos”.
Todos os “carismas” são dons gratuitos de Deus e todos eles são necessários e importantes se forem colocados ao serviço do bem comum e nunca em benefício próprio.
De facto, Deus dá a cada um de nós dons específicos para que, animados pela força do Espírito Santo, os coloquemos ao serviço de todos, dando exemplo ao mundo de que as comunidades cristãs são lugares onde, apesar das diferenças, prevalece a comunhão e a fraternidade.
EVANGELHO (Jo 2, 1-11)
No Evangelho, S. João fala-nos das bodas de Caná, onde Jesus, a pedido da sua Mãe, faz o seu primeiro milagre, iniciando assim o seu ministério público, a sua missão de dar a conhecer o amor de Deus.
As bodas de Caná é um episódio exclusivo do Evangelho de S. João, através do qual o evangelista dá início à revelação da identidade e missão de Jesus.
Para melhor compreender este episódio, deve considerar-se que a transformação da água em vinho no contexto de um casamento deve ser entendida como uma acção simbólica, cujo sentido aponta para uma realidade bem diferente do acontecimento ocorrido. Aquela transformação é apenas a forma de fazer entender Jesus, a sua missão, o significado da sua hora e a acção de Maria na vida do Filho.
Como é característico no Evangelho de S. João, a narrativa das bodas de Caná também está cheia de simbolismo e de significado.
Considerando-se que, no Antigo Testamento, o casamento é o símbolo da aliança de Deus com o seu povo e o vinho o símbolo do amor entre Deus e o seu povo, pode-se concluir que o evangelista pretende transmitir que a antiga aliança é incapaz de oferecer a alegria e o encontro amoroso entre Deus e o seu povo. Esta realidade está bem patente nas seis talhas de pedra destinadas à purificação que se encontravam vazias. Além de na Bíblia o número 6 ser o número imperfeito, a pedra evoca os ritos e exigências da antiga aliança e o facto de estarem vazias assegura que os ritos dessa aliança já não servem para aproximar o homem de Deus.
A transformação da água em vinho é, por isso, um sinal que aponta para os bens trazidos por Cristo e para o estabelecimento da uma nova e eterna Aliança entre Deus e os homens, que se realizará em plenitude no momento da crucificação e morte de Jesus Cristo.
Destaca-se neste texto a acção de Maria que, atenta às necessidades, as transmite ao Filho e, assumindo o papel de mediadora, ordena aos serventes: “fazei o que Ele vos disser”.
Hoje, Maria também no diz para colaborar com o seu Filho e sermos bons serventes, ou seja, escutarmos e acolhermos a palavra de Jesus e colocá-la em prática.