A Palavra de Deus do VIII Domingo do Tempo Comum convida-nos a seguir o exemplo e os ensinamentos de Jesus.
I LEITURA (Sir 27, 5-8)
A primeira Leitura, retirada do Livro de Ben-Sirá, também designado por Eclesiástico, um livro da literatura sapiencial de Israel que surgiu no tempo em que a expansão da cultura grega colocava em causa os valores morais e a tradição religiosa do povo judaico.
Com o objectivo de fazer o povo reflectir e não se deixar influenciar pela cultura helénica, o autor recorre a três imagens relacionadas com a vida quotidiana (crivo/impurezas, forno/prova a qualidade dos vasos e fruto/qualidade do campo) para transmitir que é através da palavra que o homem revela os seus defeitos, as suas qualidades e os seus sentimentos.
É necessário deixar falar as pessoas para saber o que têm em seus corações, doutra forma, corremos o risco de as avaliar pelas aparências e não pela sua sabedoria de vida.
Que este pensamento sapiencial, como muitos outros incluídos neste livro (recomendamos a leitura deste livro no tempo da Quaresma), nos ajudem a olhar de maneira diferente para alguns aspectos práticos da vida, para assim vivermos com a sabedoria que vem de Deus e não a idealizada pelo homem.
II LEITURA (1 Cor 15, 54-58)
Na segunda leitura, conclui-se a catequese sobre a ressurreição, o que é um facto irrefutável para Paulo. Não é importante saber como será a nosso “estado” após a ressurreição, mas sim o que ela representa. A ressurreição de Cristo é a vitória sobre a morte e, consequentemente, a garantia de que todos os crentes também ressuscitarão, pois, a morte, como os seus aliados, jamais terá poder sobre as pessoas, porque a vitória de Cristo será total e definitiva.
Por fim, Paulo exorta a comunidade de Corinto e as comunidades de todos os tempos a não contemplarem as maravilhas que os esperam, mas a “permanecer firmes e inabaláveis, cada vez mais diligentes na obra do Senhor”, porque o seu trabalho e os seus esforços na construção de um mundo de amor, justiça e paz não serão inúteis.
Evangelho (Lc 6, 39-45)
No Evangelho, composto pela parte final do “discurso da planície”, Jesus, através de uma passagem parabólica, transmite aos seus discípulos alguns ensinamentos, pelos quais os convida a viver com sabedoria: o cego que não pode guiar a outro cego; o discípulo que não é maior que seu mestre; o argueiro que está na vista do outro e a trave no tua; não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto; cada árvore se conhece pelos seus frutos ; figos que não nascem em espinheiros, nem uvas de plantas espinhosas; por fim, o homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem; e o homem mau, da sua maldade tira o mal.
Numa primeira parte, Jesus pretende alertar os seus discípulos para o perigo de eles próprios perderem a luz do Evangelho e actuarem como guias cegos. Eles têm de conhecer bem o caminho que se propõem indicar aos outros e a maneira de os conduzir a uma direção certa, doutra forma, não conseguirão ser verdadeiros guias e ambos ficarão pelo caminho antes de atingirem a meta. Os discípulos não podem agir como falsos mestres ou como agiram, outrora, os falsos profetas.Com o argueiro e a trave, Jesus chama à atenção para a necessidade de, nas relações fraternas, não fazermos juízos errados e não condenarmos hipocritamente os outros pelos seus pequenos defeitos, quando nada fazemos para reconhecer os grandes defeitos que existem em nós.
Na segunda parte, Jesus fala-nos da árvore boa que dá bons frutos e a má que dá maus frutos, e do coração do homem, lugar onde se produzem os bons e maus pensamentos, as boas e más palavras e as boas e más acções, para transmitir que o critério que distingue os verdadeiros discípulos dos falsos são as palavras e as obras. Assim como um bom fruto é devido à qualidade da árvore, da mesma maneira as obras do homem são devidas à bondade ou maldade existente no seu coração.
Este texto evangélico convida-nos a reflectir sobre a forma como seguimos os ensinamentos de Jesus e coloca-nos as seguintes questões:
Será que não me deixo influenciar por falsos guias, que me apontam caminhos errados?
Será que tenho o coração cheio dos ensinamentos de Jesus e os testemunho com palavras e acções?
Será que não olho para os meus próprios defeitos e estou sempre pronto a julgar e condenar os outros sem qualquer condescendência?