Vi, recentemente, a tão falada série do momento: “Adolescência”. É uma séria tremenda, que nos desinstala completamente enquanto seres humanos e enquanto pessoas integrantes de uma sociedade. Compreendi que construímos, para as novas e atuais gerações, uma sociedade profundamente doente. Deixámo-nos enredar em tudo o que não é humano e vamo-nos fascinando com os meandros mais ou menos assustadores da inteligência artificial. O problema é que nada do que possa ser considerado “artificial” nos vai tornar mais humanos. Muito pelo contrário. Temos vindo a desumanizar-nos, a afastar-nos da nossa raiz e a celebrar tudo menos o tempo de qualidade que devíamos passar uns com os outros.
Escondemo-nos atrás de mensagens, e-mails intermináveis e em sequência, mas não sabemos se quem está ao nosso lado se sente bem, mal ou profundamente triste. Não sabemos, simplesmente. Mas devíamos, pelo menos, querer saber. Tentar dirigir a atenção para o que mora atrás do olhar alheio.
Claro que, com a correria dos dias e o escorrer do tempo, nos afastámos também das gerações mais jovens. Estes seres ainda pequenos, mas já a querer ser crescidos, vão passando por dificuldades emocionais absurdas, bullying, ciberbullying, body shaming, notas, prazos, colegas mais ou menos gozões ou mais ou menos amigos. Aqui, note-se, roçamos apenas a superfície. Depois, e mais profundamente, teremos o iceberg de tudo o que vivem, sentem, compreendem ou não compreendem.
A série que referi inicialmente relata-nos um caso, baseado em factos verídicos, de um adolescente de treze anos que tira a vida de uma colega da mesma idade. Este é o resultado (ou a consequência) visível, e densamente trágica, de uma espiral de silêncios, violência, vergonha e uma profunda falta de compreensão e de amor.
Uma das perguntas que o adolescente faz à psicóloga que o entrevista na instituição onde fica preso é: “gostas de mim?”
Quantas crianças, ou adolescentes, terão (hoje) a mesma dúvida? Será que alguém gosta deles? Será que alguém virá para os salvar? Será que os problemas (que parecem tão grandes) se vão resolver?
Recomendo a série a todos os pais, professores, educadores e alunos. Para que todos possamos aprender a partir do silêncio que fica quando há gritos para chorar, emoções para serem vistas e mãos sozinhas à espera de encontrar uma outra que toque a(s) sua(s).
(© iMissio)