Não esperes por ti. Decide-te.

Há quem julgue que só é livre quem não tem destino e vagueia sem critério. Marcando e desmarcando compromissos como se fossem algo insignificante ou contrário à liberdade. Aquilo que és e aquilo que não és (mas podes ser) é da tua inteira responsabilidade. Não faz sentido que esperes que alguém faça o que de bom podes ser tu a fazer. Isso é uma forma de preguiça e comodismo que não te desresponsabiliza. Ser responsável é ser senhor das respostas que justificam as escolhas que se fez. Ainda que seja um “não sei”, desde que honesto. Como é que decides? Tens um critério? Tens um sentido e um objetivo? Há algo te chama ou estás só a fugir? Segues um determinado rumo ou qualquer um te serve? A tua vida é uma aventura ou uma desventura? Recolhe-te por algum tempo, concentra-te no que é importante, esquecendo, por um dia ou dois, o que é urgente. Desabafa contigo mesmo até te cansares, depois escuta-te com atenção, mas não esperes respostas de imediato. Por vezes, é mesmo importante descansar primeiro. Confia. És o autor da tua vida e ainda acumulas o papel de protagonista com o de antagonista. Mais, serás sempre o único espectador de todos os atos da tua existência. Não esperes por ti, faz tudo o que está ao teu alcance para seres o que queres ser. (José Luís Nunes Martins)
A Quaresma não é o que tu pensas!

A Quaresma não é o que tu pensas. A Quaresma não é tempo de medir pecados, nem de fazer deles uma eterna lista. E é, muito menos, tempo de tristeza e de andar de cabeça baixa. É tempo de descoberta. De uma descoberta em caminho. De uma descoberta de ti e de Deus no outro. A Quaresma não é o que tu pensas. Não é tempo de comer peixe que não gostas, nem de sacrifícios à vista de todos. Não é uma rotina dolorosa e pesada. A Quaresma é tempo de jejuns que te convidam à fome e à sede de quereres ser muito mais. É momento de penitências que te relembram do quanto podes amar e do quanto és amado. É altura de esmolas que te levem ao encontro do outro e que te façam permanecer junto dele durante todo o ano. A Quaresma não é o que tu pensas. Não é só para menin@s bonit@s. É um caminhar íntimo e proposto a todos. Pedindo-nos que escutemos os gritos dos nossos silêncios e as batidas dos anseios do nosso coração. É tempo de oração sincera e humilde sem as cobranças e os pedidos de todos os dias. A Quaresma não é o que tu pensas. É um tempo onde podes recordar uma história que não foi, em momento algum, um conto de fadas. É um período onde as Eucaristias e os seus rituais não te devem esvaziar, mas sim encher-te de tremenda humanidade levando-te à aceitação de todos. É momento para que o amor te fale de como se vence na vida e de como a morte se deixou derreter aos seus pés. A Quaresma não é o que tu pensas. A Quaresma é tempo novo, porque te possibilita nasceres de novo. É tempo que te renasce abrindo-te o olhar para a contemplAção. Se hoje pretendes que se faça Quaresma nas tuas cinzas, pergunta-te confiadamente: quantas vezes deixaste que os outros descobrissem O Amor em ti? (© iMissio, 2020)
No “deserto” da Quaresma, fecha a televisão e abre a Bíblia…

Iniciamos hoje o caminho quaresmal, caminho de quarenta dias para a Páscoa, para o coração do ano litúrgico e da fé. É um caminho que segue o de Jesus, que nos inícios do seu ministério se retirou durante quarenta dias em oração e jejum, tentado pelo diabo, no deserto. É precisamente do significado espiritual do deserto que gostaria de falar-vos hoje. (…) Imaginemos estar num deserto: A primeira sensação seria a de nos encontrarmos envolvidos por um grande silêncio: nenhum rumor, à exceção do vento e da nossa respiração. Pois bem, o deserto é o lugar do afastamento da balbúrdia que nos rodeia. [O deserto] é ausência de palavras para dar espaço a uma outra Palavra, a Palavra de Deus, que como brisa ligeira nos acaricia o coração. O deserto é o lugar da Palavra, com maiúscula. Na Bíblia, com efeito, o Senhor gosta de falar-nos no deserto. No deserto entrega a Moisés as “dez palavras”, os dez mandamentos. E quando o povo se afasta dele, tornando-se como uma esposa infiel, Deus diz: «Eis que a conduzirei ao deserto e falarei ao seu coração. Ali me responderá, como nos dias da sua juventude» (…). Seguimos mil coisas que parecem necessárias, e na realidade não o são. Quanto nos faria bem libertarmo-nos de tantas realidades supérfluas, para redescobrir aquilo que conta, para reencontrar os rostos de quem está ao nosso lado No deserto reencontramos a intimidade com Deus, o amor do Senhor. Jesus gostava de retirar-se diariamente para lugares desertos para orar. Ensinou-nos como procurar o Pai, que nos fala no silêncio. (…) A Quaresma é o tempo propício para dar espaço à Palavra de Deus. É o tempo para apagar a televisão e abrir a Bíblia. É o tempo para nos desprendermos do telemóvel e ligarmo-nos ao Evangelho. (…) É o tempo para renunciar a palavras inúteis, tagarelice, boatos, mexericos, e dizer “Tu” ao Senhor. É o tempo para dedicar-se a uma sã ecologia do coração. Fazer uma limpeza. Vivemos num ambiente envenenado por demasiada violência verbal, por muitas palavras ofensivas e nocivas, que a internet amplifica (…). Estamos submersos em palavras vazias, de publicidade, de mensagens enganadoras. Estamos habituados a ouvir de tudo sobre todos, e arriscamo-nos a deslizar para uma mundanidade que atrofia o coração (…). É-nos difícil distinguir a voz do Senhor que nos fala, a voz da consciência, do bem. Jesus, chamando-nos ao deserto, convida-nos a prestar atenção àquilo que conta (…). Com a voz do profeta Isaías, Deus fez esta promessa: «Eis que Eu faço uma coisa nova, abrirei no deserto um caminho». No deserto abre-se o caminho que nos conduz da morte à vida Ao diabo que o tentava, responde: «Não só de pão viverá o homem, mas de cada palavra que sai da boca de Deus». Como o pão, mais do que o pão, é-nos precisa a Palavra de Deus, precisamos de falar com Deus: precisamos de orar. Porque só diante de Deus vêm à luz as inclinações do coração e caem as duplicidades da alma. Eis o deserto, lugar de vida, não de morte, porque dialogar no silêncio com o Senhor volta a dar-nos vida. Experimentemos de novo pensar num deserto. O deserto é o lugar do essencial, como já foi dito. Olhemos para as nossas vidas: quantas coisas inúteis nos rodeiam. Seguimos mil coisas que parecem necessárias, e na realidade não o são. Quanto nos faria bem libertarmo-nos de tantas realidades supérfluas, para redescobrir aquilo que conta, para reencontrar os rostos de quem está ao nosso lado. Também sobre isto Jesus dá-nos o exemplo, jejuando. Jejuar é saber renunciar às coisas vãs, ao supérfluo, para ir ao essencial. (…) É procurar a beleza de uma vida mais simples. O deserto, por fim, é o lugar da solidão. Também hoje, próximo de nós, há muitos desertos. (…) São as pessoas sós e abandonadas. Quantos pobres e idosos estão perto de nós e vivem no silêncio, sem fazer clamor, marginalizados e descartados. Falar deles não dá audiências. Mas o deserto conduz-nos a eles, a quantos, mandados calar, pedem em silêncio a nossa ajuda. (…) O caminho no deserto quaresmal é um caminho de caridade para quem está mais fraco. Oração, jejum, obras de misericórdia: eis o caminho no deserto quaresmal. Queridos irmãos e irmãs, com a voz do profeta Isaías, Deus fez esta promessa: «Eis que Eu faço uma coisa nova, abrirei no deserto um caminho». No deserto abre-se o caminho que nos conduz da morte à vida. Entremos no deserto com Jesus, dele sairemos saboreando a Páscoa, o poder do amor de Deus que renova a vida. Acontecerá a nós como naqueles desertos que na primavera florescem, fazendo germinar inesperadamente, “do nada”, rebentos e plantas. Coragem, sigamos Jesus no deserto: com Ele, os nossos desertos florirão. (Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)
Quem ama não desvia o olhar!

A vida de cada um de nós não é composta apenas de tranquilidade e alegrias, mas também de muitas preocupações e tristezas. O sofrimento faz parte da existência. Importa saber aceitá-lo como é e, partindo daí, chegar a combatê-lo de forma tão forte e eficaz quanto possível. Como? Com amor. É muito comum que o sofrimento de alguém faça com que outros o ignorem, como se se tivesse tornado invisível. Não querem ver, não querem pensar nisso, menos ainda sentir a dor do outro. Quem ama não desvia o olhar. Quem ama está presente, é presente. Fica, não importam as circunstâncias. Nada o afasta daquele lugar que escolheu. Ali, ao lado de quem ama. É difícil olhar para quem sofre, sim. É ainda mais difícil sofrer e não haver sequer quem olhe para aquele a quem a desgraça abraçou. Que tipo de amor é esse que não luta contra o mal? Que egoísmo é esse que faz desviar o olhar do sofrimento? Sim, é contagioso, mas a sua partilha é uma arma potente e pode ser o princípio do seu fim. Por mais absurdo que seja, o sofrimento também une e engrandece. Porque nos afastamos dos que estão mais frágeis? Não somos nós também frágeis? O silêncio da solidão é um grito quase insuportável. Nunca o ouviste em ti? A existência também é sofrimento. Sofrer não é morrer, é viver e querer viver. Quem não ama, não sofre. Quem não sofre, não vive. Quem não vive, o que está aqui a fazer? A dor pode despertar uma vontade que faz dos fracos fortes. Se houver quem não desvie o olhar. (José Luís Nunes Martins)
Deus (só) ama!

Deus ama. E quando achamos que Ele nada faz, Ele continua a amar. Para além de todos os nossos limites. Para além de tudo aquilo que achamos que somos merecedores. Para além de tudo aquilo que o mundo idealiza como deve ser o amor. Deus ama. Ama porque é a única coisa que sabe fazer, mas fá-lo ao extremo. Ao extremo de tornar toda a Sua vida em amor. Sem lamechices. Sem se focar somente em coisinhas bonitas. Deus ama por inteiro e a prova disso é que pegando nos nossos pedaços despedaçados convida-nos a sermos inteiros na Sua presença. Deus ama. E por isso continua, ainda nos dias de hoje, nas bermas das nossas vidas, à espera dos Seus filhos e filhas. Alargando-Se por completo com os Seus (a)braços de Pai e com as Suas entranhas de mãe. Deus ama. E vai fazendo de tudo com o Seu amor. De tudo mesmo! O amor não resolve problemas, nem questões. O amor está perante os problemas e diante de todas as questões. Está em presença verdadeira que não foge quando os pecados nos cercam. Está em presença verdadeira que não foge quando O duvidamos ou O negamos. O amor está mesmo quando achamos que o fim nos foi dado. Deus ama. Ama-nos perfeitamente diante de todas as nossas imperfeições. E não deixará de nos amar por muito que nos refugiemos na escuridão do nosso existir. Até mesmo aí Ele continuará a amar. Buscando. Perfurando. E radiando a Luz capaz de nos encontrar em qualquer parte ou momento. Deus ama. Consegues senti-Lo? Deus só ama e não deixes que te façam duvidar disso! Hoje, centra-te em toda a tua vida e abrindo-te a esta novidade, pergunta-te demoradamente: quantas vezes duvidaste do Seu amor por Ti? E porque o fizeste? (© iMissio, 2020.)