Imaginar

E se pudesses concretizar tudo o que imaginas? Um exemplo encontras na impressão 3D. Podemos não conseguir fazer tudo, mas fazemos muito mais do que poderíamos imaginar há alguns anos. Pensas que o desafio maior está no modo de concretizar aquilo que imaginas, mas e se te dissesse que talvez não esteja aí? A impressão que tenho é a de que o maior desafio à imaginação é mesmo imaginar. Vivemos no mundo da gratificação instantânea e do consumo exacerbado. Compramos o que queremos, quando queremos, onde quer que estejamos. Se algo se estraga, não se arranja, compra-se um novo. E não porque não seja caro, mas barato. Porém, o que é barato sai caro porque em vez de imaginarmos uma solução para reparar o estragado, acabamos por não usar ou treinar sequer a nossa imaginação. Como gostaria que 2020 fosse um ano em que mais do que darmos largas à imaginação, déssemos, antes de mais, espaço e tempo para imaginar. Se algum dia conseguimos descobrir como voar foi graças à imaginação. Ou se conectamos com alguém do outro lado do mundo num ápice foi porque imaginámos e concretizámos. Disse Fernando Pessoa que «Deus quer, o homem sonha e a obra nasce», mas se o homem deixa de imaginar, os seus sonhos acabam por ser apenas sobre o que conhece porque nada o inspira. Compra e pronto. O melhor modo que desenvolver a imaginação é criar com as próprias mãos, arranjar o que parece não ter arranjo, aprender o que não se sabe, arriscar desenhar (ainda que mal), pintar (ainda que fique tudo sujo), libertar o sentido criativo de um corpo-mente-espírito que se sente criado para amar até ao infinito. Sim, a imaginação não tem limites porque vai para além dos limites. Phil Hansen é um artista que ao crescer começou a ter problemas com as mãos que não paravam de tremer. O seu sonho de desenhar parecia desvanecer-se até um um médico lhe – «abrace o tremer» – e o que seria uma limitação foi o nascer de um novo e fabuloso modo de desenhar. O único limite à imaginação é a incapacidade de abraçar a vulnerabilidade, fonte dos maiores actos de coragem. Pega num lápis. Começa por um traço, uma palavra e deixa a mão fluir. (© iMissio, 2020)

“A morte é sempre uma coisa nova”

Esta frase foi-me dita em forma de provérbio por uma professora na faculdade. Sempre que terminava as suas aulas, lia-nos uma frase. Não era uma frase qualquer. Eram palavras que se juntavam para nos dizer verdades importantes. Hoje, escolho, exactamente, um desses pensamentos: «a morte é sempre uma coisa nova». Como é que alguém escolhe escrever sobre a morte na primeira semana do ano? É para chatear? É para lembrar que a vida não é (ou não pode ser) assim tão boa? É para deixar as pessoas tristes? Não. Não é. Na verdade, a morte tem uma costela de toupeira e, por isso, pouco lhe importa se estamos na primeira semana do ano, na última, na penúltima ou exactamente a meio do calendário. A morte não tem olhos nem quer ver. Se visse, talvez não escolhesse tão mal. Dizemos nós. Que achamos ser melhores juízes do que a própria vida. Há qualquer coisa na morte, por muito que a queiramos varrer para debaixo de todos os tapetes, que nos lembra da vida. Quando sabemos da partida de alguém mais ou menos querido, mais ou menos mediático, há qualquer coisa dentro de nós que se apaga, mas também há qualquer coisa que se acende. O que se acende é bastante mais importante. Acende-se uma luz que nos grita que é preciso estar atento. É preciso tentar viver muito (e bem!) antes que a morte venha, também, para nos apanhar! A morte é sempre uma coisa nova. E não deve ser encarada com a falta de respeito que às vezes vemos. A morte é sempre difícil para alguém, ainda que esteja longe de mim e da minha porta. É sempre difícil de entender, de aceitar, de guardar dentro do coração. Na realidade, e quando já nos é permitido estarmos distantes o suficiente, sabemos que a morte pode levar tudo, mas não conseguirá nunca levar as memórias e o que se sente pela pessoa que parte. Enquanto andamos por aqui, vale a pena cuidar de quem cá anda também. Afinal, só o amor pode vencer todas as mortes. (© iMissio, 2020)

Como pretendes chegar ao topo?

Há cada vez mais gente incapaz de lutar pelo que sonha. Passam o tempo a desejar, mas desistem pouco tempo depois de começar. Queixam-se muito e de tudo… cansaço, desalento, insucesso possível, demoras do mundo, expectativas, mentiras, guerras dentro e fora de si… Deixam a vida andar como se nada tivessem a ver com o seu curso. Tornam-se espectadores que apenas sabem protestar. A pouco e pouco, tornam-se incapazes de bondade, fazendo de si mesmos, pessoas amargas e más. Julgam que merecem o topo. Não pelo que fazem, mas tão-só pelo que são, como se tivessem nascido diferentes dos outros, . Não lutam nada para conquistar o ponto mais alto da montanha. O mundo deve conceder-lhes isso, levando-os até lá em ombros, ao colo ou de helicóptero. Estas vidas são de uma solidão crescente. Afastam-se das outras com um sentimento de profunda injustiça. Como se o mundo inteiro conspirasse contra elas. Outros há que não desistem, teimam em começar e recomeçar sempre. Sabem que hoje é dia de começar, de lutar, de se emendar e aperfeiçoar. Hoje é dia de esperança, apesar da vontade de chorar que por vezes ataca. O caminho para o topo implica esforço, sofrimento e sacrifícios. Sacrificamo-nos sempre que renunciamos ao nosso bem em favor do bem de outros… isso é o que nos exige o amor. O egoísmo e o medo hão de sempre puxar-nos para baixo. Só o amor é força e caminho. Porquê e para quê. Ninguém chega ao céu sem um coração maltratado de tanto amar! (José Luís Nunes Martins)

Encontraremos Deus em lugar imprevisto.

A experiência espiritual supõe sempre uma peregrinação por terras desconhecidas, uma viagem por montes e vales nunca imaginados, uma aventura que exige fortaleza para enfrentar o “adamastor” que há em nós. Supõe o dom de discernir algumas vozes que, durante o caminho, nos dão informações erradas e nos incitam a ficar em casa ou a procurar outros destinos. Talvez seja um percurso arriscado caminhar por veredas estreitas que nos levam ao encontro com o Deus verdadeiro, aquele que está no mais íntimo de cada um de nós. Mas sem essa aventura de que valeria a nossa vida? Lembro-me do nosso poeta F. Pessoa quando dizia: «Triste de quem vive em casa, Contente com o seu lar, Sem que um sonho, no erguer de asa Faça até mais rubra a brasa Da lareira a abandonar!» Os Magos ensinam-nos que, por causa de Jesus, podemos deixar a segurança dos nossos lares, o conforto das nossas rotinas rigorosamente programadas, a costumeira paisagem que nos rodeia para lançar-nos na busca do que realmente nos realiza, mesmo que isso acarrete passar por noites escuras onde apenas uma estrela serve de orientação. Encontraremos Deus em lugar imprevisto. E a alegria da descoberta compensará em muito tudo o que ficou para trás. (© iMissio, 2020)

Votos…

Mais um ano. «O fim do ano é a afirmação indiscutível que um pedaço da nossa vida passou!» Esta afirmação, apesar de controversa, é bem real. Morremos um pouco. Não voltamos a viver o passado. Não voltamos atrás. Por isso, a razão de tanto balanço e de uma lista de bons propósitos ou objetivos para o ano seguinte! A celebração do último e do primeiro dia do ano é a aceitação do fim das coisas e de um novo início. A morte ou o fim, aceitamos com serenidade ou com o esforço de lhe procurar um sentido. Infelizmente a festa é, muitas das vezes, a procura do esquecimento do fim. A festa serve para me esquecer das tristezas do ano e sobretudo da morte que, talvez, “acolheu” conhecidos, amigos ou familiares. O tempo que acaba diz-me que tudo acaba e eu nada posso fazer. No entanto, festejamos não só o fim do ano, mas também o início de um novo ano. Aliás, o primeiro dia do ano é de festa. Verdadeiramente, este dia será como aquele último do ano e como o segundo dia. Terá 24 horas como sempre. Festejamos por ser o primeiro. A festa por este novo início diz-me que sou capaz de transformar inteiramente um dia porque o “revisto” de um significado totalmente novo! O tempo que acaba significa o acabar, o morrer. O tempo que inicia significa que há uma nova esperança. Na minha liberdade sou capaz de projetar um novo futuro “vestindo” o presente de esperança. E o Cristianismo diz-nos que a vida é mesmo assim: encontramos um sentido para o fim e esperamos um novo início. É a Esperança Cristã! Votos de um Ano Renovado de Esperança! (© iMissio, 2019)