Tudo é lindo.

“Tudo é lindo”. É esta a conclusão que retiro da conversa diária com gente diversa. Também é possível, por mais oximorolico que seja, retirar a conclusão “tudo é feio”. Por vezes nem depende das pessoas com quem falamos, por vezes depende do nosso dia e do estado da nossa alma. Comecemos com a lindeza do tudo. Parece que temos medo de errar, sei que eu tenho, porque à nossa volta, sua é minha, tudo é sucesso ou falhanço. Quando saudamos alguém, perguntamos “tudo bem?”. Fazemo-lo maquinalmente porque nunca ouvimos uma resposta negativa. Sabemos que nem sempre tudo está bem com toda a gente. Temos medo de admitir que não estamos bem, que caímos, que erramos, que pecamos diariamente. O que nos pode fazer ainda mais impressão é notar que, ao que parece, toda a gente à nossa volta vive bem, vivem felizes e lindamente, só nós somos os monstrinhos que pecamos. Não somos. Se, em vez de nos centrarmos nas novelas, nos anúncios, nas conversas de passagem, nos centrarmos na pessoa que está ao nosso lado e com ela conversarmos, reparamos que todos temos uma cruz, todos, de vez em vez, podemos fazer coisas muito boas ou muito más, todos precisamos de todos para nos dar a esperança que precisamos para acreditar. Ainda mais, há coisas que não são mesmo lindas, há coisas no nosso mundo que destroem a família, que questionam os nossos valores e que temos de enfrentar, bater o pé. Temos de o fazer pedindo, em oração, por discernimento e amor, porque não serei eu o messias, não vou fingir que sei a resposta para todos os problemas apenas porque sei o sujeito e o predicado. Jesus deixou-nos o seu ensinamento e acompanha-nos na oração, na vida, na missa. Em tudo é lindo. Principalmente, peço-vos, nunca odeiem em nome de Deus, não faz sentido, o ódio é um sentimento diabólico e o dedo apontado ao outro em ódio, nunca é em nome de Deus, esse tanto eu sei. Apesar disto tudo, pode-se dizer que nem tudo é feio. Sim, o mal existe, sim nós pecamos, não deixemos que seja essa a nossa definição. “O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. A nossa carne, o nosso corpo animal é fraco. A nossa alma não está nada pronta. Então fiquemos felizes de poder fazer esse caminho com Deus ao lado, preparemos a alma e controlemos a carne. Tenhamos esperança e não esqueçamos que Deus nunca, nunca, nunca nos ama menos, nós é que nos fechamos ao seu amor quando perdemos a esperança. Há tanto mal no mundo, há tanto bem. Em vez de nos preocuparmos em aparecer na televisão, em vez da fama, pensemos, neste advento, que não há nada melhor que se fez alguém sorrir de esperança, quente no coração, por causa de nós. (© iMissio, 2019)
Desgraças. Porque não a mim?

Sempre que alguém é vítima de infortúnio, é comum perguntar-se: “Porquê a mim?”. Da mesma forma, quando sabemos de alguém que teve uma alegria em alguma coisa na sua vida, seja por ter lutado por ela ou por simples sorte, questionamos logo: “Mas porquê a ele e não a mim?”. Estes raciocínios são simples mas revelam uma verdade funda que vale a pena analisar: cada um de nós considera que é superior aos outros, pelo que é uma injustiça a dobrar que sejamos alvo de um mal qualquer… e acreditamos mesmo que aos outros é mais justo! Quando se trata de algum tipo de sucesso, quase nunca consideramos se a pessoa lutou, ou não, muito por ele, apenas invejamos. Julgamos que a sorte se terá enganado e deu a outro o que era nosso. Importa que sejamos capazes de nos afastar desta forma tão imatura de ler o mundo. O sentido da vida existe, mas daí até que possamos compreendê-lo vai uma distância maior do que deste mundo ao outro. Acreditamos que a nossa inteligência é capaz de abarcar tudo. Talvez a verdade se esconda de uns e se mostre a outros, mas será que prefere revelar-se aos que se julgam mais inteligentes? A minha vida não é um conto infantil no qual tudo tem um sentido e um valor concretos e evidentes. Pelo contrário, viver é navegar num mar revolto de incertezas, tempestades de perguntas sem resposta, e desertos, muitos desertos. Por vezes, uma bonança, uma certeza, um oásis… mas durante pouco tempo. Por que razão estou vivo? Porquê eu? O que terei feito que merecesse vir viver esta vida? Será que eu existia já? No coração de alguém? Por que razão só valorizo o bem quando o perco? Porque é que não sou capaz de compreender que, não sendo apenas mais um, também não sou a pessoa mais importante? Há pessoas a sofrer muito, algumas são capazes de mais sorrisos do que eu. Porquê? Será que são elas que estão erradas? Há pessoas felizes com muito menos do que eu tenho. Quando vou compreender que há tantas coisas que tenho e que quero ainda ter que não me servem de nada para a felicidade, ou melhor, até atrapalham? A vida é justa, mas a lógica da sua justiça não é a deste mundo. (José Luís Nunes Martins)
E viveram felizes para sempre.

Quando navegarmos naqueles dias de pouca esperança, de derrota interior, de secura pessoal, talvez nos ajude pensar do seguinte modo. Se Jesus não ressuscitou, a nossa fé é vã e a nossa oração nada mais é que uma ilusão reconfortante fazendo-nos dormentes em relação à morte. Se Jesus não ressuscitou, toda a vida é aleatória e nós, num alea iacta est, somos lançados para o meio de uma selva sem sentido, destinados a sobreviver, a espezinhar ou a sentar hibernando numa gruta, esperando aqueles ínfimos momentos de prazer animal. Se Jesus não ressuscitou então o Céu não existe, pois o seu anúncio nos foi iluminado pelo Cristo. Se o Céu não existe, o que faremos? Morreremos em vão, em vão viveremos. Caminhamos com um sorriso ignorante para uma escuridão injusta. Sentimos, amamos para nada. Sabemos que Jesus ressuscitou pela prova mais fidedigna e mais fraca que o ser humano pode ter: sentimos a sua presença, se nos pusermos “a jeito”. Esta é a prova mais fraca por ser tão pessoal que, num argumento, num debate, facilmente cai por terra perante a ciência da experiência. No entanto, é o sentimento que nos move, que nos anima, que nos dá vida, que nos faz discernir o certo do errado. A oração provoca em nós um sentimento de ligação inegável e inexplicável, mesmo assim, sabemos, que a ligação não pode ser só de um lado, somos ouvidos, Deus responde, Jesus olha por nós, nossa Senhora guarda-nos e o Espírito Santo habita-nos. Esta é a prova mais fidedigna de que Jesus ressuscitou porque a nossa linguagem é um veículo do sentimento. Criámos a linguagem porque o ser o humano sentiu que precisava mais do que balir ou zurrar para se expressar. O ser humano é um ser investido de mais sentimento. Mesmo que tenhamos conseguido “colar” certos sons aos sentimentos para que, vocalizando-os ou simbolizando-os, possamos ilustrar no próximo aquilo que no nosso interior acontece a cada momento, não podemos ser tão ingénuos ao ponto de pensar que os nossos sentimentos se esgotam no vocabulário. Jesus ressuscitou, o Céu é verdadeiro e nós sabemo-lo. As pessoas que O sentem valorizam mais a Sua presença do que a vida, sorriem perante aquilo que aos mortais mais medo causa – a morte – porque é necessária, é um segundo nascimento, é uma porta. Os apóstolos, que partilharam a vida com o Cristo, após a sua morte fecharam-se em medo. Haverá maior prova de que Jesus ressuscitou do que a vida daqueles humanos, amedrontados como nós, que passaram do maior medo, para a maior bravura, a maior heroicidade, a coragem mais sublime, porque sem armas, sem nada se fizeram ao mundo que os perseguia num tempo em que a brutalidade era mais vistosa do que a brutalidade escondida dos nossos dias? Se Jesus ressuscitou e o Céu existe, podemos ter a certeza, caros irmãos, que todas as nossas histórias, se assim o quisermos, acabam em: “E viveram felizes para sempre”. (© iMissio, 2019)
Por que você deve ter pelo menos um amigo mais velho

A amizade entre Santo Ambrósio e Santo Agostinho nos mostra o porquê. Quando eu era menino, queria andar com as crianças mais velhas. Elas me pareciam de alguma forma maduras e admiráveis. Elas tinham brinquedos mais legais, e a bicicleta estava sempre suja de barro. Mas as crianças mais velhas nunca me deixavam andar com elas. Você sabe quem me deixou sair com eles? Meus avós. Do lado de meu pai, meu avô nos deixava “dirigir” seu tractor pelo campo, o era impressionante para mim. Minha avó me levava para passear com suas amigas aposentadas. Meu avô materno fazia panquecas para nós e nos deixava ajudar a acender a lareira. Nossa avó jogava cartas connosco pelo tempo que desejávamos. Hoje, adoro passar um tempo com meus paroquianos mais velhos. Sua riqueza de conhecimento, bondade e devoção a suas vidas espirituais é algo extraordinariamente inspirador. Quando olho para os bancos durante a missa, nada me deixa mais feliz do que ver esses paroquianos mais velhos se misturando, rezando com as gerações mais jovens, transmitindo a fé e, sim, ocasionalmente sendo distraídos pelos bebés durante a homilia. Esses paroquianos mais velhos são vitais para a saúde de nossa comunidade e, ao se tornarem amigos dos paroquianos mais jovens, são uma fonte de força e sabedoria para todos nós. É fácil interagir apenas com nossos próprios grupos de colegas. Aqueles que cresceram no mesmo tipo de lugar têm as mesmas memórias culturais que foram formadas em um momento semelhante, falam da mesma maneira, assistiram aos mesmos programas de televisão, vestem-se da mesma maneira. Tudo isso cria uma base confortável e natural para a amizade. Mas se as únicas pessoas com quem somos amigos são como nós, estamos perdendo muito. Tomemos o exemplo de Santo Agostinho, que se mudou para a cidade de Milão quando tinha cerca de 30 anos. Ele estava se tornando conhecido por sua habilidade como professor e palestrante, mas apesar desse sucesso, estava inquieto. Sua vida pessoal estava uma bagunça, sua mãe estava muito preocupada, e ele estava no meio de uma crise espiritual. Agostinho ouvira falar do famoso bispo de Milão, um homem chamado Ambrósio, que pregava homilias amplamente admiradas. Agostinho ficou curioso e começou a ir à missa para ouvir o homem mais velho falar. No início, ele diz que estava verificando a eloquência de Ambrósio, para ver se estava à altura de sua fama. E, à medida que ele continuou ouvindo aquele homem sábio, as palavras de Ambrósio começaram a mudá-lo. Ele queria conhecer Ambrósio, mas o bispo era um homem muito ocupado. Mas por fim Agostinho conseguiu conhecer Ambrósio, e o bispo ficou feliz em se tornar seu mentor. Seu conselho provou ser inestimável, acalmando e guiando Agostinho. Depois, Agostinho uniu-se à Igreja e começou a tomar medidas para organizar sua vida. Ambrósio estava bem ciente do valor da amizade, especialmente as amizades que nos desafiam a crescer de novas maneiras. Em particular, ele recomendava o tipo de amizade que acabou desenvolvendo com Agostinho, ou seja, a amizade entre uma pessoa mais jovem e uma pessoa mais velha. Seu raciocínio é simples: os idosos têm um tesouro de sabedoria e experiência de vida para compartilhar. Ele diz para imaginar que você é um turista em uma nova área. A primeira coisa que todos nós fazemos é pedir recomendações: qual é a melhor praia para nadar? Onde está o melhor restaurante? Existe alguma coisa que temos obrigatoriamente de fazer aqui antes de partir? Quando se trata da vida, os idosos são os habitantes locais com toda a experiência, os mais jovens são os turistas. Seríamos tolos em não pedir orientações a quem tem mais experiência. Recentemente, a ideia de ter um amigo mais velho vem se desenvolvendo de várias maneiras interessantes. Por exemplo, algumas pré-escolas agora estão localizadas em casas de repouso. Em outros lugares, estudantes universitários se tornam “colegas de quarto” de aposentados. Os participantes de ambos os programas falam sobre todos os benefícios, desde “ter cem avós”, até chegar a uma reconciliação com a realidade da morte. Eu percebo que o conflito geracional é um fato da vida. As pessoas mais velhas consideram as pessoas mais jovens como exageradas, e as mais jovens descartam as pessoas mais velhas como antiquadas. Porém, nenhum desses estereótipos é verdadeiro e tudo o que precisamos fazer para destruí-los é desenvolver uma amizade real e autêntica. Conflitos geracionais podem ser comuns, mas isso não significa que devam ser. E se Agostinho tivesse descartado Ambrósio como um dinossauro irrelevante, um artefato de uma era mais antiga? Sua vida teria continuado numa espiral fora de controle. Ele nunca teria escrito seus grandes livros filosóficos, e toda a humanidade teria sido empobrecida. Um único relacionamento com uma pessoa idosa pode fazer toda a diferença, mesmo que a única vida que você mude seja a sua. (© 2019 Aleteia)
Não queiras ser Deus

Cara amiga, Enquanto lutares por seres quem não és… não serás nada. Nem o que és. Não queiras saber tudo sobre todos, pois por mais que nos esforcemos jamais saberemos mais do que uma parte mínima, e isso é muito melhor! O esquecimento é um dom e o desconhecimento serve, muitas vezes, para que possamos ser mais felizes. A vontade de poder é algo comum a quase todos nós, mas são poucos os que a veem como uma potencial fonte de desgraça para os outros e para si mesmos. Um dos testes mais exatos à personalidade de alguém é dar-lhe poder e observar o que faz com ele. Assim, faz sentido que nos sintamos impotentes face a muita coisa, mas, pelo menos, tira-nos a responsabilidade que existiria se pudéssemos fazer o melhor e não o fizéssemos. Não queiras ter muitas coisas materiais, nem imateriais. O despojamento permite-nos voar, porque somos mais leves! Revoltas-te contra a tua natureza humana, pela sua fragilidade e por todas as limitações. Todos nos cansamos e todos temos de morrer. É uma lei imutável. Queres mesmo perder o teu tempo e esgotar as forças a lutar contra algo que não mudará? Talvez importe mais que procures descobrir uma forma de aceitar estas condições, ao mesmo tempo que te dedicas a descobrir todas as coisas boas de estar vivo e de ser humano! Há quem sonhe percorrer o mundo inteiro. Será que querem fugir de algo? Ou procuram algo de que sentem falta? Viajar é bom, mas a verdade é que há cada vez menos gente a ser capaz de estar onde está. De se admirar com as pequenas e grandes belezas que existem sempre em cada sítio, por mais estranho e vazio que pareça. Por vezes, são maravilhas interiores que despertam. Sabes, o teu interior é um mundo, um verdadeiro universo. Arrisca-te a descobri-lo. Aventura-te. Acharás mares, montanhas, desertos e oásis! Não fujas nem julgues que a paz está num qualquer sítio à tua espera… Não queiras ser Deus. Não queiras ser senão tu. Não sejas egoísta, tu não és para ti. Encontra-te e sê delicada contigo mesma. Mas não queiras ser sozinha. Sem amor não há felicidade. Nem paz. Não vivas amargurada, revoltada ou obcecada. Isso é um inferno. Se te esforçares para ser alguém melhor do que foste no dia anterior, não só viverás muitas e novas alegrias… como chegarás ao céu. Confio em ti. Rezo por ti. (José Luis Nunes Martins)