Passamos a vida à espera. De quê?

Passamos a vida (e o tempo) à espera. À espera que a sorte mude. À espera que o vento não seja tão frio. À espera que nos devolvam a chamada. À espera que se lembrem que existimos. À espera que nos atendam num balcão, numa fila, numa loja. À espera do amor-para-sempre. À espera da oportunidade que nos mude a vida. À espera do momento certo para começar a fazer tudo como deve ser. À espera que nos peçam desculpas. À espera que nos perdoem. À espera do Verão. Dos dias de sol e do calor a tostar a pele. À espera que a maré desça para não perdermos o pé. À espera que o país fique melhor. À espera que se acabem os dias tristes. À espera que se acabem as dívidas (as financeiras e as outras). À espera que nos apreciem, apenas, por aquilo que somos e não por aquilo que podemos oferecer. À espera no trânsito que não anda. À espera do verde que não cai. À espera da felicidade que os romances mais bonitos nos prometeram. À espera do jantar, no restaurante. À espera que o arroz fique no ponto. À espera que se acabe a fome nos lugares mais sujos e mais recônditos do mundo. À espera. De tudo. De todos. De tanto. No entanto, enquanto esperamos, podemos aprender lições valiosas: a lição (duríssima) da paciência. A lição da humildade de quem sabe estar no seu lugar e esperar pela sua vez. A lição de deixar acontecer cada coisa na janela do seu tempo. A lição de valorizar o futuro que espreita de mansinho e que não se impõe. Precisamos muito de aprender a esperar melhor. Com mais alegria. Com mais paciência. Com mais coragem. Ninguém gosta de esperar. É sempre tarde para quem está à espera. E é sempre difícil deixar que o tempo passe sem nos aborrecermos com ele. E com a sua velocidade-tartaruga. Aprende a esperar, mas aprende, também, o momento certo para deixar de o fazer. Quem decide esperar para sempre deixa de estar à espera e passa a ser refém de uma promessa que pode não se cumprir. Aprende a esperar. Aprende a esquecer. Aprende a colocar ponto final e a fazer parágrafo. Estás à espera de quê? (© iMissio)

O silêncio do deserto

«Há um silêncio de paz, quando o deserto dispensa, ao anoitecer, a sua frescura, dando-nos a impressão de que já chegámos ao porto tranquilo, e as velas amainaram. Há o silêncio do meio-dia, quando sob o sol escaldante cessam pensamentos e movimentos. E há o silêncio profundo, quando, de noite, até a respiração se suspende, e começamos à escuta.» Um provérbio tuaregue afirma que «quem não conhece o silêncio do deserto, não sabe o que é o silêncio». É o que também atesta, com o excerto que citámos, o escritor-aviador francês Antoine de Sanit-Exupéry (1900-1944), que viveu alguns períodos em Marrocos. Hoje, 30 de setembro, celebramos a memória litúrgica de S. Jerónimo, o célebre tradutor latino da Bíblia. Ele optou por abandonar a barulhenta e mundana Roma, onde tinha vivido recolhendo sucesso atrás de sucesso, para retirar-se no deserto de Belém. O verdadeiro silêncio não é mera ausência de sons, como o deserto não é, de todo, ausência de presenças. Com efeito, os sentidos tornam-se mais vigilantes e os pensamentos mais límpidos, e vivem-se assim experiências bem mais intensas. Nós, mergulhados nos ruídos e nas coisas, flutuamos à superfície da vida, e somos incapazes de descer às profundezas. Somos incapazes de fazer limpeza na mente e no coração, de modo a deixarmos só as verdadeiras realidades importantes. Não conseguimos apreciar a paz e a quietude, envolvidos como estamos no frenesim do fazer e do mover. Eis, então, a necessidade de uma experiência de deserto e de silêncio para reencontrar Deus e o nosso eu. (© Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)

Alergia à tristeza alheia

Somos alérgicos às tristezas dos outros. Não gostamos de ser confrontados com as tragédias e as dores alheias. Afastamo-nos quando alguém não está bem, com medo que se pegue. Com medo que a tristeza seja, de algum modo, contagiosa. Não gostamos que os outros partilhem connosco as suas mágoas porque nos incomodam. É como se nos retirassem a alegria e o bem-estar. Gostava que aprendêssemos a ter menos medo do sofrimento dos outros e do sofrimento em geral. Na realidade, o sofrimento ensina-nos o que nenhum outro sentimento poderá ensinar. Ensina-nos a ter paciência. A esperar. A ter fé no dia de amanhã. A agradecer o que já tínhamos de bom. Gostava que não nos maçasse tanto que os outros sofram mais do que nós. Que em vez da opção da fuga pudéssemos escolher ficar. Acalmar a tempestade que não é nossa. Segurar a vida dos outros como quem tem consciência do cristal precioso que tem entre as mãos. Gostava que soubéssemos receber melhor as tristezas que não são nossas e que não quiséssemos ter varinhas de condão para acabar com o sofrimento (como se de uma praga se tratasse). O sofrimento pode ser bom se nos ajudar a criar empatia com os outros. Se nos permitir aprender a valorizar os que nunca nos abandonam (mesmo nas horas incrivelmente dolorosas). Se nos deixar mais humildes, mais pequenos, mais capazes. Não está nas nossas mãos acabar com o sofrimento de ninguém mas está nas nossas mãos tentar aliviar o peso do fardo que cada um carrega. E desengane-se quem acha que os mais sorridentes não carregam, também, o peso de uma ou outra cruz. Gostava que tivéssemos menos medo da tristeza, da doença, da dor, do golpe. Afinal, é cada uma dessas coisas que mais genuinamente nos aproxima uns dos outros. (© iMissio, 2019)

Pessoas que somam

Tenho pensado nas pessoas que somam: Nessas que conseguem perscrutar as angústias da vida por detrás de um sorriso forçado e têm coragem de nos confrontar e dizer: “Tu não estás bem. Sabes que estou aqui, sempre que precisares… e não precisares”. Nessas que conseguem semear a esperança nos vasos da entrada da nossa casa, e garantir-nos que esta dá alento à vida e faz mover os nossos passos; Nessas que discretamente se levantam e dão um lugar a um idoso ou criança não por cumprimento da lei, mas por respeito pela dignidade; Nessas que noite fora se sentam junto aos doentes e emprestam os ouvidos para escutar gemidos silenciados; Nessas que pegam com muita delicadeza as feridas da alma, que o tempo não cura, e as sabem conduzir ao remédio sagrado; Nessas que nos lembram que a vida é um tesouro, um dom incomensurável, e que parte de nós potenciar os talentos que recebemos; Nessas que nos lançam para a frente e nos lembram que as bolhas dos pés da caminhada não podem ser entrave para desbravar novos caminhos; Nessas que nos acolhem por aquilo que somos e não nos identificam por aquilo que temos; Nessas que se movem menos pela competição e investem na cooperação; Nessas que não nos deixam à deriva na vida, mas nos ajudam a chegar a porto seguro; Nessas que criam laços e desatam nós da garganta; Nessas, pessoas bonitas – no coração e na alma – que nos fazem acreditar que vale a pena todo o esforço, todo o empenho, toda a dedicação, toda a entrega, porque o retorno maior é a plenitude que recebemos; E o mundo a precisar de pessoas que somam!… Posso ser eu e podes ser tu! (© iMissio, 2019.)

Ciclo de conferências debate caridade na economia, política, palco, em casa e entre minorias

A ex-governante Manuela Ferreira Leite e o actor Pêpê Rapazote são dois dos intervenientes do ciclo de conferências “Viver hoje a caridade”, que a paróquia de S. Tomás de Aquino, em Lisboa, realiza a partir de 13 de A ex-governante Manuela Ferreira Leite e o actor Pêpê Rapazote são dois dos intervenientes do ciclo de conferências “Viver hoje a caridade”, que a paróquia de S. Tomás de Aquino, em Lisboa, realiza a partir de 13 de Novembro..