Catequese e transmissão da fé: Ou se torna vida ou é como se não existisse

O crente credível transmite com a sua própria vida a fé, isto é, transmite a vida nova do Espírito que nele age. Mas também os pais transmitem aos filhos, com o seu exemplo, a sua bondade. Contudo, os pais informam também os filhos sobre conhecimentos úteis para viver e para enfrentar as diferentes atividades da existência. Os conhecimentos científicos, humanos, sociais são transmitidos aos filhos, no respeito pelo seu desenvolvimento evolutivo. Para as verdades da fé devia ser o mesmo… Mas não. Porque a vida de Cristo, ainda que possa ser narrada e explicada com as verdades teológicas e espirituais, só pode ser compreendida se é vivida, testemunhada. O Evangelho é a “narrativa” da vida de Cristo, vivo hoje, e torna-se contagioso. «A catequese é uma educação da fé das crianças, dos jovens e dos adultos, que compreende especialmente o ensino da doutrina cristã, ministrado em geral dum modo orgânico e sistemático, em ordem à iniciação na plenitude da vida cristã» (Catecismo da Igreja Católica, 5). Esta transmissão acontece, portanto, quer mediante a narrativa das verdades da fé, encerradas na Bíblia e em particular na história de Jesus, quer, sobretudo, mediante o testemunho da “nova vida”. Então, como fazer? É o papa Francisco que nos aponta o caminho: «A fé tem necessidade de um âmbito onde se possa testemunhar e comunicar, e que o mesmo seja adequado e proporcionado ao que se comunica. Para transmitir um conteúdo meramente doutrinal, uma ideia, talvez bastasse um livro ou a repetição de uma mensagem oral; mas aquilo que se comunica na Igreja, o que se transmite na sua Tradição viva é a luz nova que nasce do encontro com o Deus vivo, uma luz que toca a pessoa no seu íntimo, no coração, envolvendo a sua mente, vontade e afetividade, abrindo-a a relações vivas na comunhão com Deus e com os outros» (“Lumen fidei”, 40). Por isso os pais, os educadores, os catequistas devem ter em conta três características: as atitudes pessoais; o conteúdo que se quer transmitir; as pessoas destinatárias (crianças, jovens, adultos) e os modos de transmissão. As atitudes pessoais O testemunho de fé em família e os encontros de catequese são vividos por pessoas que entram em relação entre elas. É importante que essa relação seja a mais bela possível, a mais motivadora, em síntese, que possa dar, sobretudo às crianças e aos jovens a sensação de que “é belo estarmos juntos a falar de Jesus”. Mas como é possível? É possível se os jovens se sentirem compreendidos, amados. Para realizar tudo isto, são importantes três atitudes da parte dos adultos e catequistas. Em primeiro lugar, o descentramento. Acontece quando o educador realiza um verdadeiro descentramento de si para as crianças e os jovens, de maneira a poder compreender a sua personalidade. É preciso meter-se na pele do outro, de modo a poder ver as coisas como ele as vê. Este descentramento deve ser uma atitude constante, não só durante o momento em que se tem ocasião de falar de fé, ou durante o encontro da catequese, mas em todas as circunstâncias em que se vive em conjunto, mesmo quando ocorrem casualmente. Para este efeito, podem ajudar algumas subtilezas da parte do educador, como perguntar-se, quando observa as crianças e jovens: «Porque se comportam assim?». O descentramento ajudará o educador a compreender os tempos de atenção dos filhos ou do grupo de menores, a discernir as capacidades de cada um, e sobretudo a nunca julgar negativamente atitudes que podem parecer como tais. Graças ao descentramento, o encontro com a fé constrói-se em conjuntos, assim como um bom momento de catecismo, e conduz todos a ter paciência e respeito pelos tempos. Depois, a simplificação. É a capacidade de tornar compreensível o que se diz. É bom ter em conta que nos grupos de crianças e jovens pode haver indivíduos que tenham dificuldades de aprendizagem ou de receção. A grande educadora Maria Montessori concretizou um método de ensino baseado na compreensão de quem manifestava mais dificuldade: partindo desta atenção, todos os outros compreendiam e eram estimulados à relação. Estejamos, todavia, atentos para não pretender que, sobretudo os mais pequenos, sejam capazes de compreender tudo. Isso não é um objetivo imediato, enquanto devemos considerar sempre que no íntimo das crianças e dos jovens está presente o Espírito Santo, que os iluminará sobre o significado da experiência que estão a viver. Os pais, os educadores ou os catequistas devem recordar às crianças e jovens que no seu coração está presente e voz de Jesus que fala. A seguir, confiar-se a Jesus. Consiste em confiar tudo a Ele. Nunca se deve dar por adquirida a presença de Jesus e a sua ajuda. Porque se é verdade que Jesus deseja ajudar-nos em tudo, e guiar-nos, é igualmente verdade que é sempre necessária a nossa adesão ou o nosso pedido, precisamente por causa do respeito que Ele tem pela nossa liberdade. Esta dimensão é belíssima porque mantém viva a relação entre o educador e Jesus. Jesus quer a nossa santidade, e para que isso aconteça pode estar connosco se nós o convidarmos: «O que pedirdes em meu nome Eu o farei, de modo que, no Filho, se manifeste a glória do Pai» (João 14, 13). O conteúdo que se quer transmitir São múltiplos os catecismos publicados com lógicas que têm em consideração o programa litúrgico e o que narrar da vida e da história de Jesus. Podemos recomendar a leitura atenta destes textos (muitas vezes com linguagem, imagens e exemplos adequados à experiência e à capacidade de compreensão das crianças e jovens) também aos pais, que muitas vezes se limitam a comprá-los e a entregá-los ao filho e ao catequista. A sintonia entre as várias “vozes” envolvidas na educação para a fé é particularmente preciosa (sem esquecer que, por vezes, nós, adultos, não temos as ideias claras sobre muitos conteúdos e implicações da nossa própria fé…). É preciso reconhecer que foram feitos muitos esforços, mediante a utilização das ciências psicopedagógicas, para adequar a linguagem e as imagens ao

O que tu sofres não me dói!

Podemos, até, ser os mestres da empatia. Podemos, até, conseguir sentir na pele um rasto da ferida que agrava a pele do outro. Conseguimos, até, colocar-nos no lugar do outro e julgar que conseguimos imaginar o que sente, o que pensa perante o que sente, o que lhe dói perante o que não consegue entender. Essa é, já, uma capacidade extraordinária e louvável. Chegar perto do sofrimento do outro. Querer sentir o eco do que incomoda a vida e os dias dos que nos rodeiam. Essa atitude diz muito sobre nós. E diz muito bem. No entanto, e até a dor visitar a nossa própria pele, não sabemos nada sobre a dor do outro. Fazemos, simplesmente, uma (muito) pequena ideia. Até sermos nós a experimentar o sofrimento por causa disto ou daquilo, não saberemos, de verdade, o que habita o coração dos que nos rodeiam. Quando somos nós a viver uma dor, uma provação ou um desafio difícil de interiorizar é que conseguimos, de facto, saber o que o nosso irmão viveu. É aí, nesse momento de profunda (e forçada) aproximação à semelhança da dor alheia que compreendemos tudo. É aí que tudo fica simples, por ser tão doloroso. É aí, nesse degrau que subimos e em que os nossos pés encontram os dedos dos passos dos outros que, na verdade, somos irmãos. É aí que, na verdade, somos amigos. Enquanto os nossos passos se tocam neste ou naquele sofrimento, neste ou naquele confinamento, nesta ou naquela falta de liberdade ou de amor, os nossos olhos têm a coragem de olhar em frente. E é aí, quando encaramos com verdade a verdade dos olhos de quem está à nossa frente que seremos (e somos!) profunda e inegavelmente humanos. Iguais. Gémeos siameses na dificuldade. Enquanto a dor do outro não me doer a mim, eu não sei nada sobre ele. Mas imagino. Enquanto a prisão do outro não retirar a minha liberdade, eu não sei nada sobre ela. Mas imagino. Enquanto a saudade do outro não cravar raízes dentro do meu peito, eu não sei nada sobre ela. Mas imagino. Se só o simples facto de imaginar já é difícil… imagina vivê-lo. (© iMissio)

Deus espera que O esperes

Deus não espera que tu saibas tudo. Não quer que tu domines todas áreas do saber. Muito menos quer que tu uses o teu conhecimento para proveito próprio ou para te vangloriares perante os outros. Ele quer que te apliques, que te especializes e que depois coloques em prática o que tão bem sabes em favor dos outros. Deus não espera que tu sejas perfeito. Ele sabe bem o quão imperfeito és. E, por isso, é que não te exige nada mais do que o teu aperfeiçoamento. Dia após dia. Sempre com a esperança de te vires a tornar mais parecido com Ele. Tão parecido que os outros possam ver que és a Sua cara chapada. Deus não espera que tu sejas rígido. Ele não quer que sejas perito na doutrina e na lei se depois não souberes a maior de todas as leis: o amor. Não te adianta seres um doutorado no Catecismo da Igreja Católica se não fores misericordioso com aqueles que se cruzam contigo. Não te adianta bateres com a mão no peito em todas as missas, se depois não és capaz de dar a tua mão para que tantos e tantas se possam sentir acolhidos na Eucaristia. Deus não espera que tu tenhas uma voz monótona e igual à de todos os outros. Ele anseia que tu uses o teu vozeamento de forma a mostrares que a beleza do Seu amor é de todos e para todos. Ele quer que as tuas especificidades mostrem ao outro que a Sua história é para ser integrada em tantas outras histórias. Ele quer que as tuas idiossincrasias sejam testemunho de um amor tremendamente católico e, por isso, universal. Deus espera que o desejes. De livre vontade. Com uma sede interminável. Ao ponto de permitires que Ele te dê a volta. Deus espera que O esperes. E que isso seja a tua maior prova de fé! Estás preparado em esperar por Aquele que sempre te espera? (© iMissio)

O vírus do juízo compulsivo

Anoitece. Durante um espetáculo cómico, dentro de um pequeno teatro de periferia, um projetor entra em curto-circuito. Uma faúlha pousa sobre um pano nos bastidores, que se incendia de imediato. Um ator, maquilhado e vestido de maneira burlesca, corre para a rua. Está desesperado, grita com toda a voz que tem. «Socorro, ajudem, o teatro está a arder!». Muitas pessoas aplaudem-no, pensando que é uma atuação de rua. «Bravo, é uma atuação extraordinária!» O teatro incendeia-se, com as pessoas lá dentro. Morrem todos. Esta cena de fantasia poderia hoje acontecer na realidade. Porque é que olhamos primeiro para a indumentárias das pessoas? Julgamos no impacto, somos desencaminhados por aquilo que vemos à superfície. No ser humano, desde sempre, subsiste a malsã tendência para julgar. Não julgamos apenas os outros, mas muitas vezes a nós próprios, e fazemo-lo com grande severidade. Quantas vezes nos acontece ver somente os nossos defeitos e evidenciar o nosso calcanhar de Aquiles? Torna-se um verdadeiro dominó: em vez de aligeirar alguns pensamentos e situações, agigantamo-los. O juízo compulsivo é uma patologia que está sempre connosco. Vivemos numa sociedade onde estamos habituados ao juízo, à crítica, à condenação. Isto cria em nós (muitas vezes inconscientemente) rigidez mental, com uma consequência preocupante: tornamo-nos desprovidos de compaixão. Palavra – aliás – hoje abusada no seu sentido mais depreciativo: «Aquilo causa-me compaixão, vê lá tu!». Isto não é compaixão, mas um juízo (negativo) em relação a alguém. Na realidade, o principal significado de “compaixão” é sentimento de piedade para quem é infeliz, para com as suas dores, as suas desgraças, os seus defeitos; participação nos sofrimentos de outro – como sugere o dicionário. Participação nos sofrimentos do outro, não elevação egocêntrica do nosso eu em relação a uma infelicidade. (Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)

Não te preocupes: Deus sabe e vê!

Não te preocupes. Deus sabe. E vê-te. Sabe do que te preocupa. Sabe o que te atormenta. O que guardas dentro do coração até ser o momento certo. Sabe o que te faz chorar. Sabe o que te insufla a pele com alegria. Sabe dos teus medos, das tuas faltas repetidas, das dores de estimação, dos sonhos que escreveste naquele caderno com mais ou menos brilhantes. Não te preocupes. Deus sabe. E vê. Conhece os contornos da tua alma e sabe o que já passaste. Sabe das tuas lutas. Das guerras que travas com o mundo e contigo próprio. Sabe do que escondes. Do que mostras. Das bandeiras que te fazem arder o coração. Não te preocupes. Deus sabe. E vê. E ama. E olha para ti com um carinho que nunca poderás medir ou conter dentro de ti. Sorri, ao de leve, quando te vê subir mais um degrau em direção ao futuro que desenhaste (e desenhou!) para ti. Segura-te na mão e enche-a de beijos quando a usas para esconder e limpar as tuas lágrimas. Afasta o lixo do teu coração quando ele se assoberba com os demónios que não o largam. Não te preocupes. Deus sabe. E vê. E ama-te como se só existisses tu. Como se o mundo tivesse sido criado para que pudesses habitar a sua raiz. Deus conhece o que não dás a conhecer a ninguém. Deus ensina. Mostra. Aponta. Guia. Fica em silêncio quando tem de ficar. Grita na voz de alguém que mora nos teus dias quando precisa de te avisar. É colo através dos braços de alguém que sempre esteve ali e nem reparaste. Enquanto não vemos nada e nos sentimos perdidos de tudo, Deus está a construir. A construir a partir do Seu tremendo amor por nós. Enquanto nos revoltamos e olhamos para o Céu em busca de ajuda, Deus está à espera de que tenhamos a coragem de O olhar nos olhos e que nos deixemos agarrar pela sua Luz. Enquanto tudo se desfaz em pó, Deus está debruçado no chão da nossa vida a recolher todos os nossos grãos de areia para, depois, nos erguer numa versão mais bonita, mais polida, mais brilhante e mais séria. Enquanto temos medo de Deus e do que vem lá, Deus está a preparar momentos que nos façam compreender melhor o quanto nos quer bem. Não te preocupes. Deus sabe. Vê. Ama. E toma conta de tudo. Se toma conta de tudo como não tomaria conta de ti?! (© iMissio)