Estás à espera de que te agradeçam?

Não estejas. Se fizeste algo bom, isso vale por si mesmo, a menos que o tenhas feito para trocar por um agradecimento. Uma boa ação que não é agradecida pode tornar-se ainda mais nobre se dispensar reconhecimento. Há quem julgue que é senhor do mundo e que os outros existem apenas para o servir. Quem mais lhe faz as vontades e lhe satisfaz os apetites, esse sim, é o melhor. Depois há quem se interesse pelos outros, mas sempre cuidando de manter um equilíbrio entre o quanto dá e o quanto consegue receber. Uma espécie de sociedade comercial com contabilidade organizada. Dois egoísmos entrelaçados que enganam muitos, por se esforçarem por parecer amores. A gratuitidade é o ponto mais alto da forma como nos podemos relacionar com outra pessoa. A bondade que é a recompensa de si mesma. É excelente poder dar algo a quem precisa. Mesmo que não nos agradeça. Não lhe dará isso ainda mais valor? A gratidão é uma virtude de quem é forte e humilde. Os fracos de espírito são quase sempre orgulhosos, gente vulgar que pensa em si em primeiro lugar, e nos outros só quando sobra tempo e espaço ao seu egoísmo. Há até quem agradeça como forma de garantir que pode continuar a pedir e a receber mais. Eu devo ser bom e ajudar o meu próximo, não para que ele mo agradeça, antes sim porque quero ser melhor do que sou, contribuindo de forma positiva para o bem do outro. Se ele agradece isso ou não, é uma questão de detalhe. Devo lembrar-me do bem que me fizeram, sempre. Devo esquecer-me do bem que fiz, sempre. Queres saber quem és? Basta que repares na forma como tratas aqueles que não podem fazer nada por ti. Não esperes nunca que te agradeçam o bem que fazes a alguém. Não deixes nunca de o fazer. Eles precisam e tu mereces. (José Luís Nunes Martins)

O (teu) amor muda o mundo

Há alguém, algures por aí, à espera do seu lugar. O seu lugar-mais-amor do mundo. Onde (de)morar sem datas de validade. És tu. O teu abraço é o melhor lugar do mundo para alguém. Há alguém, algures por aí, à espera de quem lhe cative o coração. De quem o abrace. Para sempre. És tu. O teu sorriso abraça corações. Há alguém, algures por aí, à espera de um porto de abrigo. Que sossegue tempestades e medos. Onde descansar do mundo. És tu. As tuas mãos são o abrigo de alguém. Há alguém, algures por aí, à espera de um gesto que abrace tudo. Que cure o que se parte. Que cure o que dói. És tu. O teu abraço cura. Há alguém, algures por aí, à espera de quem lhe sinta o coração. De quem lhe abrace a alma. Como quem respira amor. És tu. O teu sorriso é em forma de amor. Há alguém, algures por aí, de olhos perdidos no vazio. À espera de quem os olhe por dentro. De quem os faça brilhar. És tu. Os teus olhos sorriem e fazem sorrir. Há alguém, algures por aí, à espera de um milagre. Que salve do abismo. Que salve de tudo. És tu. O teu abraço salva. Há alguém, algures por aí, à espera de quem lhe mude o dia. De quem lhe mude a vida. E o coração. És tu. O teu sorriso é a melhor parte do dia de alguém. Há alguém, algures por aí, à espera de quem fique ali. Ao seu lado e do lado de dentro. Como quem segura. Como quem guarda. És tu. As tuas mãos foram feitas para abraçar outras mãos. Há alguém, algures por aí, à espera de um sorriso em forma de abraço. De um sorriso tatuado no coração. És tu. O teu abraço faz corações sorrir. És tanto. Mais do que sabes. Há sempre alguém, algures por aí, a quem tu mudas o mundo. Mesmo sem saberes. Quando abraças. Quando sorris. Quando abraças mãos. Quando olhas. Quando vives, quando és, com amor. Quando amas. O (teu) amor muda o mundo. Sabes? Em quantos corações já tatuaste um sorriso? (© iMissio)

Cuidar da vida frágil

Guardo em mim uma gratidão para com a enfermeira que, há uns anos, vendo a minha angústia por não estar a conseguir ajudar uma pessoa de família a encontrar o que então me parecia um equilíbrio psíquico ao seu alcance, me disse: “Perceba que isto não é ela, mas a doença dela.” É verdade: levamos muito tempo a perceber o óbvio. Porque sabemos mais ou menos cuidar de nós próprios e sustentar a nossa autonomia, julgamos saber automaticamente cuidar dos outros. E não é assim. O cuidado requer, como tudo na vida, uma aprendizagem. Mas é um dado universal: todos podemos aprender. O cuidado não é apenas uma espécie de técnica de manutenção. Certamente há uma dimensão técnica importante no cuidado, mas ele não se realiza humanamente sem a escuta, o reconhecimento do outro, a empatia, a solicitude, a participação ou a delicadeza. No princípio do cuidado está a ativação da nossa responsabilidade pelo outro. Como no seu oposto está a indiferença, o abandono ou o descarte. Penso nos largos milhares de cuidadores (na verdade, de cuidadoras, pois as estatísticas dizem que mais de 60% são mulheres) que, entre nós, se ocupam dos pais ou familiares doentes, que tratam de jovens e adultos portadores de deficiência, acompanhando-os jornada após jornada. Prestando atenção à toma dos medicamentos, preparando as refeições, ajudando-os a caminhar um pouco, estimulando-os com conversas, roubando para eles, de qualquer parte, pequenos fragmentos de azul e recebendo em troca cintilações que, na sua intensidade, se diria não serem apenas cintilações. Lutando muitas vezes, em solidão, para afirmar o valor da vida humana numa sociedade que em vez de simplificar os auxílios, burocratiza, distancia-se e dificulta. Porém, não tenhamos dúvidas: é o cuidado a grande experiência humanizadora, o lugar do mundo onde mais aprendemos, o grande espaço de sabedoria autêntica. Sem a cultura do cuidado não haverá futuro e tudo representará sempre mais um beco sem saída. Há quem contraponha: “O cuidado só por si não oferece a solução.” A resposta é: pelo menos oferece caminhos. A gramática bíblica traduz este debate num fundamental conceito, que em hebraico se diz tiqqun. O termo tiqqun, mesmo se inclui outros significados, é normalmente traduzido como “reparação” ou “restauração”. A história narrada na Bíblia não é uma história linear ou que escolha omitir a sua condição vulnerável, trágica e ferida. Pelo contrário: os livros sagrados constituem documentos inapagáveis do sofrimento humano no tempo; contam avalanchas e razias, perdas de estatuto político e deportações, a dor dos prisioneiros e a mortificação incomensurável dos escravos; falam de doenças individuais, de infortúnios e desastres, de cercas sanitárias (como no caso da lepra) e de histórias clínicas agravadas. Mas na conceção bíblica a vida não se resume ao enredo niilista dos seus agravos. A vida é também prática e esperança de reparação. Ora, uma forma histórica de reparação devida à dor humana é precisamente o cuidado. Em Portugal, com solavancos e atrasos, lá se chegou a uma das leis que correspondem efetivamente a um avanço civilizacional: a aprovação do Estatuto do Cuidador Informal. Estima-se que possam reclamar o direito a ele (porque, em concreto, já o exercem) cerca de 800 mil portugueses. Contudo, a lentidão dos processos administrativos e a escassa informação pública têm provocado uma ralentização inaceitável. Até meio de dezembro passado, o número dos cidadãos que pediu o documento de acesso ao estatuto não chegava aos 4 mil. E este facto torna ainda mais violenta e incompreensível a pressa em aprovar uma lei desumana como a da eutanásia. (Tolentino Mendonça –  Jornal Expresso)

A vida não é um caminho a direito

O futuro sempre foi insondável. Nos dias em que vivemos, muitos já aprenderam a lição de que os amanhãs não se deixam prever com segurança. A verdade é que somos frágeis e devemos cuidar de responder e de nos adaptarmos a cada momento, sem grandes convicções em relação ao que será o dia seguinte. O caminho descobre-se a cada dia. Há paragens em que não paramos, outras em que paramos e outras em que nos demoramos, mas a nossa vontade nunca é a única a decidir! Há dias em que acordamos num caminho diferente daquele em que estávamos quando anoiteceu. A fé é um sinal forte de que haverá uma razão acima das razões, mas a dúvida jamais deixa essa nossa confiança em paz. São sempre tantas as incertezas, em nós e fora de nós, que só pode ter certezas… quem não sabe nada! Só os ignorantes sabem o que vai acontecer daqui a um ano! Tudo muda, mesmo aquilo que as nossas convicções julgam impossível. Sem âncoras, andamos na vida a navegar tempestades. Fomos condenados a viver num mundo instável, inconstante e turbulento. E se há quem vá ao fundo, também há quem aprenda e lute para ficar à tona, sendo que alguns destes passam o tempo a resgatar náufragos! Uma pessoa vazia de grandes certezas pode ser alguém cheio de fé! (José Luís Nunes Martins)

370 milhões de crianças Africanas com fome

Quem já visitou alguma escola africana sabe disso: bem ao lado das salas de aula, em um pequeno espaço aberto, desde a madrugada um grupo de mulheres prepara uma fogueira sob enormes caldeirões. Enquanto enxames de crianças dividem os poucos metros quadrados de salas de aula modestas mas ao mesmo tempo bem cuidadas, ou mesmo apenas a sombra de enormes árvores sob as quais as aulas são ministradas, o calor da floresta cumpre seu dever, transformando a farinha de milho e a água no alimento básico da dieta diária. No Malawi é nsima, no Uganda é posho, no Quénia e na Tanzânia é ugali. Termos diferentes para indicar esse tipo de polenta nutritiva e de baixo custo, acompanhada de uma mistura de vegetais e alguns pedaços de carne ou peixe. Enquanto os pais estão no campo, a hora do almoço na escola é de importância crucial para os alunos africanos. Poucos tomavam o café da manhã em casa, embora muitas vezes precisassem caminhar alguns quilômetros para chegar à escola. Poucos terão garantido uma refeição completa à noite em casa. Por isso, frequentar a escola nessas latitudes é mais do que ir às aulas: em muitos casos, significa poder contar com a única refeição real do dia, em grande parte garantida por doações de organismos internacionais. A pandemia de Covid-19, apesar de ter causado menos vítimas na África (pelo menos em nível oficial) do que em outros continentes, deste ponto de vista atingiu fortemente aqui. Os bloqueios que fecharam as escolas durante meses afetaram, de fato, não apenas uma economia informal, que se fortalece no contato diário com os outros, mas também a alimentação regular das crianças. Um alarme que já havia sido levantado por missionários e organizações internacionais e que agora é “certificado” por um relatório lançado pelo UNICEF e o Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (PMA). O estudo (“Covid-19: Faltando mais do que uma sala de aula”) revela que 39 bilhões de refeições escolares foram “perdidas” desde o início da pandemia. De acordo com os especialistas, 370 milhões de crianças em todo o mundo perderam 40% de suas refeições escolares desde que as restrições causadas pela Covid-19 fizeram com que as escolas fechassem. É por isso que o UNICEF e o PAM estão pedindo urgentemente aos governos que reabram as escolas e garantam que as necessidades de saúde, alimentação e nutrição das crianças sejam atendidas com programas extensivos de merenda escolar. Indicações semelhantes, não se referindo apenas às crianças, chegaram também ontem da ONG italiana Mani Tese na Guiné-Bissau. De acordo com sua pesquisa, de fato, no país o consumo de alimentos entre as famílias diminuiu de três para duas refeições por dia, devido às restrições necessárias para a prevenção da Covid-19. A renda familiar caiu devido à suspensão das feiras e ao fechamento das fronteiras, o que reduziu bastante o comércio. Espero que também aqui, como no resto do continente, chegue a vacina, mas os tempos não serão rápidos. Enquanto os países ricos continuam suas campanhas de vacinação, a África pode levar até três anos para imunizar 60% de seus 1,3 bilhão de habitantes. Além da UA e dos estados individuais, a Covax, iniciativa promovida pela OMS para o acesso igualitário às vacinas anti-Covid-19, também se move. Seu plano prevê atribuir uma primeira parcela de 337 milhões de doses aos países mais pobres (não apenas africanos) no primeiro semestre de 2021, uma atribuição que, no entanto, cobrirá em média apenas 3,3% da população total de mais de 140 países. acessar o primeiro ciclo de entregas. No total, a África deve receber 600 milhões de doses da vacina da Covax. Nem todas, entretanto, estarão disponíveis este ano: por exemplo, 500 milhões de doses da vacina candidata experimental da Johnson & Johnson serão incluídas, com entregas finais esperadas apenas em 2022. (©Avvenire)