Levar o Natal à séria!

Estás preparado para que Ele nasça? Não é um nascimento qualquer. É o nascimento. Aquele que marca todo o ano. Aquele que te deve marcar de cima a baixo deixando bem tecida a Sua vinda. É a chegada daquele que não sendo prepotente pede-Te que sejas mais inteiro e verdadeiro. Estás preparado para que Ele nasça? É muito mais do que uma recordação. É muito mais do que um simbolismo. É um convite que te leva a uma desconstrução de tudo aquilo que és e fazes. Pode inclusive desafiar-te a também tu nasceres de novo, se permitires que Ele realmente nasça e cresça no que de mais profundo há em ti. Levar o Natal à séria é deixares que Ele te reinvente e te coloque do avesso. É dares o “sim” a uma lógica contrária num mundo que ateima em não contemplar e encontrar beleza na simplicidade. Levar o Natal à séria é veres o mundo e os que te rodeiam com outros olhos. Com olhos que veem. Com olhos que abraçam. Com olhos que escutam. Com olhos que procuram os que ninguém vê e os que ninguém quer saber. Levar o Natal à séria é coisa para te deixar desconfortável, porque Ele vem-te pedir tudo de ti. Não vem apenas buscar o que de melhor tens. Não vem chamar-te apenas nas horas vagas. Vem buscar-te com tudo de bom e de mau. Vem para te relembrar que em todo o momento és convidado a dar seguimento ao Seu desafio de amar mais. De amar melhor. De amar tudo e todos. Levar o Natal à séria é descobrir um Deus que se faz próximo. Que se faz grande na Sua pequenez. Que se torna divino com a Sua humanidade. E que nos entrega tudo isto pedindo que façamos o mesmo. Levar o Natal à séria é reconhecer tudo isto como mágico, mas saber que ele não acontece por magia! (© iMissio)

Muitos começam, poucos acabam

Temos muitos projetos, mas poucos sucessos, até porque a maior parte dos nossos sonhos nunca chegam a sair do reino da imaginação. Ficam na nossa almofada como se fossem impossíveis. O que faz diferença na vida não é sermos teimosos e incapazes de perceber o que se passa à nossa volta, como se fossemos um animal cego. O que importa é definir com ponderação um caminho, garantindo que temos reservas de convicção suficientes para superar as mais do que certas faltas de vontade que vamos ter de enfrentar. A vida é a subir. Se nos distraímos, desequilibramo-nos, andamos para trás e… caímos. Só se vencem as grandes batalhas quando se é capaz de lidar com as pequenas. Os fracassos são parte do caminho. Todos caem, mas só alguns são capazes de descobrir o sentido e o valor de cada obstáculo, seja ele uma pedra no exterior ou uma angústia no íntimo. A felicidade que busco depende muito da minha vontade. Da minha capacidade de não perder o entusiasmo, mesmo quando andei muito tempo na direção errada e tenho de voltar tudo para trás. Só amamos alguém quando aceitamos tudo quanto esse amor traz consigo. Podemos revoltar-nos por estar a chover, ou podemos, no nosso íntimo, aceitar a chuva e… deixar que chova. A felicidade é possível e, diria, obrigatória! Não adies, não julgues que há outras coisas mais importantes, ou que se podem também ir fazendo ao mesmo tempo, não desistas à primeira ferida, por mais funda que seja, não te desculpes nem justifiques, termina cada etapa… mais vale feito do que perfeito. Todos temos as nossas misérias, não te fixes nas tuas nem ignores a existências das dos outros. Segue adiante, pelo caminho que é só teu, que és tu. Desperdiçar dons, tempo e oportunidades todos sabem. Ser feliz é uma obra de mestres. Não, não julgues que não está ao teu alcance, isso é apenas o medo a murmurar-te ao ouvido! Mais, a única forma de saber se isso é verdade ou mentira é lutar para sermos melhores e, depois, ver até onde é que isso nos levou! Se não souberes por onde começar: Afasta-te do mal! É um bom começo, mas não chega! Não te percas em palavras. As obras é que são amor. Começa e acaba! (José Luís Nunes Martins)

Maria

Gosto de pensar, Maria, que até a tua fraqueza sustentava a tua força, que sabias aceitar passar por tantas incertezas, fazendo com que o teu coração aderisse a uma confiança que não se via. E é por isso que a minha agitação confusa, a minha indecisão, os medos que me atacam em determinados momentos e que tu, que tudo compreendes, sabes abraçar não te são estranhos. Gosto de lembrar como foi difícil sua jornada, cheia de obstáculos mais difíceis do que os que enfrento, vencida por sombras, derrapagens e dores. E que o teu olhar se tornou um ventre imenso, onde posso depor tudo o que tanto me custa e que tu, que tudo entendes, saibas abraçar. Gosto de contemplar sua capacidade de agradecer. Agradecer a anunciação luminosa e suas duras consequências; aquelas palavras claras e depois uma sucessão dolorosa de momentos passados ​​imaginando como será; a mansidão da brisa e a dureza do vento. E por isso abraças o meu cansaço de viver com esperança a minha força e a minha fragilidade; o que eu realizo e o que deixarei de fazer; o que depende ou não depende de mim – e você entende tudo. Gosto de saber que você achou os planos de Deus infinitamente superiores a você e que, mais uma vez, você se sentiu pequeno, sozinho e não à altura, como muitas vezes me sinto. E também por isso, no fundo de mim experimento que você me abraça, você que tudo entende. o que eu realizo e o que deixarei de fazer; o que depende ou não depende de mim – e você entende tudo. (D. Tolentino Mendonça in Avvenire)

Rezar o Advento

Advento, tempo de espera. Não apenas de um dia, mas daquilo que os dias, todos os dias, de forma silenciosa, transportam: a Vida, o mistério apaixonante da Vida que em Jesus de Nazareth principiou. Advento, tempo de redescobrir a novidade escondida em palavras tão frágeis como “nascimento”, “criança”, “rebento”. Advento, tempo de escutar a esperança dos profetas de todos os tempos. Isaías e Bento XVI. Miqueias e Teresa de Calcutá. Advento, tempo de preparar, mais do que consumir. Tempo de repartir a vida, mais do que distribuir embrulhos. Advento, tempo de procura, de inconformismo, até de imaginação para que o amor, o bem, a beleza possam ser realidades e não apenas desejos para escrever num cartão. Advento, tempo de dar tempo a coisas, talvez, esquecidas: acender uma vela; sorrir a um anjo; dizer o quanto precisamos dos outros, sem vergonha de parecermos piegas. Advento, tempo de se perguntar: “há quantos anos, há quantos longos meses desisti de renascer?” Advento, tempo de rezarmos à maneira de um regato que, em vez de correr, escorre limpidamente. Advento, tempo de abrir janelas na noite do sofrimento, da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro. Advento, tempo para contemplar o infinito na história, o inesperado no rotineiro, o divino no humano, porque o rosto de um Homem nos devolveu o rosto de Deus. (D. José Tolentino Mendonça)

Contra o medo, a consolação da fé

O medo teve e tem uma grande importância na vida das pessoas e dos países. Como demonstrou um historiador crente como Jean Delumeau, o medo condicionou a mentalidade da Europa de modo profundo, na passagem da Idade Média para a Idade Moderna e continua a ser um factor importante nos nosso dias. Ontem, era o medo dos elementos da natureza, dos animais selvagens, o medo dos invasores estranhos, o medo dos feitiços e dos feiticeiros, da almas penadas, o medo das doenças e sobretudo o medo da peste. Foi o medo que deu origem a instituições cruéis e levou a formas doentias de imaginação. Foi o medo que levou a pensar os Novíssimos da maneira que os pensámos, como julgamento impiedoso, como inferno criado por Deus e assim por diante. Com a evolução da ciência e da técnica, parecia que esse mundo do medo tinha ficado para trás, como recordação de um tempo de obscurantismo. Parecia que não haveria mais peste e que teríamos chegado a uma libertação do mal, da doença, da pobreza. A própria fé cristã começou, e bem, a apresentar Deus como bondade, a renovar os seus imperativos morais para lá das antigas sanções e a arrumar as antigas concepções do outro mundo no lugar das coisas menos úteis. Mas eis que, nos dias que correm, de pandemia e de incerteza, tudo isso parece posto em causa. E estão a acontecer coisas que dão que pensar. Nestes meses de pandemia, eis que despertam e se desenvolvem rapidamente antigos fantasmas. Basta olhar à nossa volta para identificar alguns. As ideologias de direita dão em inventar novos inimigos, sejam os estrangeiros, sejam os ciganos, os imigrantes, que é necessário identificar e desmascarar, pois estão a pôr em causa o nosso modo de vida. As ideologias de esquerda, por sua vez, clamam contra os nossos hábitos de vida, pois são geradores de pobreza, de mudanças climáticas, de aquecimento global. Uns e outros propõem medidas drásticas, a modo de cruzada, que é uma forma de ignorar a racionalidade. A situação de doença generalizada e sem remédio que estamos a viver vem pôr os sentimentos à flor da pele e trazer ao de cima o fundo obscuro da alma. É num tal contexto que se torna necessário reforçar a fé como forma de viver sensatamente, mesmo no contexto de infortúnio que nos atinge. A fé no verdadeiro Deus tem a virtualidade de nos guiar na vivência correcta das situações da vida. O que nos convém fazer diante do regresso do medo irracional? Convém-nos sempre voltar a escutar Jesus e a reviver a sua experiência insubstituível da paternidade divina. Antes de ser juiz, Deus é alguém mais importante. Vive connosco o sofrimento e a luta pelo triunfo da vida contra os seus agressores. A peste não é um castigo, mas uma provação. E Deus é o primeiro atingido por essa provação. Foi isso que experimentámos na páscoa de Jesus, que é um encontro doloroso com a força caótica que se opõe a Deus e quer aniquilar a criação divina. Segundo a Escritura, essa força estará sempre activa, de forma que nenhuma ciência e técnica a poderá anular e superar em definitivo. Por isso, é necessário viver continuamente com Jesus a luta contra o mal e a oposição a Deus criador e redentor. Será neste regresso continuo à fonte da fé que os cristãos encontrarão uma espiritualidade que lhe dê lucidez e consolação para enfrentar a dureza dos dias que correm. As propostas apocalípticas extremistas sempre devem fazer desconfiar os cristãos. Quem saber ter do seu lado Deus, não embarca em extremismos, políticos ou teológicos, que são sempre visões apressadas da realidade. (Voz Portucalense)