Testemunhar a fé não com palavras, mas com o exemplo

Na catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (13/09), realizada na Praça São Pedro, o Papa Francisco falou sobre o zelo apostólico de um leigo: o Beato José Gregório Hernández Cisneros. Nascido na Venezuela, em 26 de outubro de 1864, “recebeu a fé sobretudo da mãe, como contou: «A minha mãe ensinou-me a virtude desde o berço, fez-me crescer no conhecimento de Deus e deu-me a caridade como guia»”. “São as mães que transmitem a fé. A fé se transmite em dialeto, ou seja, com a linguagem das mães, aquele dialeto que as mães sabem falar com os filhos. Vocês mães fiquem atentas a transmitirem a fé com aquele dialeto materno”, sublinhou o Pontífice. Segundo Francisco, “a caridade foi a estrela que norteou a existência do Beato José Gregório: pessoa boa e radiante, de caráter alegre, era dotado de uma inteligência marcante; tornou-se médico, professor universitário e cientista”. Viver a serviço de Deus e do próximo Mas foi antes de tudo um médico próximo dos mais fracos, tanto que era conhecido na sua pátria como “o médico dos pobres”. À riqueza do dinheiro preferiu a do Evangelho, dedicando sua existência para socorrer os necessitados. “Nos pobres, nos doentes, nos migrantes, nos sofredores, José Gregório via Jesus. E o sucesso que nunca buscou no mundo o recebeu, e continua recebendo, das pessoas, que o chamam de “santo do povo”, “apóstolo da caridade”, “missionário da esperança”.” O Papa prosseguiu, dizendo que “José Gregório era um homem humilde, gentil e disponível. E ao mesmo tempo era movido por um fogo interior, pelo desejo de viver a serviço de Deus e do próximo. Movido por esse ardor, tentou várias vezes tornar-se religioso e sacerdote, mas vários problemas de saúde o impediram de fazê-lo. No entanto, a sua fragilidade física não o levou a fechar-se em si mesmo, mas a tornar-se um médico ainda mais sensível às necessidades dos outros; agarrou-se à Providência e, fortalecido na alma, foi mais ao essencial”. «O sacerdócio da dor humana» Eis o zelo apostólico dele: não segue as próprias aspirações, mas a sua disponibilidade aos desígnios de Deus. E assim o Beato compreendeu que, por meio do cuidado dos doentes, colocaria em prática a vontade de Deus, socorrendo os que sofrem, dando esperança aos pobres, testemunhando a fé não com palavras, mas com o exemplo. “Chegou assim, nesta estrada interior, a acolher a medicina como um sacerdócio: «o sacerdócio da dor humana». Quão importante é não sofrer passivamente as coisas, mas, como diz a Escritura, fazer tudo com bom coração, para servir ao Senhor.” Esse entusiasmo, esse zelo de José Gregório vinham “de uma certeza e de uma força”. “A certeza era a graça de Deus”, sublinhou o Pontífice. “Ele por primeiro sentia a necessidade da graça, que a mendigava nas ruas e tinha extrema necessidade do amor. E eis a força que ele almejava: a intimidade com Deus. Era um homem de oração, a graça de Deus e a intimidade com Deus. Era um homem de oração que participava da missa”, disse o Papa. Promover o bem, construir a paz na justiça e na verdade No contato com Jesus, José Gregório “se oferece no altar por todos”. Ele “sentiu-se chamado a oferecer a sua vida pela paz. O primeiro conflito mundial estava em andamento. Chegamos assim ao dia 29 de junho de 1919: um amigo o visita e o encontra muito feliz. José Gregório soube de fato que foi assinado o tratado que põe fim à guerra. Sua oferta foi aceita e é como se ele sentisse que sua missão na terra estivesse concluída. Naquela manhã, como sempre, tinha ido à missa e depois saiu às ruas para levar remédios a um doente. Mas, enquanto atravessava a rua, foi atropelado por um veículo; levado ao hospital, morreu pronunciando o nome de Nossa Senhora. Assim terminou o seu caminho terreno, em uma rua, enquanto realizava uma obra de misericórdia, e em um hospital, onde fez de seu trabalho uma obra-prima como médico”. Ele nos estimula ao compromisso diante das grandes questões sociais, econômicas e políticas de hoje. Muitos falam sobre isso, tantos falam mal sobre isso, tantos criticam e dizem que tudo vai mal. “Mas o cristão não é chamado a isto, mas sim a se ocupar disso, a sujar as mãos: antes de tudo, como nos disse São Paulo, a rezar, e depois a empenhar-se não em falatórios, a fofoca é uma praga, mas na promoção do bem, na construção da paz e da justiça na verdade.” Também isto é zelo apostólico, é anúncio do Evangelho, é bem-aventurança cristã: “Bem-aventurados os pacificadores”. “Sigamos em frente no caminho do Beato Gregório, um leigo, um médico, um homem de trabalho cotidiano que o zelo apostólico o impeliu a viver fazendo a caridade durante toda a vida”, concluiu Francisco. (Vatican news)
Distante dos holofotes estão os sinais da presença de Deus

Passados os dias de calor intenso causado pelo verão, a Praça São Pedro voltou a receber milhares de fiéis e peregrinos para a tradicional Audiência Geral. Durante a catequese desta quarta-feira (06 de setembro), o Papa Francisco relembrou a sua recente viagem à Mongólia, realizada nos dias 31 de agosto a 4 de setembro. O Pontífice começou expressando a sua gratidão a todos aqueles que acompanharam suas atividades no país asiático com orações. E reforçou os seus agradecimentos às autoridades que o acolheram solenemente, em particular ao Presidente Khürelsükh e também ao ex-presidente Enkhbayar, que fez o convite oficial para a visita ao país. Uma igreja humilde e feliz Francisco disse recordar com alegria a Igreja local e o povo mongol: um povo nobre e sábio, que me mostrou tanta cordialidade e carinho, “hoje gostaria de levá-los ao coração desta viagem”, destacou. E alguém poderia se perguntar, observou Francisco: “Mas por que o Papa vai tão longe para visitar um pequeno rebanho de fiéis? Porque é precisamente ali, distante dos holofotes, que muitas vezes se encontram os sinais da presença de Deus, que não olha para as aparências, mas para o coração. O Senhor não procura o centro do palco, mas o coração simples de quem O deseja e O ama sem aparecer, sem querer destacar-se dos outros. E tive a graça de encontrar na Mongólia uma Igreja humilde e feliz, que está no coração de Deus, e posso testemunhar-vos a sua alegria por se encontrarem por alguns dias também no centro da Igreja.” Missionários apaixonados pelo evangelho O Pontífice destacou a emocionante história daquela pequena comunidade cristã, que surgiu, por graça de Deus, e através do zelo apostólico de alguns missionários que, apaixonados pelo Evangelho, foram enviados para aquele país desconhecido. Ao evidenciar o trabalho árduo e incansável realizado ao longo dos anos pela Igreja, o Papa explicou que a palavra “católica”, significa “universal”, e acrescentou: “não se trata de uma universalidade que homogeneíza, mas de uma universalidade que se incultura. Isto é a catolicidade: uma universalidade encarnada, que percebe o bem ali onde vive e serve as pessoas com quem vive.” “Assim vive a Igreja: testemunhando o amor de Jesus com mansidão, com a vida antes que com as palavras, feliz pelas suas verdadeiras riquezas: o serviço ao Senhor e aos irmãos.” O Pontífice fez então memoria da “Casa de Misericórdia”, inaugurada por ele no último dia da viagem, sendo a primeira obra de caridade na Mongólia. “Aquele espaço expressa todos os componentes da Igreja local: um lugar aberto e acolhedor, onde as misérias de todos podem entrar em contato sem vergonha com a misericórdia de Deus que eleva e cura. Eis o testemunho da Igreja mongol, com missionários de vários países que se sentem um com o povo, felizes em servi-lo e descobrir as belezas que já existem ali”. “Os missionários não foram lá para fazer proselitismo, isso não é evangélico, eles foram lá para viver como o povo mongol, para falar a língua deles, para assumir os valores daquele povo e pregar o Evangelho no estilo daquela cultura”, completou Francisco. Há sempre alguma riqueza a descobrir O Papa sublinhou a beleza do encontro com todo o povo mongol, e disse que ao ouvir as suas histórias, pôde admirar ainda mais a busca religiosa ali vivenciada. Ao recordar o encontro inter-religioso e ecumênico, Francisco ressaltou que a Mongólia tem uma grande tradição budista, com tantas pessoas que no silêncio vivem a sua religiosidade de forma sincera e radical, por meio do altruísmo e da luta contra as próprias paixões. “Pensemos em quantas sementes do bem, no escondimento, fazem germinar o jardim do mundo, enquanto habitualmente ouvimos falar somente do som das árvores que caem!” Para Francisco é crucial saber perceber e reconhecer o bem: “muitas vezes, porém, apreciamos os outros apenas na medida em que correspondem às nossas ideias. Pelo contrário, Deus pede-nos para ter um olhar aberto e benevolente, porque, sem cair em nocivos sincretismos e em fáceis irenismos, há sempre alguma riqueza a descobrir: nas pessoas como nas culturas, nas religiões como nas nações.” “Por isso é importante, como faz o povo mongol, orientar o olhar para o alto, para a luz do bem. Só assim, a partir do reconhecimento do bem, se constrói o futuro comum; somente valorizando o outro podemos ajudá-lo a melhorar. E isso acontece com as pessoas e também com as populações. Por outro lado, Deus age assim conosco: olha-nos com benevolência, com confiança, com o olhar do coração.” Ao concluir a catequese, o Santo Padre disse que lhe fez bem estar no coração da Ásia. E destacou como foi importante entrar em diálogo com aquele grande continente, captar suas mensagens, conhecer sua sabedoria, sua maneira de ver as coisas, de abraçar o tempo e o espaço. “Fez-me bem encontrar o povo mongol, que preserva as suas raízes e tradições, respeita os idosos e vive em harmonia com o meio ambiente: é um povo que perscruta o céu e sente a respiração da criação. Pensando nas extensões ilimitadas e silenciosas da Mongólia, deixemo-nos estimular pela necessidade de alargar os limites do nosso olhar, para que veja o bem que há nos outros e seja capaz de expandir os próprios horizontes.” O Papa Francisco finalizou exortando a todos: “por favor: ampliem os limites, e não se deixem aprisionar pela pequenez, permitam-se alargar o coração, para estarmos próximos de todas as pessoas e de todas as civilizações”.
Para anunciar não basta dar testemunho do bem, é preciso saber suportar o mal

Na audiência geral desta quarta-feira, 23 de agosto, numa Sala Paulo VI repleta de fiéis e peregrinos, o Papa retomou o percurso catequético sobre a paixão por evangelizar. Neste percurso para redescobrir a paixão pelo anúncio do Evangelho, na catequese que teve como título O anúncio na língua materna: são Juan Diego, mensageiro da Virgem de Guadalupe, Francisco lançou seu olhar para as Américas. Ali a evangelização tem uma fonte sempre viva: Guadalupe. É uma fonte viva. Os mexicanos se alegram. Certamente o Evangelho já lá tinha chegado antes daquelas aparições, mas infelizmente foi acompanhado também por interesses mundanos. Em vez do caminho da inculturação, observou o Pontífice, tomou-se muitas vezes o percurso apressado do transplante e da imposição de modelos pré-constituídos – europeus, por exemplo -, sem respeito pelas populações indígenas. A Virgem de Guadalupe, pelo contrário, aparece vestida com as roupas dos autóctones, fala a sua língua, acolhe e ama a cultura local: Maria é Mãe e sob o seu manto cada filho encontra lugar. Em Maria, Deus fez-se carne e, através de Maria, continua a encarnar-se na vida dos povos. Nossa Senhora, de fato, anuncia Deus na língua mais adequada, a língua materna. E também a nós Nossa Senhora nos fala na língua materna, que nós entendemos muito bem, continuou o Santo Padre. O Evangelho é transmitido na língua materna. E gostaria de dizer obrigado a tantas mães e avós que o transmitem aos seus filhos e netos: a fé passa com a vida, por isso as mães e as avós são as primeiras anunciadoras. Um aplauso às mães e avós! E o Evangelho se comunica, como mostra Maria, na simplicidade: Nossa Senhora escolhe sempre os simples, na colina de Tepeyac, no México, como em Lourdes e em Fátima: falando-lhes, fala a cada um, numa linguagem adequada a todos, com uma linguagem compreensível, como a de Jesus. Refletindo sobre o testemunho de São Juan Diego, mensageiro da Virgem de Guadalupe, Francisco destacou que ele era uma pessoa humilde, um índio do povo: sobre ele pousou o olhar de Deus, que gosta de fazer milagres através dos mais pequeninos. Juan Diego entrou na fé já adulto e casado, observou o Papa. Em dezembro de 1531, tinha cerca de 55 anos. Enquanto estava a caminho, vê numa altura a Mãe de Deus, que lhe chama com ternura «meu pequeno e amado filho Juanito». Depois envia-o ao Bispo para pedir que construa um templo no lugar onde ela tinha aparecido. Juan Diego, simples e disponível, vai com a generosidade do seu coração puro, mas tem de esperar muito tempo. Finalmente fala com o Bispo, que não acredita nele. E muitas vezes nós bispos… muitas vezes… Volta a encontrar Nossa Senhora, que o consola e lhe pede que tente de novo. O índio volta ao Bispo e, com grande dificuldade, encontra-o, mas o Bispo, depois de o ouvir, despede-o e envia homens para o seguirem. Eis a fadiga, a prova do anúncio: não obstante o zelo, chegam os imprevistos, por vezes da própria Igreja. Para anunciar, com efeito, não basta dar testemunho do bem, é preciso saber suportar o mal. Não nos esqueçamos isto: é muito importante, para anunciar o Evangelho não basta testemunhar o bem, mas é preciso saber suportar o mal. Um cristão faz o bem, mas suporta o mal. Ambos caminham juntos, a vida é assim. Ainda hoje, em tantos lugares, inculturar o Evangelho e evangelizar as culturas exige perseverança e paciência, não temer os conflitos, não desanimar. Juan Diego, desanimado, pede a Nossa Senhora que o dispense e que encarregue alguém mais estimado e capaz do que ele, mas é instado a perseverar. Francisco ressaltou que há sempre o risco de uma certa rendição no anúncio: uma coisa não corre bem e recua-se, desanimando e talvez refugiando-se nas próprias certezas, em pequenos grupos e nalgumas devoções intimistas. Nossa Senhora, pelo contrário, ao mesmo tempo que nos consola, faz-nos ir em frente e assim nos faz crescer, como uma boa mãe que, seguindo os passos do filho, o lança nos desafios do mundo. O Bispo, que tinha dificuldade em acreditar, vendo a insistência do indígena, pede um sinal. Apesar de ser inverno, o indígena recolhe em sua “tilma” lindas flores que encontra no alto do Tepeyac. Diante do Bispo, ao abrir o manto onde trazia as flores, eis que aparece a imagem de Nossa Senhora, que conhecemos e veneramos até hoje. Juan Diego deixa tudo e, com a autorização do Bispo, dedica a sua vida ao santuário. Acolhe os peregrinos e evangeliza-os. É o que acontece nos santuários marianos, meta de peregrinações e lugares de anúncio, onde todos se sentem em casa e experimentam a saudade, a nostalgia do Céu. Ali, a fé é acolhida de forma simples e genuína, popular, e Nossa Senhora, como disse a Juan Diego, escuta os nossos prantos e cura as nossas penas. Precisamos de ir a estes oásis de consolação e de misericórdia – exortou, por fim, Francisco -, onde a fé se exprime numa linguagem materna; onde depositamos as fadigas da vida nos braços de Nossa Senhora e regressamos à vida com a paz no coração, talvez com a paz das crianças. (Vatican news)
Os evangelizadores testemunham com a própria vida o que anunciam

A catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (31/07), teve como exemplo de zelo apostólico o pe. Matteo Ricci, italiano que foi à China. “Natural de Macerata, na região das Marcas, depois de ter estudado nas escolas dos jesuítas e de ter entrado na Companhia de Jesus, entusiasmado pelos relatórios dos missionários, como muitos outros jovens, seus companheiros, pediu para ser enviado para as missões do Extremo Oriente. Depois da tentativa de Francisco Xavier, mais vinte e cinco jesuítas procuraram, sem sucesso, entrar na China”, sublinhou o Papa. De acordo com Francisco, “Matteo Ricci e um de seus confrades se prepararam muito bem, estudando cuidadosamente a língua e os costumes chineses, e no final conseguiram estabelecer-se no sul do país. Foram necessários dezoito anos, com quatro etapas em quatro cidades diferentes, antes de chegar a Pequim, que era o centro. Com constância e paciência, animado por uma fé inabalável, Matteo Ricci conseguiu superar dificuldades e perigos, desconfianças e oposições. Ele seguiu sempre o caminho do diálogo e da amizade com todas as pessoas que encontrou, e isto abriu-lhe muitas portas para o anúncio da fé cristã“. Comportamento de inculturação A sua primeira obra em língua chinesa foi precisamente um tratado “Sobre a amizade”, que teve grande ressonância. Para se integrar na cultura e na vida chinesas, num primeiro período vestia-se como os bonzos budistas, conforme o costume do país, mas depois compreendeu que a melhor maneira era assumir o estilo de vida e os trajes dos eruditos. Estudou profundamente os seus textos clássicos, a fim de poder apresentar o cristianismo em diálogo positivo com a sua sabedoria confucionista e os usos e costumes da sociedade chinesa. Isso se chama um comportamento de inculturação. Estes missionários souberam “inculturar” a fé cristã em diálogo com a cultura grega. Segundo o Papa, “a sua excelente preparação científica suscitava o interesse e a admiração dos homens cultos, começando pelo seu famoso mapa-múndi, o mapa de todo o mundo então conhecido, com os diferentes continentes, que revela aos chineses, pela primeira vez, uma realidade fora da China muito mais vasta do que pensavam”. De acordo com o Papa, “os conhecimentos matemáticos e astronômicos de Ricci e de seus seguidores missionários contribuíram para um encontro fecundo entre a cultura e a ciência do Ocidente e do Oriente, que então viverá uma das suas épocas mais felizes, no sinal do diálogo e da amizade. Com efeito, a obra de Matteo Ricci nunca teria sido possível sem a colaboração de seus grandes amigos chineses, como os famosos “Doutor Paulo” (Xu Guangqi) e o “Doutor Leão” (Li Zhizao)”. A coerência dos evangelizadores “No entanto, a fama de Ricci como homem de ciência não deve obscurecer a motivação mais profunda de todos os seus esforços: o anúncio do Evangelho. A credibilidade obtida mediante o diálogo científico conferia-lhe autoridade para propor a verdade da fé e da moral cristã, que ele debate de modo aprofundado nas suas principais obras chinesas, como O verdadeiro significado do Senhor do Céu“, sublinhou Francisco. “Esses missionários rezavam, pregavam, se moviam, faziam jogadas políticas, tudo isso, mas rezavam. É o que alimenta a vida missionária, uma vida de caridade, ajudavam os outros, humildade e um total desinteresse por honras e riquezas que levam muitos dos seus discípulos e amigos a aceitar a fé católica porque viam um homem tão inteligente, tão sábio, tão astuto, no bom sentido da palavra, para fazer as coisas e tão fiel, que diziam: O que prega é verdadeiro, é uma personalidade que dá testemunho“, disse ainda o Papa. “Testemunha com a própria vida o que anuncia. Esta é a coerência dos evangelizadores. Isso cabe a todos nós cristãos que somos evangelizadores. Eu posso rezar o Credo de cor, posso dizer todas as coisas que acreditamos, mas se a vida não for coerente com isso, não serve a nada. O que atrai as pessoas é o testemunho de coerência. Nós cristãos vivemos o que pregamos. Não fazer de conta de viver como cristãos e depois viver como mundanos. Fiquem atentos! Olhando para esses missionários, esse era italiano, a força maior é a coerência. Eles são coerentes.” “Matteo Ricci faleceu em Pequim, em 1610, aos 57 anos. Um homem que dedicou toda a sua vida à missão. O espírito missionário de Mateo Ricci é um modelo vivo atual. O seu amor pelo povo chinês é um modelo, mas o que é uma estrada atual é a coerência de vida, o testemunho de sua vida como cristão. Ele levou o cristianismo à China. Ele é grande porque é um grande cientista, ele é grande porque é corajoso, ele é grande porque escreveu muitos livros, mas sobretudo é grande porque foi coerente com a sua vocação, coerente com o desejo de seguir Jesus Cristo. Irmãos e irmãs, hoje nós, cada um de nós, se pergunte: “Sou coerente ou sou um pouco mais ou menos?”, concluiu Francisco.
Zelo apostólico, a coragem de se levantar quando se cai

Na catequese sobre o zelo apostólico, na Audiência Geral desta quarta (24/05), na Praça São Pedro, o Papa Francisco falou sobre o testemunho de Santo André Kim Taegon, “numa terra muito distante daqui, ou seja, na Igreja coreana”. A vida de Santo André Kim Taegon, mártir e primeiro sacerdote coreano, “foi e permanece um eloquente testemunho de zelo pelo anúncio do Evangelho”. “Vocês sabiam que a evangelização da Coreia foi feita por leigos? Foram os leigos batizados que transmitiram a fé. Não havia sacerdotes. Houve depois, mais tarde. A primeira evangelização foi feita pelos leigos. Seremos capazes de algo assim? Pensem! É algo interessante”, disse o Papa. “Há cerca de 200 anos, o território coreano foi teatro de uma perseguição muito severa contra a fé cristã. Os cristãos eram perseguidos e aniquilados. Na Coreia daquela época, acreditar em Jesus Cristo significava estar pronto a dar testemunho até à morte”, recordou Francisco, citando dois aspectos concretos da vida de Santo André Kim. “O primeiro é o modo como ele devia encontrar-se com os cristãos, com os fiéis. Considerando o contexto altamente intimidatório, o Santo era obrigado a aproximar-se dos cristãos de maneira não evidente e sempre na presença de outras pessoas. Depois, às escondidas, ele fazia esta pergunta: “Você é discípulo de Jesus?”. Dado que havia outras pessoas que assistiam à conversa, o Santo devia falar em voz baixa, pronunciando apenas algumas palavras, as mais essenciais”, frisou o Papa. Para André Kim, a expressão que resumia toda a identidade do cristão era “discípulo de Jesus”. Você é discípulo de Cristo? Perguntava “em voz baixa porque era perigoso. Era proibido ser cristão ali”, sublinhou. “Ser discípulo do Senhor significa segui-lo, seguir o seu caminho. O cristão é por sua natureza aquele que prega e dá testemunho de Jesus. Cada comunidade cristã recebe esta identidade do Espírito Santo, assim como a Igreja inteira, a partir do dia de Pentecostes”, frisou o Pontífice, acrescentando: Desse Espírito que nós recebemos nasce a paixão, a paixão pela evangelização. Este zelo apostólico grande é o dom do Espírito que Ele nos dá. E se o contexto circunstante não é favorável, como o coreano de André Kim, este não muda, aliás, adquire mais valor. Santo André Kim e os outros fiéis coreanos, demonstraram que o testemunho do Evangelho em tempo de perseguição pode dar muitos frutos na fé. “Quando o Evangelho é vivido em plenitude, a pessoa não se fecha em si mesma, mas dá testemunho da fé, levando-a assim a tornar-se fé contagiosa. É exatamente ali que nasce a paixão pela evangelização. E embora o contexto ao redor não seja favorável, ela não muda, aliás, torna-se ainda mais valiosa. Santo André Kim e os outros fiéis coreanos demonstraram que o testemunho do Evangelho oferecido em tempos de perseguição pode dar muitos frutos para a fé”, disse ainda Francisco. A seguir, o Papa citou o segundo exemplo concreto. “Quando ainda era seminarista, Santo André devia encontrar uma maneira de acolher secretamente os missionários provenientes do exterior. Não se tratava de uma tarefa fácil, pois o regime daquela época proibia rigorosamente a entrada de todos os estrangeiros no território. Por isso, foi muito difícil antes disso, encontrar um sacerdote que fosse missionar. A missão foi feita pelos leigos”, reiterou. “Certa vez ele caminhou na neve, sem comer, durante tanto tempo que caiu no chão exausto, correndo o risco de perder os sentidos e de permanecer ali congelado. Naquele momento, de repente, ouviu uma voz: “Levanta-te, caminha!”. Ao ouvir aquela voz, André acordou, vendo como que uma sombra de alguém que o orientava”, sublinhou o Papa. Segundo Francisco, esta experiência Santo André Kim “nos faz compreender um aspecto muito importante do zelo apostólico: a coragem de se levantar quando se cai”. Mas os santos caem ou não? Sim. Desde os primeiros tempos! Pensem em São Pedro! Cometeu um grande pecado, mas teve força na misericórdia de Deus e se reergueu. Em Santo André vemos esta força. Ele caiu fisicamente, mas teve a força de andar, andar, para levar a mensagem adiante. “Por mais difícil que possa ser a situação, aliás, às vezes parece não deixar espaço à mensagem evangélica, não devemos desistir e não podemos deixar de levar em frente o que é essencial na nossa vida cristã, isto é, a evangelização”, sublinhou o Papa, afirmando que “este é o caminho” e que “cada um de nós pode pensar: Como eu posso evangelizar?” Francisco convidou a olhar para esses grandes santos e fazer a nossa parte no contexto em que vivemos. Evangelizar a família, evangelizar os amigos, falar de Jesus, mas falar de Jesus, evangelizar com o coração cheio de alegria, cheio de força. Isso nos dá o Espírito Santo. Preparemo-nos para receber o Espírito Santo no próximo Pentecostes e peçamos-Lhe aquela graça, a graça é a coragem apostólica, a graça de evangelizar, de levar adiante sempre a mensagem de Jesus.