Nas decisões, é preciso confiar em Deus. Só Ele sabe o que é bom para nós

Na Audiência Geral desta Quarta-Feira (7/12), o Papa propôs o tema do tempo, desenvolvido sempre no âmbito do ciclo de catequeses sobre o discernimento. Com efeito, o tempo é um critério fundamental para reconhecer a voz de Deus em meio a tantas outras vozes. Somente Ele é o senhor do tempo: é o selo de garantia da sua originalidade, que o diferencia das imitações que falam em seu nome, sem sucesso. Na prática, uma vez tomada uma decisão, é importante, na fase sucessiva, estar atentos aos sinais para ver se confirmam ou desmentem tal decisão. Um dos sinais é a paz que perdura no tempo. Tomei a decisão correta se esta me traz harmonia, unidade, fervor e zelo. A decisão também está correta se sinto gratidão, se sinto ocupar o meu lugar na vida e, sobretudo, se me sinto livre em relação à decisão tomada. Isto é, se me sinto livre para mudá-la ou até mesmo renunciar a ela caso não corresponda à vontade do Senhor. Ele procede assim não para nos privar de algo querido, mas para vivermos com liberdade e sem apego. Somente Deus sabe o que é realmente bom para nós. A possessividade é inimiga do bem e aniquila o afeto: os muitos casos de violência doméstica nascem quase sempre da pretensão de possuir o afeto do outro. Mas o amor pressupõe liberdade. Por isso o Senhor nos criou livres, livres inclusive de dizer não a Ele. Confiar em Deus. Sempre! Mas é do nosso interesse oferecer a Ele aquilo que temos de mais precioso, sabendo que a nossa vida e toda a história estão nas suas mãos benévolas. É aquilo a que Bíblia chama o temor de Deus, isto é, respeito de Deus, condição indispensável para acolher o dom da Sabedoria. É o temor divino que afugenta todos os outros temores, todos os outros medos, porque está orientado para Aquele que é o Senhor de todas as coisas; na presença Dele, nada nos pode inquietar nem turvar. O homem livre, disse o Papa, abençoa o Senhor seja nas coisas boas, seja nas coisas nem tão boas. Reconhecer isso é fundamental para uma boa decisão e tranquiliza-nos sobre aquilo cujo controlo ou previsão não está nas nossas mãos: a saúde, o futuro, os entes queridos, os nossos projetos. Aquilo que conta é ter a nossa confiança posta no Senhor do universo, que nos ama imensamente e sabe que podemos construir, com Ele, algo de maravilhoso, de eterno. “Prossigamos sempre buscando tomar decisões assim, em oração, e sentindo o que acontece em nosso coração e ir avante lentamente. Coragem!” (Vatican news)

Não ter medo da desolação, mas nela encontrar o coração de Cristo

O Papa Francisco retomou as catequeses sobre o discernimento na Audiência Geral, desta quarta-feira (16/11), realizada na Praça São Pedro. “Por que estamos desolados” foi o tema deste encontro semanal do Pontífice com os fiéis. O Pontífice recordou a importância de “ler o que se move dentro de nós, para não tomar decisões apressadas, na onda da emoção do momento, para depois se arrepender, quando já é demasiado tarde. Neste sentido, o estado espiritual a que chamamos desolação, quando no coração tudo está escuro, triste, pode ser ocasião de crescimento”. Segundo o Papa, “a desolação provoca uma “trepidação da alma”, mantém-nos alertas, favorece a vigilância e a humildade, protegendo-nos contra os ventos do capricho. São condições indispensáveis para o progresso na vida e, portanto, inclusive na vida espiritual”. “Uma serenidade perfeita, mas “asséptica”, sem sentimento, quando se torna o critério de escolhas e comportamentos, torna-nos desumanos”, disse Francisco, acrescentando: Não podemos deixar de prestar atenção aos sentimentos, somos humanos e o sentimento é uma parte da nossa humanidade, e sem entender os sentimentos seremos desumanos, sem viver os sentimentos, seremos indiferentes ao sofrimento dos outros e incapazes de aceitar o nosso. Sem considerar que esta “serenidade perfeita” não se alcança por este caminho da indiferença. Distância asséptica: eu não me misturo nas coisas, tomo distância. Isso não é vida, isso é como se vivêssemos num laboratório, fechados para não pegar um micróbio, uma doença.  Para muitos santos e santas, a inquietação foi um ímpeto decisivo para dar uma reviravolta na própria vida. Esta serenidade artificial não é boa, mas sim uma inquietação saudável. Um coração inquieto, que busca o caminho. Como “é o caso, por exemplo, de Agostinho de Hipona, Edith Stein, José Benedito Cottolengo e Charles de Foucauld”, frisou o Papa, afirmando que “as escolhas importantes têm um preço que a vida apresenta, um preço acessível a todos. As escolhas importantes não vêm da loteria, elas têm um preço e você tem de pagar aquele preço. É um preço que você paga com o coração, um preço da decisão, um preço de levar adiante, com um pouco de esforço, mas não é grátis. É um preço que está ao alcance de todos. Todos temos que pagar esta decisão para sair do estado de indiferença que nos põe pra baixo”. A desolação é também um convite à gratuidade, a não agir sempre e unicamente em vista de uma gratificação emocional. Estar desolados oferece-nos a possibilidade de crescer, de começar uma relação mais madura, mais bela, com o Senhor e com os entes queridos, uma relação que não se reduza a uma mera troca de dar e receber. Pensemos na nossa infância. Quando se é criança, procura-se com frequência os pais para obter algo deles, um brinquedo, dinheiro para comprar um sorvete, uma autorização. E assim os procuramos não por eles mesmos, mas por um interesse. No entanto, o maior dom são eles, os pais, e compreendemos isso na medida em que crescemos. Segundo o Papa, “até muitas das nossas orações são um pouco desse tipo, são pedidos de favores dirigidos ao Senhor, sem um verdadeiro interesse por Ele. O Evangelho observa que Jesus vivia frequentemente circundado por muitas pessoas que o procuravam para obter algo, curas, ajudas materiais, mas não simplesmente para estar com Ele. Era pressionado pelas multidões e, contudo, estava sozinho. Alguns santos, e até certos artistas, meditaram sobre esta condição de Jesus. Poderia parecer estranho, irreal, perguntar ao Senhor: “Como estás?”. No entanto, é um modo muito bonito de entrar numa relação verdadeira, sincera, com a sua humanidade, com o seu sofrimento, até com a sua singular solidão. Com Ele, que quis partilhar até ao fundo a sua vida conosco”. Segundo o Papa, nos faz bem “aprender a estar com Ele, estar com o Senhor, aprender a estar com Senhor sem outro objetivo, exatamente como nos acontece com as pessoas de quem gostamos: desejamos conhecê-las cada vez mais, porque é bom estar com elas”. Francisco disse que “a vida espiritual não é uma técnica à nossa disposição, não é um programa de “bem-estar” interior que nos compete planificar. Não! A vida espiritual é a relação com o Vivente, com Deus, o Vivente, irredutível às nossas categorias”. “Quem reza observa que os resultados são imprevisíveis“, frisou o Pontífice, convidando “a não ter medo da desolação, mas levá-la adiante com perseverança, não fugir, e na desolação procurar encontrar o coração de Cristo, encontrar o Senhor, e a resposta chega sempre”. “Portanto, diante das dificuldades nunca devemos desanimar, mas enfrentar a provação com decisão, com a ajuda da graça de Deus que nunca nos falta. E se ouvirmos dentro de nós uma voz insistente, que nos quer distrair da oração, aprendamos a desmascará-la como a voz do tentador; e não nos deixemos impressionar: façamos simplesmente o contrário do que ela nos diz”, concluiu o Papa. (Vatican news)

Conhecer-se e reconhecer o que é realmente importante para nós

O Papa Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o discernimento, na Audiência Geral desta quarta-feira (05/10). O tema do encontro semanal do Pontífice com os fiéis, na Praça São Pedro, foi “Os elementos do discernimento. Conhecer a si mesmo”. Na catequese da semana passada, Francisco sublinhou a oração como “um elemento indispensável do discernimento, entendida como familiaridade e confidência com Deus. A oração com o coração aberto”, sublinhou o Papa. No encontro de hoje, o Papa ressaltou “que o bom discernimento exige também o conhecimento de si”. O discernimento envolve “memória, intelecto, vontade, afetos”. “Muitas vezes não sabemos discernir porque não nos conhecemos bem, e assim não sabemos o que realmente queremos”, sublinhou. A seguir, Francisco citou um autor de espiritualidade que diz: «Cheguei à convicção de que o maior obstáculo para o verdadeiro discernimento (e para o verdadeiro crescimento na oração) não é a natureza intangível de Deus, mas a constatação de que não nos conhecemos suficientemente, e nem sequer queremos conhecer-nos como verdadeiramente somos. Quase todos nos escondemos por trás de uma máscara, não só perante os outros, mas também quando nos olhamos no espelho». “Desativar o piloto automático” Segundo Francisco, conhecer-se “implica um paciente trabalho de escavação interior. Requer a capacidade de parar, de “desativar o piloto automático”, de tomar consciência da nossa maneira de agir, dos sentimentos que nos habitam, dos pensamentos recorrentes que nos condicionam, muitas vezes sem que saibamos. Também requer distinguir entre emoções e faculdades espirituais. “Sinto” não é a mesma coisa que “estou convencido”; “eu gostaria de” não é a mesma coisa que “eu quero”. Assim chegamos a reconhecer que a visão que temos de nós mesmos e da realidade é às vezes um pouco deturpada. Compreender isto é uma graça! Com efeito, muitas vezes pode acontecer que convicções erradas sobre a realidade, baseadas nas experiências do passado, nos influenciem fortemente, limitando a nossa liberdade de apostar naquilo que realmente conta na nossa vida”. Vivendo na era da informática, sabemos como é importante conhecer as senhas para poder entrar nos programas em que se encontram as informações pessoais e preciosas. Até a vida espiritual tem as suas “senhas”: há palavras que tocam o coração, porque remetem para aquilo a que somos mais sensíveis. O tentador conhece bem estas palavras-chave, e é importante que também nós as conheçamos, para não nos encontrarmos onde não gostaríamos. Conhecer as senhas do nosso coração Segundo o Papa, “a tentação não sugere necessariamente coisas más, mas muitas vezes coisas desordenadas, apresentadas com uma importância excessiva. Deste modo, nos hipnotiza com a atratividade que tais coisas suscitam em nós, coisas bonitas, mas ilusórias, que não podem cumprir o que prometem, deixando-nos no final com uma sensação de vazio e de tristeza. A sensação de vazio e tristeza é um sinal de que tomamos uma estrada que não era certa, que nos desorientou”. As coisas desordenadas “podem ser o título de estudos, a carreira, os relacionamentos, tudo em si louvável, mas se não formos livres, corremos o risco de nutrir expectativas irreais, como por exemplo, a confirmação de nosso valor. Você, por exemplo, quando pensa num estudo que está fazendo, pensa nele somente para se promover, para seu próprio interesse, ou também para servir a comunidade? Ali, é possível ver qual é a intencionalidade de cada um de nós. Desse mal-entendido muitas vezes vem os maiores sofrimentos, pois nada disso pode ser a garantia da nossa dignidade”, sublinhou Francisco. Por isso, queridos irmãos e irmãs é importante conhecer-nos, conhecer as senhas do nosso coração, aquilo a que somos mais sensíveis, para nos proteger de quem se apresenta com palavras persuasivas para nos manipular, mas também para reconhecer o que é realmente importante para nós, distinguindo-o das modas do momento ou de slogans vistosos e superficiais. Muitas vezes o que é dito num programa na televisão, em alguma propaganda que é feita, toca o nosso coração e nos faz ir para aquela direção sem liberdade. Tenham cuidado com isso: sou livre ou me deixo levar pelos sentimentos do momento, ou pelas provocações do momento? O exame de consciência ajuda muito O Papa ressaltou que “uma ajuda para isso é o exame de consciência, ou seja, um exame de consciência geral do dia. O que aconteceu no meu coração neste dia? Fazer um exame de consciência, ou seja, o bom hábito de reler com calma o que aconteceu no nosso dia, aprendendo a observar nas avaliações e escolhas aquilo a que damos mais importância, o que procuramos e porquê, e o que afinal encontramos. Aprender sobretudo a reconhecer o que sacia o meu coração. Pois somente o Senhor pode nos dar a confirmação de quanto valemos. Ele nos diz isto todos os dias da cruz: morreu por nós, para nos mostrar quão preciosos somos aos seus olhos. Não há obstáculo nem fracasso que possa impedir o seu terno abraço. O exame de consciência ajuda muito, pois assim vemos que o nosso coração não é uma estrada onde passa de tudo e não sabemos. Não. Ver: o que passou hoje? O que aconteceu? O que me fez reagir? O que me deixou triste? O que me deixou alegre? O que foi ruim? Fiz mal aos outros? Ver o percurso dos sentimentos, das atrações no meu coração durante o dia. “A oração e o conhecimento de nós mesmos nos permitem crescer na liberdade. São elementos básicos da existência cristã, elementos preciosos para encontrar o próprio lugar na vida”, concluiu o Papa. (Vatican news)

O discernimento é difícil, mas indispensável para a vida de todos

O Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses sobre o tema do discernimento na Audiência Geral, desta nesta quarta-feira (31/08), realizada na Sala Paulo VI. “O que significa discernir”, foi o tema deste encontro semanal com os fiéis. Discernir é um ato importante que se refere a todos, porque as escolhas constituem uma parte essencial da vida. Discernir as escolhas. Escolhe-se uma comida, uma roupa, um curso de estudos, um emprego, uma relação. Em tudo isso se realiza um projeto de vida, e também se concretiza a nossa relação com Deus. No Evangelho, Jesus fala do discernimento com imagens tiradas da vida comum; por exemplo, descreve os pescadores que selecionam os peixes bons e descarta os maus; ou o comerciante que sabe identificar, entre muitas pérolas, a de maior valor. Ou aquele que, lavrando um campo, se depara com algo que se revela um tesouro. “À luz destes exemplos, o discernimento se apresenta como um exercício de inteligência, de perícia e inclusive de vontade, para reconhecer o momento favorável: são estas as condições para fazer uma boa escolha”, disse o Papa, acrescentando: As decisões são tomadas por todas as pessoas. Não há quem a tome por nós. Podemos pedir um conselho, mas a decisão é da pessoa. Não se pode dizer: “Eu perdi isso, porque meu marido decidiu, minha esposa decidiu, meu irmão decidiu”: não! Você deve decidir, cada um de nós deve decidir. Por isso é importante saber discernir: para decidir bem é necessário saber discernir. “O Evangelho sugere outro aspeto importante do discernimento: ele envolve os afetos. Quem encontrou o tesouro não tem dificuldade de vender tudo, tão grande é a sua alegria. O termo usado pelo evangelista Mateus indica uma alegria totalmente especial, que nenhuma realidade humana pode dar; e com efeito, repete-se em pouquíssimas outras passagens do Evangelho, todas elas relativas ao encontro com Deus. É a alegria dos Magos quando, depois de uma viagem longa e árdua, veem de novo a estrela; é a alegria das mulheres que regressam do sepulcro vazio, depois de ouvir o anúncio da ressurreição, feito pelo anjo. É a alegria de quem encontrou o Senhor”, disse ainda Francisco. No juízo final Deus fará um discernimento, o grande discernimento, em relação a nós”, frisou o Papa, reiterando que “é muito importante saber discernir: as grandes escolhas podem surgir de circunstâncias à primeira vista secundárias, mas que se revelam decisivas. Numa decisão boa, a vontade de Deus se encontra com nossa vontade; se encontra o caminho atual com o eterno. Tomar uma decisão justa, depois de um caminho de discernimento, é fazer esse encontro: o tempo com o eterno”. Conhecimento, experiência, afeto e vontade são alguns elementos indispensáveis para o discernimento, mas o discernimento exige também “esforço“. “Segundo a Bíblia, não encontramos diante de nós, já embalada, a vida que devemos viver. Deus nos convida a avaliar e a escolher: Criou-nos livres e quer que exerçamos a nossa liberdade. Por isso, discernir é difícil“, sublinhou o Pontífice. O discernimento é aquela reflexão da mente, do coração que devemos fazer antes de tomar uma decisão. O discernimento é árduo, mas indispensável para viver. Requer que eu me conheça, que saiba o que é bom para mim aqui e agora. Exige sobretudo uma relação filial com Deus que nunca impõe a sua vontade, porque quer ser amado, não temido. E o amor só pode ser vivido na liberdade. Para aprender a viver é preciso aprender a amar, e por isso é necessário discernir.

A aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana

“O testemunho dos idosos é credível para as crianças: os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem.” São as últimas catequeses sobre a velhice, como anunciado pelo Papa na Audiência Geral da última quarta-feira. E na de hoje, Francisco de uma forma quase poética falou desta aliança entre os idosos e as crianças, aliança esta que salvará a família humana. Sua inspiração são as palavras do sonho profético de Daniel que evocam uma visão de Deus misteriosa e ao mesmo tempo esplêndida, e que são retomadas no Livro do Apocalipse e se referem a Jesus Ressuscitado, que aparece ao Vidente como Messias, Sacerdote e Rei, eterno, onisciente e imutável e lhe diz: “Não temas! Eu sou o Primeiro e o Último, e o que vive. Pois estive morto, e eis-me de novo vivo pelos séculos dos séculos. ” Assim – disse o Papa – a última barreira de temor e angústia que a teofania sempre despertou desaparece: o que vive nos tranquiliza: Neste entrelaçamento de símbolos há um aspecto que talvez nos ajude a entender melhor a ligação desta teofania com o ciclo da vida, o tempo da história, o senhorio de Deus sobre o mundo criado. E este aspecto tem a ver precisamente com a velhice. De facto, explicou, “a visão transmite uma impressão de vigor e força, nobreza, beleza e encanto. O vestido, os olhos, a voz, os pés, tudo é esplêndido. Seus cabelos, porém, são cândidos: como a lã, como a neve. Como os de um idoso”. O termo bíblico mais comum para indicar ancião – acrescentou – é “zaqen”: de “zaqan”, que significa “barba”: O cabelo branco é o símbolo antigo de um tempo muito longo, de um passado imemorável, de uma existência eterna. Não devemos desmitificar tudo para as crianças: a imagem de um Deus idoso com cabelos brancos não é um símbolo bobo, é uma imagem bíblica, nobre e também terna. A figura que no Apocalipse está entre os castiçais de ouro se sobrepõe à do “Antigo dos dias” da profecia de Daniel. É velho quanto toda a humanidade, e ainda mais. É antigo e novo como a eternidade de Deus. O Santo Padre recorda que nas Igrejas Orientais, a festa da Apresentação do Senhor, celebrada em 2 de fevereiro, é uma das doze grandes festas do ano litúrgico. Ela destaca o encontro entre a humanidade, representada pelos idosos Simeão e Ana, com Cristo, o Senhor, o Filho eterno de Deus feito homem. “Um belo ícone dele pode ser admirado em Roma nos mosaicos de Santa Maria in Trastevere“. Na liturgia bizantina, o bispo reza com Simeão: ‘Este é Aquele que nasceu da Virgem: é o Verbo, Deus de Deus, Aquele que se fez carne para nós e salvou o homem’. E continua: “Que se abra hoje a porta do céu: o Verbo eterno do Pai, tendo assumido um princípio temporal, sem deixar sua divindade, é apresento por sua vontade ao templo da Lei pela Virgem Mãe, e o ancião o toma em seus braços”. O Papa recorda ainda as palavras que o bispo reza com Simeão na liturgia bizantina, palavras que expressam a profissão de fé dos quatro primeiros Concílios Ecumênicos, que são sagrados para todas as Igrejas. Mas – acrescentou – “o gesto de Simeão é também o mais belo ícone da especial vocação da velhice: apresentar as crianças que vêm ao mundo como um dom ininterrupto de Deus, sabendo que uma delas é o Filho gerado na intimidade mesma de Deus, antes de todos os séculos“: Assim, a velhice, encaminhada em direção de um mundo no qual finalmente poderá irradiar-se, sem obstáculos, o amor que Deus colocou na Criação, deve realizar este gesto de Simeão e de Ana, antes de partir: A velhice deve dar testemunho às crianças da sua bênção: ela consiste na sua iniciação – bela e difícil – ao mistério de um destino à vida que ninguém pode aniquilar. Nem mesmo a morte. E o testemunho dos idosos – salientou – é credível para as crianças: “os jovens e os adultos não são capazes de torná-lo tão autêntico, tão terno, tão pungente, como os idosos podem”: Quando a pessoa idosa abençoa a vida que lhe vem ao encontro, deixando de lado todo o ressentimento pela vida que está partindo, é irresistível. O testemunho dos idosos une as idades da vida e as próprias dimensões do tempo: passado, presente e futuro. É doloroso – e prejudicial – ver que as idades da vida são concebidas como mundos separados, em competição entre elas, cada um tentando viver às custas do outro. A humanidade é antiga, muito antiga, se olharmos para o tempo do relógio. Mas o Filho de Deus, que nasceu de uma mulher, é o Primeiro e o Último de todos os tempos. Isso significa que ninguém fica fora de sua eterna geração, fora de sua maravilhosa força, fora de sua proximidade amorosa. Então, do próprio Francisco, uma afirmação também profética: “A aliança das pessoas idosas e das crianças salvará a família humana”: Poderíamos, por favor, devolver às crianças, que devem aprender a nascer, o testemunho terno dos idosos que possuem a sabedoria do morrer? Esta humanidade, que com todo seu progresso nos parece como um adolescente nascido ontem, será capaz de reavivar a graça de uma velhice que mantém firme o horizonte do nosso destino? A morte é certamente uma passagem difícil na vida: mas também a passagem que encerra o tempo da incerteza e joga fora o relógio. Pois a beleza da vida, que não tem mais uma data de expiração, começa precisamente ali. (Vatican news)