O Espírito Santo nos liberta do horror da morte e da injustiça

Na catequese desta quarta-feira, 16 de outubro, o Papa Francisco continuou o ciclo de ensinamentos sobre o Espírito Santo, concentrando-se em como Ele se manifesta nas Escrituras e atua na Igreja ao longo da história. O Santo Padre, ao falar para os milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro, destacou que, durante os primeiros três séculos, a Igreja não havia formulado explicitamente sua fé no Espírito Santo, até que as heresias obrigaram os concílios a esclarecer a doutrina. Francisco relembrou o Concílio de Constantinopla, em 381, que definiu a divindade do Espírito Santo, afirmando: “Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai [e do Filho]; e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”. Com isso, o Papa sublinhou a importância de reconhecer que o Espírito Santo compartilha da mesma divindade do Pai e do Filho, sendo Ele adorado e glorificado na mesma medida. O Espírito Santo é vivificante Francisco enfatizou que a afirmação central sobre o Espírito Santo no Credo é que Ele é “vivificante”, ou seja, “dá a vida”. Ao explicar esse ponto, o Papa mencionou que, no início da criação, o sopro de Deus deu vida a Adão, transformando-o de um homem de barro em um ser vivente. “Na nova criação, o Espírito Santo é Aquele que dá aos crentes a vida nova, a vida de Cristo, uma vida sobrenatural, a vida dos filhos de Deus”, disse ele, citando São Paulo: “A lei do Espírito de Vida me libertou, em Jesus Cristo, da lei do pecado e da morte” (Rm 8,2). Esperança na vida eterna A vida nova no Espírito, segundo o Papa, é a grande esperança dos cristãos, pois se trata de vida eterna. Francisco destacou que o Espírito Santo liberta os fiéis do medo de que tudo termine com a morte terrena: “Onde está a grande e consoladora notícia para nós em tudo isto? É que a vida que nos foi dada pelo Espírito Santo é vida eterna! A fé liberta-nos do horror de ter de admitir que tudo termina aqui, que não há redenção para o sofrimento e a injustiça que reinam soberanos na terra.” Cultivar a fé e a gratidão Ao concluir, o Santo Padre incentivou os fiéis a conservar a fé no Espírito Santo, principalmente em tempos de dúvida e dificuldade, e a agradecer pelo dom da vida eterna que Jesus nos concedeu com sua morte e ressurreição: “Cultivemos esta fé também para aqueles que, muitas vezes sem culpa própria, dela carecem e são incapazes de dar sentido à vida. E não nos esqueçamos de agradecer Àquele que, com a sua morte, nos obteve este dom inestimável!”
O Espírito Santo garante a unidade e universalidade da Igreja

O Papa Francisco, nesta quarta-feira, 09 de outubro, deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre o tema “O Espírito e a Esposa”. Referindo-se ao relato da descida do Espírito Santo em Pentecostes, conforme descrito no Livro dos Atos dos Apóstolos (At 2, 4), o Pontífice refletiu, diante dos milhares de fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro, sobre o papel do Espírito Santo na universalidade e na unidade da Igreja. Ação universal e unificadora do Espírito Santo O Santo Padre explicou que o Espírito Santo é aquele que “empurra a Igreja para fora”, para acolher um número crescente de povos, mas ao mesmo tempo a reúne em si, consolidando a unidade alcançada. “O Pentecostes não foi apenas o início da missão da Igreja entre os judeus, mas também o prenúncio da missão entre os gentios”, afirmou Francisco, mencionando a conversão do centurião Cornélio (cf. At 10-11) como um novo “Pentecostes” que quebrou barreiras entre judeus e pagãos. A importância da sinodalidade e do diálogo O Papa também destacou que o Espírito Santo não realiza a unidade de forma abrupta, mas sim através de um trabalho discreto, respeitando o tempo e as diferenças humanas. O Concílio de Jerusalém (cf. At 15,28), mencionou o Pontífice, foi um exemplo de como a unidade foi buscada de maneira sinodal, através de oração, debate e discernimento conjunto- Santo Agostinho, recordou o Pontífice, explica a unidade realizada pelo Espírito Santo com uma imagem que se tornou clássica: “O que a alma é para o corpo humano, o Espírito Santo é para o corpo de Cristo, ou a Igreja”. A imagem ajuda-nos a compreender algo importante: “O Espírito Santo não realiza a unidade da Igreja a partir do exterior; não nos ordena simplesmente que estejamos unidos. Ele próprio é o “vínculo de unidade”.” Unidade dos cristãos Ao concluir sua reflexão, Francisco pediu que o Espírito Santo nos ajude a ser instrumentos de unidade e paz, não apenas na Igreja, mas também nas nossas relações pessoais. “Todos desejamos a unidade, mas ela só pode ser alcançada quando colocamos Deus no centro, e não nós mesmos. A unidade é caminhar juntos em direção a Cristo, e não esperar que os outros venham até onde estamos”, lembrou o Papa, convidando os cristãos a seguir o exemplo de Pentecostes: “Peçamos ao Espírito Santo que nos ajude a ser instrumentos de unidade e de paz.”
Nunca dialogar com o diabo, que age através da superstição e da pornografia

O Papa Francisco retomou, nesta quarta-feira, 25 de setembro, o ciclo de catequeses com o tema “O Espírito e a Esposa. O Espírito Santo guia o povo de Deus ao encontro de Jesus, nossa esperança”, e, com referência ao episódio narrado no evangelho de São Lucas (cf. Lc 4,1-2.13-14), quando Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto e lá foi tentado pelo demônio durante quarenta dias, refletiu, diante dos milhares de fiéis peregrinos reunidos na Praça São Pedro, sobre o Espírito Santo como nosso aliado na luta contra o espírito do mal. A existência do diabo Ao ir para o deserto, Jesus obedece a uma inspiração do Espírito Santo, liberta-se de Satanás e, em seguida, regressa à Galileia no poder do Espírito Santo, onde realizou curas e libertação de pessoas possuídas. Com essa premissa, o Papa destacou que hoje, em certos níveis culturais, acredita-se que o diabo não existe, sendo considerado apenas “um símbolo do inconsciente coletivo ou da alienação, uma metáfora”. Mas, acrescentou o Pontífice, como escreveu Charles Baudelaire: “a maior astúcia do diabo é convencer-nos de que ele não existe”: “O nosso mundo tecnológico e secularizado está repleto de magos, ocultismo, espiritismo, astrólogos, vendedores de encantos e amuletos e, infelizmente, de verdadeiras seitas satânicas. Tendo sido expulso pela porta, o demônio voltou, pode-se dizer, pela janela. Expulso pela fé, regressa com a superstição. E se você é supersticioso, está dialogando com o diabo, e com ele não se deve nunca dialogar.” A ação do mal Segundo Francisco, a prova mais forte da existência de Satanás não se encontra nos pecadores ou nos possuídos, mas nos santos. “É verdade que o diabo está presente e opera em certas formas extremas e desumanas do mal e da maldade que vemos à nossa volta. Contudo, é praticamente impossível, em casos individuais, chegar à certeza de que realmente é ele, dado que não podemos saber exatamente onde termina a sua ação e começa o nosso próprio mal.” Por isso, a Igreja é muito prudente e rigorosa no exercício do exorcismo, ao contrário do que acontece, infelizmente, em certos filmes”, sublinhou o Papa. “É na vida dos santos que o diabo é obrigado a sair à luz, a estar contra a luz. Mais ou menos todos os santos e grandes crentes testemunham a sua luta contra esta realidade sombria, e não se pode honestamente presumir que todos tenham sido iludidos ou simples vítimas dos preconceitos do seu tempo.” A tecnologia e a pornografia como oportunidades para o demónio Na cruz, Jesus derrotou para sempre o poder do príncipe deste mundo, destacou o Santo Padre. E, como dizia São Cesário de Arles: “o demônio está amarrado, como um cão numa corrente; não pode morder ninguém, exceto aqueles que, desafiando o perigo, se aproximam dele… Pode latir, pode insistir, mas não pode morder, exceto aqueles que o querem”. Infelizmente, o mundo atual oferece diversas maneiras que dão oportunidades ao diabo, alertou o Pontífice: “Por exemplo, a tecnologia moderna, além de muitos recursos positivos que devem ser apreciados, também oferece inúmeros meios para dar lugar ao diabo, e muitos aí caem. Pensemos na pornografia online, por trás da qual existe um mercado próspero: trata-se de um fenômeno muito difundido, contra o qual os cristãos devem, no entanto, precaver-se cuidadosamente e rejeitar vigorosamente.” Nunca dialogar com o tentador Francisco recordou ainda que Jesus nunca dialoga com o demônio: ou o expulsa, ou o condena, mas nunca dialoga. No deserto, Ele responde não com Suas próprias palavras, mas com a Palavra de Deus: “Irmãos, irmãs, nunca dialoguem com o diabo. Quando ele vem com as tentações, dizendo ‘ah, isso seria bom, aquilo seria bom’, pare! Eleve seu coração ao Senhor, reze a Nossa Senhora e expulse-o, como Jesus nos ensinou a fazer. […] Se você for tolo e disser ao diabo: ‘Ah, como você está?’, ele o destruirá. Mantenha distância. O diabo deve ser expulso. E todos nós, todos, temos experiência de como o diabo se aproxima com alguma tentação: quando sentimos isso, pare, mantenha distância; não se aproxime do cachorro preso na corrente.” A vitória de Cristo Ao concluir, o Papa acentuou que o reconhecimento da ação do diabo na história não deve ser motivo de desânimo, e o pensamento final deve ser, também neste caso, de confiança e segurança: “Cristo derrotou o diabo e deu-nos o Espírito Santo para fazer nossa a sua vitória. A própria ação do inimigo pode ser aproveitada em nosso favor, se, com a ajuda de Deus, a fizermos servir para a nossa purificação. Fiquem atentos, porque o diabo é astuto – mas nós, cristãos, com a graça de Deus, somos mais astutos do que ele.”
A fraternidade e a resposta às tramas diabólicas do ódio e da guerra

A viagem apostólica à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (18/09), realizada na Praça São Pedro. O Pontífice iniciou recordando que “em 1970, Paulo VI foi o primeiro Papa a voar em direção ao sol nascente, visitando por muito tempo as Filipinas e a Austrália, mas também parando em vários países asiáticos e nas Ilhas Samoa”. “Uma viagem memorável”, disse Francisco, afirmando que também nisso tentou seguir o seu exemplo. “Agradeço ao Senhor, que me permitiu fazer como velho Papa o que gostaria de ter feito como jovem jesuíta”, acrescentou. Uma primeira reflexão que surge espontaneamente depois desta viagem é que ao pensarmos na Igreja somos ainda demasiado eurocêntricos, ou, como se costuma dizer, “ocidentais”. Na realidade, a Igreja é muito maior, muito maior que Roma e a Europa, muito maior! Também, ouso dizer, muito mais viva, nesses países! Experimentei isso de forma emocionante, encontrando aquelas comunidades, ouvindo os testemunhos de padres, freiras, leigos, sobretudo catequistas. Igrejas que não fazem proselitismo, mas que crescem através da “atração”, como disse sabiamente Bento XVI. “Na Indonésia, os cristãos representam cerca de 10% e os católicos 3%, uma minoria”, lembrou o Papa, dizendo que encontrou “uma Igreja viva, dinâmica, capaz de viver e transmitir o Evangelho naquele país que tem uma cultura muito nobre, inclinada a harmonizar a diversidade, e ao mesmo tempo tem a maior presença de muçulmanos no mundo. Naquele contexto, tive a confirmação de como a compaixão é o caminho que os cristãos podem e devem percorrer para dar testemunho de Cristo Salvador e, ao mesmo tempo, encontrar as grandes tradições religiosas e culturais”. “Fé, fraternidade, compaixão” foi o lema da visita à Indonésia: com estas palavras o Evangelho entra todos os dias, concretamente, na vida daquele povo, acolhendo-a e dando-lhe a graça de Jesus morto e ressuscitado. Estas palavras são como uma ponte, como a passagem subterrânea que liga a Catedral de Jacarta à maior mesquita da Ásia. Lá, vi que a fraternidade é o futuro, é a resposta à anti-civilização, às tramas diabólicas do ódio e da guerra, também do sectarismo. Existe fraternidade, fraternidade”, sublinhou. Na Papua Nova Guiné, um arquipélago que se estende até à imensidão do Oceano Pacífico, o Papa disse que encontrou “a beleza de uma Igreja missionária em saída”. Lá as diferentes etnias falam mais de oitocentas línguas: um ambiente ideal para o Espírito Santo, que gosta de fazer ressoar a mensagem do Amor na sinfonia das linguagens. O que o Espírito Santo faz não é uniformidade, é sinfonia, é harmonia, é o patrono, é o chefe da harmonia. Lá, de modo particular, os protagonistas foram e são ainda os missionários e os catequistas. Alegrou-me o coração poder conviver um pouco com os missionários e os catequistas de hoje; e fiquei comovido ao ouvir os cânticos e as músicas dos jovens: neles vi um futuro novo, sem violências tribais, sem dependências, sem colonialismos económicos ou ideológicos; um futuro de fraternidade e de cuidado com o maravilhoso ambiente natural. Segundo Francisco, “a Papua-Nova Guiné pode ser um “laboratório” deste modelo de desenvolvimento integral, animado pelo “fermento” do Evangelho. Porque não há nova humanidade sem novos homens e novas mulheres, e só o Senhor os faz”. O Pontífice recordou sua “visita a Vanimo, onde os missionários estão entre a floresta e o mar. Eles entram na floresta em busca das tribos mais escondidas, ali… uma lembrança linda, essa”. “O poder da promoção humana e social da mensagem cristã destaca-se particularmente na história de Timor-Leste”, disse o Papa, recordando que “lá a Igreja partilhou o processo de independência com todo o povo, orientando-o sempre para a paz e a reconciliação”. Isto não é uma ideologização da fé, não, é a fé que se torna cultura e ao mesmo tempo a ilumina, purifica, eleva. Por isso relancei a fecunda relação entre fé e cultura, que São João Paulo II já havia sublinhado na sua visita. Mas sobretudo impressionou-me a beleza daquele povo: um povo experimentado, mas alegre, um povo sábio no sofrimento. Um povo que não só gera muitos filhos, como os ensina a sorrir. Esta é uma garantia do futuro. Em suma, em Timor-Leste vi a juventude da Igreja: famílias, crianças, jovens, muitos seminaristas e aspirantes à vida consagrada. Respirei “ar de primavera”! A última etapa da Viagem Apostólica Internacional do Papa foi Singapura. “Um país muito diferente dos outros três: uma cidade-estado muito moderna, centro económico e financeiro da Ásia e de outros lugares”, disse Francisco, acrescentando: Lá, os cristãos são uma minoria, mas ainda formam uma Igreja viva, empenhada em gerar harmonia e fraternidade entre as diferentes etnias, culturas e religiões. Também na rica Singapura existem os “pequenos”, que seguem o Evangelho e se tornam sal e luz, testemunhas de uma esperança maior do que aquela que os ganhos económicos podem garantir. Francisco agradeceu a esses povos que o “acolheram com tanto carinho, com tanto amor”. Agradeceu também aos “seus governantes que tanto ajudaram nesta visita, para que fosse realizada com ordem, sem problemas”, e “a todos aqueles que também colaboraram para isso”. Por fim, agradeceu “a Deus o dom desta viagem! Deus abençoe os povos que conheci e os guie no caminho da paz e da fraternidade”, concluiu.
Que o “mau cheiro” do nosso pecado não impeça de espalhar o “bom perfume” de Cristo

A Sala Paulo VI acolheu milhares de fiéis e peregrinos para a Audiência Geral desta quarta-feira, 21 de agosto. O Papa deu continuidade ao ciclo de catequeses acerca do Espírito e da Esposa, meditando sobre como o Espírito Santo desceu em forma de pomba quando Jesus foi batizado por João, e dali se espalhou pelo Seu Corpo, que é a Igreja. “Toda a Trindade se reuniu naquele momento nas margens do Jordão!”, comentou Francisco. O batismo de Jesus foi tão importante, que todos os evangelistas falaram sobre ele. E a importância reside no fato de, naquele episódio, Deus Pai ungiu Jesus com o Seu Espírito, isto é, consagrou Jesus como Rei, Profeta e Sacerdote. Na verdade, Jesus estava repleto de Espírito Santo desde o momento da Encarnação, mas no Batismo recebe a unção com o Espírito para a sua missão. Essa missão o Senhor comunica-a à Igreja, Seu Corpo místico, e assim nos tornamos um povo sacerdotal, profético e régio. A imagem da unção com o Espírito nos remete ao Sacramento da Confirmação, no qual fomos ungidos com o óleo perfumado do Crisma e recebemos o dom do Espírito para a missão, para espalhar pelo mundo o bom odor de Cristo. “A unção nos perfuma e também uma pessoa que vive com alegria a sua unção perfuma a Igreja, perfuma a comunidade, perfuma a família com este perfume espiritual”, acrescentou Francisco. O Papa então fez uma ressalva: “Sabemos que, infelizmente, por vezes os cristãos não espalham o perfume de Cristo, mas sim o mau cheiro do seu próprio pecado. E jamais nos esqueçamos: o pecado nos afasta de Jesus, o pecado torna o óleo ruim. E o diabo, não esqueçam disto, normalmente o diabo entra no bolso. Fiquem atentos.” Isto, porém, não deve distrair-nos do compromisso de realizar, tanto quanto pudermos e cada um no seu ambiente, esta sublime vocação de ser o bom perfume de Cristo no mundo. O perfume de Cristo é libertado do “fruto do Espírito”, que é “caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura, temperança” (Gal 5,22). “Foi o que disse Paulo e é belo encontrar uma pessoa que tenha essas virtudes. (…) É belo encontrar uma pessoa boa, uma pessoa fiel, uma pessoa mansa, que não seja orgulhosa. Se nos esforçarmos por cultivar este fruto, então, antes que nos apercebamos, alguém sentirá um pouco da fragrância do Espírito de Cristo à nossa volta. Peçamos ao Espírito Santo que nos faça ungidos mais conscientes, ungidos por Ele”, concluiu o Pontífice.