Com o Domingo de Ramos na Paixão do Senhor inicia-se a Semana Santa, também conhecida como Semana Maior. Este tempo litúrgico é considerado o mais significativo de todo o ano cristão, porque nele são celebrados os mistérios centrais da nossa fé: a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo.
O núcleo desta semana encontra-se nas celebrações que constituem o Tríduo Pascal: a Eucaristia da Ceia do Senhor, na Quinta-Feira, a Paixão e Morte do Senhor, na Sexta-Feira, e a Vigília Pascal da Ressurreição do Senhor, no Sábado.
Hoje, Domingo de Ramos na Paixão do Senhor, a Palavra de Deus relata-nos dois acontecimentos completamente distintos, mas ambos de um significado profundo para todos os cristãos. Numa primeira parte, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, onde é aclamado Rei pelo povo – «Bendito o que vem como Rei, em nome do Senhor!
Paz no céu e glória nas alturas!» – e, numa segunda parte, a leitura do Evangelho que descreve a Paixão e Morte de Jesus Cristo na Cruz.
I Leitura (Is 50, 4-7)
A leitura de hoje corresponde aos primeiros versículos do “Terceiro Cântico do Servo”, cântico em que o servo fala de si e da sua própria experiência.
O autor do cântico fala de um servo que, pelo facto de não ter resistido nem recusado os apelos divinos, se sente acompanhado, protegido e conduzido pelo Senhor. Esta certeza leva-o a resistir às incompreensões, às agressões e injúrias dos inimigos, de tal forma que, em todas as situações, assumiu uma atitude pacífica, demonstrando uma fé inabalável e uma confiança plena em Deus.
A figura do Servo do Senhor identifica-se perfeitamente com Jesus Cristo, Aquele que, apesar de inocente, carregou os pecados de todos e ofereceu a sua vida em sacrifício de expiação, eliminando assim as barreiras que impediam os homens de se reconciliarem com Deus.
II Leitura (Filip 2, 6-11)
Na sua carta aos Filipenses, S. Paulo inclui um hino Cristológico, que seguramente já era utilizado pelas primeiras comunidades cristãs.
Este hino tem a intenção de apresentar a quenose do Filho de Deus, ou seja, a renúncia a certos atributos divinos por ter assumido a forma humana e mortal. Esta atitude mostra que Jesus Cristo, através de quem Deus se aproximou da humanidade e concedeu a aproximação desta com Ele, assumiu a condição humana e, não se valendo da divina, cumpriu com desprendimento, humildade e entrega a missão de ser servidor dos homens e por eles morrer na cruz para a remissão dos seus pecados.
Pela obediência aos planos do Pai e pela doação de si mesmo por amor aos outros, Deus “O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes”
Que este hino cristológico nos faça tomar consciência de que seguir Jesus Cristo implica conformar toda a nossa existência com os seus gestos e atitudes, ou seja, ser como Ele, o servo sofredor, obediente e humilde, que fez da sua vida um dom para todos.
Evangelho (Lc 22, 14 – 23, 56)
A sempre impressionante narração da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo leva-nos a reviver o duro caminho percorrido por Cristo em direcção à sua Páscoa, uma Páscoa que é morte e ressurreição, que é passagem da morte para a vida. Jesus, que percorreu esse caminho sozinho, pois foi abandonado por todos, inclusive a maioria dos seus discípulos, sujeitou-se à ignomínia de ser preso, julgado, injuriado, humilhado, chicoteado cruelmente, escarnecido e executado na cruz, passando por estes acontecimentos dramáticos para manifestar a total fidelidade ao plano de amor do Pai e cumprir a missão de redimir e salvar toda a humanidade.
Por isso, contemplar a cruz onde se manifesta o amor e entrega de Jesus é igualmente contemplar a nossa salvação e o grande Amor de Deus por todos.
Este Evangelho convida-nos a recordar com amor e gratidão todos os acontecimentos vividos por Aquele que, como diz no Prefácio da Oração Eucarística deste dia, “sendo inocente, entregou-Se à morte pelos pecadores; não tendo culpas, deixou-Se condenar pelos culpados. A sua morte redimiu os nossos pecados e a sua ressurreição abriu-nos as portas da salvação”.