Com o Domingo da Páscoa da Ressurreição iniciou-se um novo tempo litúrgico, o Tempo Pascal, um período de cinquenta dias que se concluirá com a vinda do Espírito Santo no Domingo de Pentecostes.
O Tempo Pascal é uma continuidade do acontecimento da Páscoa do Senhor, pelo que deve ser celebrado com muita alegria e vivido de forma a contemplarmos e anunciarmos o mistério central da fé cristã: a Ressurreição de Jesus Cristo.
A Palavra de Deus do II Domingo da Páscoa, um Domingo dedicado à Divina Misericórdia, fala-nos da comunidade cristã como lugar privilegiado de encontro e de união e do amor misericordioso de Deus, que vem até nós em Jesus Cristo.
I LEITURA (At 5,12-16)
Na primeira leitura, retirada do Livro dos Actos dos Apóstolos, S. Lucas relata-nos a forma como viviam as comunidades primitivas. Os primeiros cristãos formavam uma comunidade unida no amor fraterno, dando testemunho da sua adesão a Cristo Ressuscitado, e as pessoas sentiram-se atraídas pelo seu modo de vida, crescendo assim o número de mulheres e homens que aderiam a Cristo. Além disso, era uma comunidade que continuava a acção de Jesus, acolhendo os enfermos e atormentados por espíritos impuros que recorriam a Pedro e aos apóstolos para serem curados.
Hoje, todos os baptizados também são chamados a viver em união fraterna, uma característica da sua identidade cristã, condição fundamental para serem testemunhas credíveis do Evangelho e, desse modo, também atraírem os outros para a adesão a Cristo Ressuscitado.
II LEITURA (Ap 1,9-11.12-13.17-19)
Num tempo em que muitos cristãos eram vítimas do Império Romano pelo facto de acreditarem em Jesus Cristo Ressuscitado, o apóstolo João, que estava desterrado na ilha de Patmos por causa de testemunhar a sua fé, foi movido pelo Espírito Santo a revelar uma mensagem de esperança a todos os que estavam a viver num contexto de perseguição e sofrimento.
O próprio Senhor encoraja-o: “Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos”. Esta é a revelação que todos os que estão a ser perseguidos necessitam de ouvir. A vitória não pertencerá aos perseguidores, porque Aquele que esteve morte e agora está vivo é que será vitorioso, pois é mais forte que a morte.
Hoje, Cristo Ressuscitado continua vivo e também nos diz: não temais, porque eu estou convosco. Por isso, os cristãos, animados pela certeza da sua presença e sem quaisquer receios, devem ser capazes de, em todas as circunstâncias, anunciar que Cristo ressuscitou, vive para sempre na glória do Pai e, graças ao seu Espírito, habita entre nós.
Evangelho (Jo 20,19-31)
O evangelista João relata-nos, em primeiro lugar, a aparição de Cristo Ressuscitado aos Apóstolos, no Domingo da sua Ressurreição, o que causou neles uma grande alegria.
Quando os Apóstolos estavam reunidos em comunidade, fechados em casa, inseguros e com medo, Jesus vai ao seu encontro para lhes transmitir a paz interior – “A paz esteja convosco” – e comprovar a sua verdadeira Ressurreição – “…mostrou-lhes as mãos e o lado” –. O encontro com Jesus Ressuscitado restitui aos discípulos a alegria, a coragem e a segurança, precisamente o oposto do que sentiam antes de o verem.
Mas o encontro é também uma convocatória para a missão – “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”-, E para que os discípulos pudessem concretizar a missão, Jesus sopra sobre eles e diz-lhes: “Recebei o Espírito Santo”.
Jesus dá ainda uma incumbência concreta e muito importante aos seus Apóstolos , tornando-os participantes da sua missão: “àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos”. Com estas palavras, Jesus Cristo institui o Sacramento da Reconciliação Penitencial, pelo qual os nossos pecados são perdoados e nos é dada a possibilidade de reiniciarmos o caminho da comunhão com Deus.
O evangelista relata-nos também uma nova aparição de Cristo Ressuscitado, oito dias depois, durante a qual Tomé, que não esteve presente na primeira e não acreditava na sua aparição, fez a experiência do encontro com o Ressuscitado, o que o levou a abandonar a sua incredulidade e a fazer uma profissão de fé maravilhosa: «Meu Senhor e meu Deus!».
Hoje, Jesus Cristo Ressuscitado também vem ao nosso encontro. Em cada dia do Senhor, Ele nos convoca e reúne para actualizar connosco o mistério da sua Morte e Ressurreição, fazendo-se presente no meio de nós e em nós, demonstrando que está vivo e quer caminhar ao nosso lado.
Acreditemos em Jesus Ressuscitado, saibamos acolhê-Lo e deixemos que caminhe connosco, porque como Ele disse a Tomé, que só acreditou quando O viu, “Felizes os que acreditam sem terem visto”.