A Palavra de Deus do IV Domingo da Quaresma, também designado, na tradição litúrgica da Igreja, por Domingo “Laetare (alegria), convida-nos a sentir a alegria que resulta do regresso ao caminho de reconciliação com Deus.
I LEITURA (Jos 5,9.10-12)
A primeira Leitura, retirada do Livro de Josué, relata-nos a primeira celebração da Páscoa na terra prometida. Naquele tempo, a Páscoa era uma festa que comemorava a libertação do povo hebreu da escravidão do Egipto.
E na chegada â terra prometida, Deus disse a Josué: «Hoje tirei de vós o opróbrio do Egipto». Agora, estavam libertos e já não tinham de comer mais o maná que caía do céu, como fizeram durante a travessia do deserto, mas começariam a comer os frutos da terra.
É, sem dúvida, um momento de grande felicidade para o Povo que, depois de ter sido libertado da escravidão, conduzido pelo deserto e ajudado a superar todas as dificuldades, chegou a uma terra em que jorra leite e mel, onde Deus prometeu colocá-lo, a fim de usufruir de paz e bem-estar e dar começo a uma vida nova.
Como o Povo de Israel, o actual Povo de Deus está também em peregrinação pelo “deserto”, que é este mundo, onde enfrenta dificuldades, sofrimentos e alguns tipos de escravidão, até que seja libertado e alcance a terra prometida, o Reino de Deus, onde haverá vida plena e abundante.
II LEITURA (2 Cor 5,17-21),
Na segunda Leitura, Paulo exorta os Coríntios à reconciliação com Deus – “Nós vos pedimos em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus”.
Como afirma Paulo é Deus que toma a iniciativa de se reconciliar com os homens quando enviou o seu Filho, Jesus Cristo, para redimir os nossos pecados e para que nós, unidos a Ele, conseguíssemos alcançar a salvação.
Nesta Quaresma, tempo de renovação e de transformação em criaturas novas, somos convidados a seguir a exortação que Paulo faz aos Coríntios, o que é realizável pela aproximação ao Sacramento da Reconciliação Penitencial, pelo qual obtemos o perdão dos nossos pecados e, ao mesmo tempo, restabelecemos, por meio de Jesus Cristo, a reconciliação com Deus.
EVANGELHO ( Lc 15,1-3.11-32)
O Evangelho narra “A parábola do filho pródigo” (há também quem a designe por “Parábola do pai misericordioso”), que em conjunto com “A ovelha perdida” e “A dracma perdida” constituem o capítulo relativo às três parábolas sobre a misericórdia, pelas quais Jesus responde à crítica dirigida pelos doutores da Lei e fariseus sobre o facto de que Ele acolher e comer com os pecadores.
Esta parábola tem três personagens principais – o pai, o filho mais novo e o filho mais velho -, através dos quais Jesus nos pretende demonstrar as consequências do pecado, a incapacidade de amar e de perdoar e o amor misericordioso de Deus.
Nesta parábola, Jesus Cristo exprime simbolicamente o que é o pecado e as suas consequências, no comportamento do filho mais novo, o filho pródigo, que, numa atitude de liberdade e independência, decidiu abandonar o pai e a família e ir viver para bem longe. Porém, longe da casa do pai não encontrou a felicidade desejada. Perante a situação em que se deixou cair (perdeu o pai, os amigos, o dinheiro, a capacidade de se alimentar e inclusive a sua própria dignidade), reconhece o seu erro e decide regressar.
Jesus Cristo transmite-nos que o pecado, aqui representado pela autossuficiência, pelo materialismo e o egoísmo do jovem, conduz à perdição e a uma ruptura da relação com Deus.
No comportamento do filho mais velho, que não entende a bondade do pai e manifesta a sua incompreensão pelo facto de o seu irmão ter sido recebido de forma jubilosa, Jesus pretende transmitir que o sentido de justiça de Deus não segue a mesma lógica do homem; a justiça de Deus fundamenta-se no amor e na misericórdia.
A figura do filho mais velho é a dos fariseus que condenavam Jesus Cristo por acolher os pecadores e a de todos os cristãos que cumprem as prescrições externas da Lei de Deus, mas que são incapazes de ter um coração misericordioso que se alegra com a conversão dos pecadores e não com o seu castigo.
Na atitude do pai, que começa por aceitar a decisão do filho de abandonar a casa e termina com a de correr ao seu encontro, acolhê-lo alegremente e não o condenar, preocupando-se mais que ele volte a ser seu filho e viva como tal, Jesus pretende dizer-nos que Deus respeita as nossas decisões, mesmo que elas nos afastem d’Ele, mas está sempre à espera do nosso regresso à sua casa, do restabelecimento da nossa relação de amor com Ele e do prosseguimento da nossa condição de filhos.
Esta parábola também diz respeito a cada um de nós. Todos somos pecadores, todos, em alguns momentos, nos afastamos de Deus e renunciamos à nossa condição de filhos amados. Deus espera o nosso arrependimento e nunca nos recriminará, mas virá ao nosso encontro para nos acolher e fará uma festa pelo regresso de um filho que, depois de se ter separado, se arrependeu e procurou a reconciliação com o Pai.
Cheios de confiança no amor misericordioso de Deus, vamos, neste tempo propício da Quaresma, encetar o caminho de regresso ao Pai, que espera ansiosamente esse momento, não para nos repreender, mas receber de braços abertos.