O Altar – Mesa e Ara

«O altar cristão é, pela sua própria natureza, uma mesa especial do sacrifício e do banquete pascal:

– ara especial, onde se perpetua sacramentalmente o sacrifício da cruz até ao fim dos sé­culos, até que Cristo venha;

– mesa em volta da qual se reúnem os filhos da Igreja, para darem graças a Deus e comun­garem o Corpo e o Sangue de Cristo» (Pontifical da Dedicação da Igreja e do altar [DIA], IV 4).

Estas duas dimensões do Altar das nossas Igrejas são indissociáveis porque o Senhor Jesus Cristo instituiu na forma de banquete sacrificial, o memorial do sacrifício que ia oferecer ao Pai no altar da cruz (cf. DIA IV 3).

Em diferentes épocas da história do cristianismo privilegiou-se ora um aspeto, ora outro. Assim, desde pelo menos a Alta Idade Média, viu-se preferentemente o altar como ara sacrificial da religião cristã. Uma conceção harmonizada com a perceção religiosa comum da humanidade. Todavia as gerações anteriores privilegiaram o conceito de mesa do Senhor, aliás já presente no NT (1 Cor 10, 21). Porventura terá tido o seu peso a necessidade que os primeiros cristãos sentiram de se demarcar em relação quer ao paganismo circundante, quer ao judaísmo precedente: “Os cristãos não possuem templos nem altares” – lê-se numa antiga apologia dos cristãos (Minúcio Félix, Octavio, 32: Antologia Litúrgica, n. 454). Mas não se tratava, seguramente, de uma mesa qualquer para uma refeição comum: a mesa do Senhor era, por isso mesmo, sagrada.

Harmonizando os dois aspetos, tanto a Instrução Geral do Missal Romano como os Preliminares do cap. IV do Pontifical da Dedicação da Igreja e do Altar apresentam-nos o altar como “mesa do Senhor”, “mesa do sacrifício e do banquete”, à volta da qual se reúnem os cristãos para dar graças, realizar o memorial do sacrifício de Cristo e comungarem o Corpo e o Sangue do Senhor. Aliás, a Igreja oferece o memorial do sacrifício de Cristo, como Ele mandou fazer, sob a forma de banquete festivo. Não se trata de renovar o sacrifício de Cristo, único e irrepetível, mas, como bem exprime o texto acima citado, de o perpetuar sacramentalmente «porque todas as vezes que celebramos o memorial deste sacrifício realiza-se a obra da nossa redenção» (SO da Missa da Ceia do Senhor).

A reforma litúrgica procurou restaurar este simbolismo original. Mandou que, na medida do possível, o altar fosse separado da parede (Instr. Inter Oecumenici, 91; IGMR 299), que o sacrário deixasse de estar em cima do altar (Instr. Eucharisticum Mysterium, 55), a pedra de ara desapareceu e as relíquias dos mártires ou dos santos já não se colocam sobre a mesa, mas, se for caso, debaixo do altar (DIA IV 11; IGMR 302).

Sobre o altar colocam-se o pão e o vinho e, ao menos, uma toalha festiva de harmonia com a estrutura do altar. Estes são os elementos simbólicos do altar que não devem ser confundidos ou escondidos por outros, sejam festivos, sejam funcionais. Entre os elementos festivos devem mencionar-se as luzes e as flores que muito embora se possam colocar sobre o altar, na condição de não estorvarem os elementos principais, ficarão melhor em volta do mesmo (IGMR 304-308). Quanto a elementos funcionais, como o missal ou microfone, colocar-se-ão sobre o altar de forma discreta, de modo que não impeçam os fiéis “de verem facilmente o que no altar se realiza ou o que nele se coloca” (IGMR 307). Sobre o altar não se dispõem nem imagens, nem outros objetos religiosos ou estranhos. Mantém-se, contudo, a tradição de colocar o Evangeliário sobre o altar, donde é levado para a proclamação do Evangelho, no Ambão (IGMR 306).

O altar, pelo seu carácter de mesa do sagrado banquete eucarístico, deve reservar-se, exclusivamente, à celebração da Eucaristia. Depois da saudação inicial (beijo), o presidente ocupa o seu lugar na cadeira e só regressa ao altar para a apresentação dos dons. As demais ações litúrgicas e devoções celebrar-se-ão nos lugares previstos e apropriados. Há exceção para a exposição do SS.mo Sacramento, dada a relação da adoração eucarística com o banquete eucarístico. Utilizar o altar para tudo é desfigurar o seu simbolismo e deseducar gravemente o povo de Deus.

(Secretariado Diocesano da Liturgia)