«Igreja envolvente, moderna, ampla e funcional, pensada e proposta no espírito do Concílio Vaticano II para acompanhar o modo apostólico do seu e de todos os tempos»: é nestes termos que o arquiteto e investigador João Alves da Cunha descreve a igreja paroquial de Paço de Arcos, concelho de Oeiras, patriarcado de Lisboa.
O investigador coordena e assina um dos textos do livro “Igreja da Sagrada Família de Paço de Arcos – 50 anos de arquitetura religiosa moderna /1969-2019”, que vai ser lançado nesse espaço, a 24 de agosto, data em que se assinala o cinquentenário da sua consagração a Deus (dedicação).
Depois do prefácio, redigido pelo atual pároco, P. José Luís Costa, o arquiteto José Manuel Fernandes escreve o prefácio (“A igreja moderna de Paço de Arcos”), seguindo-se “Memória fotográfica” (José Nunes Correia) e “História da construção” (João Alves da Cunha) – capítulo que transcrevemos abaixo.
“A igreja segundo o autor” (João de Almeida), “Peças desenhadas” e “Registo fotográfico” (Hugo Casanova) concluem o livro com cerca de 100 páginas, que vai ser apresentado pelas 16h00.
A obra reúne «material inédito proveniente do arquivo pessoal do arquiteto João de Almeida, do arquivo do Secretariado das Novas Igrejas do Patriarcado, do arquivo da Paróquia de Paço D’Arcos e do Arquivo da Câmara Municipal de Oeiras», destaca o pároco.
A igreja paroquial de Paço de Arcos foi construída no contexto do MRAR – Movimento de Renovação da Arte Religiosa, tendo congregado arquitetos, artistas plásticos e historiadores como Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, Diogo Lino Pimentel, Luiz Cunha, Madalena Cabral, Maria José de Mendonça, António Freitas Leal, Manuel Cargaleiro, José Escada e Eduardo Nery.
© Hugo Casanova
João Alves da Cunha
In “Igreja da Sagrada Família de Paço de Arcos”
No começo da década de 1960, Paço de Arcos caracterizava-se como uma vila em franco crescimento demográfico. Contava então com cerca de seis mil habitantes, registando-se que um terço destes se afirmava católico. Para a celebração do culto, esta comunidade contava apenas, para além da pequena capela privada do Palácio dos Arcos, com a também pequena capela do Senhor Jesus dos Navegantes, cuja capacidade era manifestamente reduzida. No entanto, essa não era a única limitação daquele espaço. Ali faltavam instalações ou dependências minimamente qualificadas, o que dificultava o funcionamento dos organismos religiosos existentes, bem como inviabilizava a criação de outros cuja presença se considerava indispensável.
De igual modo, ia aumentando o desejo de criação da paróquia de Paço de Arcos, justificado por uma melhor administração da crescente comunidade local. Paço de Arcos era à época um vicariato integrado na paróquia de Oeiras, mais precisamente desde 30 de março de 1944, apesar de já ser freguesia civil desde 7 de Dezembro de 1926. O próprio Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira concordava com tal pretensão, mas só a autorizaria mediante a existência de uma igreja paroquial condigna. Neste contexto, um grupo de paroquianos decidiu pôr mãos à obra e constituiu-se como comissão, no sentido de levar a cabo a construção da nova igreja de Paço de Arcos, tarefa que não se revelou isenta de múltiplas contrariedades, apesar do seu empenho.
O local escolhido afigurava-se excelente. A igreja erguer-se-ia no centro de uma zona residencial à época em construção, numa área conhecida por “Quinta do Meireles”, pertencente ao Engenheiro Jean José Luz Coruche. Francamente central, situar-se-ia junto a uma via de circulação automóvel com alguma importância, por ser ligação entre a ainda nova estrada marginal e a futura autoestrada entre Lisboa e Cascais, que à época terminava junto ao Estádio Nacional, no Jamor.
© Hugo Casanova
O arquiteto escolhido para elaborar o projeto da nova igreja de Paço de Arcos era da inteira confiança do SNIP. Tratava-se do Pe. João de Almeida, um dos principais responsáveis – a par dos arquitetos Nuno Teotónio Pereira e António de Freitas Leal – pela fundação, em 1953, do MRAR – Movimento de Renovação da Arte Religiosa.
Em termos formais, o projeto assumiu a corrente “Late Modern”, linguagem que se traduzia numa arquitetura de betão complexa e bastante expressiva que, nas palavras de João de Almeida, criava “esculturas de betão”.
© Hugo Casanova
Antecipando a muito aguardada inauguração da igreja de Paço de Arcos, o Cardeal Patriarca de Lisboa D. Manuel Gonçalves Cerejeira publicou, a 30 de Julho de 1969, o decreto de criação da também muito desejada paróquia de Paço de Arcos, cujos limites seriam coincidentes com os da freguesia civil. O documento, que entraria em vigor apenas no dia da inauguração da igreja, atribuiu a esta, como orago, a Sagrada Família. De modo que, com esta denominação, foi finalmente inaugurada a igreja, no dia 24 de Agosto de 1969, por D. António de Castro Xavier Monteiro, Arcebispo de Mitilene.
Igreja envolvente, moderna, ampla e funcional, pensada e proposta no espírito do Concílio Vaticano II para acompanhar o modo apostólico do seu e de todos os tempos.
Imagem: Capa | D.R.