Dentro da oitava de Natal, um período em que continuamos a comemorar jubilosamente o Natal do Senhor, a Igreja celebra no último domingo do ano a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José.

A Palavra de Deus fala-nos da família, a primeira escola de amor e de unidade e apresenta-nos a Família de Nazaré como exemplo a seguir por todas as famílias.

I Leitura (Sir 3, 3-7.14-17)
Na primeira Leitura, composta por versículos do Livro de Ben-Sirá (também designado por Eclesiástico), um dos livros da literatura Sapiencial de Israel, o autor fala-nos dos deveres que os filhos devem ter sempre presentes nas relações com os pais.
Ajudar os pais nas suas necessidades, não os desgostar, não os desprezar, não os abandonar na sua velhice e ser complacente com eles, são atitudes que, além de exprimirem o amor e o respeito por aqueles que foram instrumentos de Deus Criador e nos geraram para a vida, esse maravilhoso dom recebido de Deus, manifestam a obediência e o amor por Aquele que é a origem de toda a vida.
Num tempo em que há uma cultura do descartável, que se aplica em quase tudo, inclusive às pessoas que fazem parte da família, os cristãos devem ser sinal do amor e respeito pelos pais, contribuindo através do seu exemplo para que a sociedade possa caminhar no sentido de que, em quaisquer circunstâncias, a pessoa humana seja valorizada e dignificada.

II Leitura (Col 3, 12-21)
Na segunda Leitura o apóstolo Paulo lembra a comunidade de Colossos que a sua condição de cristãos, eleitos de Deus, exige um conjunto de práticas consequentes com a sua adesão a Cristo. Por isso, Paulo exorta os Colossenses a revestirem-se de “sentimentos de misericórdia, de bondade, humildade, mansidão e paciência” e recomenda-lhes que devem praticar o amor e o perdão, seguindo em tudo o exemplo de Jesus Cristo – “Suportai-vos e perdoai-vos uns aos outros… “Acima de tudo, revesti-vos da caridade…”
É esta dinâmica de amor e perdão que Paulo aplica à vida familiar quando, no final da sua carta, faz algumas recomendações aos maridos, às esposas, aos pais e aos filhos.
Este texto, no qual Paulo define a identidade cristã, obriga a uma profunda reflexão sobre a nossa vida cristã e a nossa própria identificação com Cristo.
Será que temos consciência das exigências que nos são colocadas pelo facto de sermos cristãos?
Será que nas nossas relações com os outros, particularmente com os que estão mais perto de nós (a nossa família), damos prioridade ao amor e ao perdão?

Evangelho ( Lc 2, 41-52)

O Evangelho narra-nos o episódio da deslocação da Sagrada Família a Jerusalém, por altura da celebração da festa anual da Páscoa, para cumprir com o prescrito na Lei de Israel, que estipulava a peregrinação a Jerusalém por ocasião das principais festas.
Apesar da observância da Lei ser apenas obrigatória para os homens na idade adulta, a qual, em Israel, era atingida aos treze anos, Maria e Jesus levaram o Menino com a idade de 12 anos. Este facto mostra-nos como Maria e José, através da sua educação religiosa e do seu exemplo, queriam envolver Jesus, desde muito novo, nas celebrações mais importantes da fé do seu Povo.  Quando já se encontravam no caminho de regresso a Nazaré, verificaram que Jesus se tinha perdido. Depois de O procurarem durante três dias, encontraram-no no Templo a dialogar com os doutores e quando lhe pedem explicações, Jesus responde: “Porque Me procuráveis? Não sabíeis que Eu devia estar na casa de meu Pai?”
Com esta resposta, Jesus define que a prioridade da sua vida é estar com o Pai e fazer a Sua vontade, concretizando assim no mundo o projecto salvífico de Deus, o que, como diz o evangelista, não foi entendido pelos pais. Apesar de não terem entendido, Maria e José não condenaram ou criticaram Jesus, tendo mantido uma atitude de compreensão e de protecção da união e da paz no seio da família.
Neste texto,  S. Lucas pretende, por um lado, dar a conhecer a identidade de Jesus e qual será, no futuro, a sua missão no mundo e, por outro lado, realçar o facto de a Família de Nazaré ser fiel cumpridora da Lei do Senhor e de aceitar construir a sua existência conforme os planos de Deus, o que faz dela um modelo para todos os tempos.
Numa sociedade em que o conceito primitivo de Família e os seus valores intrínsecos estão permanentemente a ser atacados e, em muitas situações, completamente destruídos, os cristãos são convocados a seguir o exemplo da Família de Nazaré e a fazer de cada família uma  “Igreja doméstica”, onde impere a escuta e a vivência da Palavra do Senhor e se cultive o amor a Deus e aos outros, demonstrando o quão importante é o núcleo familiar para a construção de uma sociedade mais justa e de um mundo verdadeiramente melhor.

SAGRADA FAMÍLIA DE JESUS, MARIA e JOSÉ