Concluído o Tempo Pascal, retomamos o tempo litúrgico designado por Tempo Comum. Neste XI Domingo do Tempo Comum, somos convidados a contemplar o Mistério da Santíssima Trindade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cujo modelo de amor e de perfeita unidade e comunhão nos deve estimular e comprometer a viver da mesma forma com Deus e com os outros.

A Santíssima Trindade é formada por três pessoas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que têm a mesma natureza, a mesma divindade, o mesmo poder e a mesma perfeição; é um mistério de um só Deus em três pessoas distintas, consubstanciais e de igual glória, o que é de difícil interpretação e compreensão pela inteligência humana. O mais importante não será procurar decifrar e compreender este Mistério, mas sim acreditar e vivê-lo em toda a sua dimensão.

Os cristãos não professam três deuses, mas um só Deus em três pessoas. É um Deus uno e trino, um Deus que é família, comunidade e amor, que se foi revelando de várias formas ao longo da História da Salvação. Ele revelou-se na Criação – o Amor criador do Pai –, na Encarnação – o Amor filial de Jesus Cristo, que morreu para redimir toda a criação – e no Pentecostes – o Amor do Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, cuja presença e acção realiza a obra santificadora de todos os homens.

A Santíssima Trindade está presente na vida de todos os cristãos, desde o início até ao fim. Somos baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, recebemos as bênçãos, em todos os actos litúrgicos, de igual forma, rezamos o Credo centrados na acção das três pessoas da Santíssima Trindade, dirigimos, na Eucaristia, as nossas orações ao Pai, por meio do Filho e no Espírito Santo, e rezamos frequentemente a Glória, a oração em que é dada glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.

Como diz o Catecismo da Igreja Católica “o mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da nossa fé e da vida cristã. É o mistério do próprio Deus. É, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé, e a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na “hierarquia das verdades da fé”. Toda a história da salvação não é senão a história dos caminhos e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, Se revela, Se reconcilia, e Se une aos homens que se afastam do pecado”. (CIC 234)

Que a celebração desta solenidade aumente em nós a consciência de que estamos cheios do amor e da presença de um Deus que é Pai, Filho e Espírito Santo, para que inspirados na comunhão perfeita das pessoas da Santíssima Trindade sejamos missionários de um amor infinito, que se estende por todos e é gerador de comunhão.

Comentários às Leituras retirados do Secretariado da Liturgia

I LEITURA Prov 8, 22-31
Antes das origens da terra, já existia a Sabedoria

A Sabedoria não é só um bem muito desejável. É mais do que isso.
É uma pessoa viva, cuja origem é anterior à criação de todas as coisas. Intimamente unida a Deus, mas, ao mesmo tempo, distinta d’Ele, assiste-O na obra da criação, manifestando-se activamente criadora. Proveniente de Deus, pertence ao âmbito divino. Contudo, ela vem ao encontro dos homens, no desejo profundo de com eles estabelecer relações de amizade.
Nesta Sabedoria de Deus, assim descrita no Antigo Testamento (o qual, sem nos dar uma revelação precisa do mistério trinitário, nos vai introduzindo, pouco a pouco, nos segredos da vida íntima de Deus), vê a tradição patrística, a partir de S. Justino, o Verbo de Deus, Jesus Cristo, Sabedoria e Palavra criadora de Deus, pelo Qual «tudo foi criado» (Jo. 1, 3).

II LEITURA – Rom 5, 1-5

Para Deus, por Cristo, na caridade que recebemos do Espírito

A vida cristã mergulha as suas raízes no mistério de um Deus uno, Sua essência e trino em Pessoas, tal como se revelou em Jesus Cristo. Pelo Sacrifício de Jesus, nós fomos, na verdade, introduzidos nessa comunhão de vida e amor, que é a Trindade Santíssima.
Reconciliados com o Pai, justificados mediante a fé, passámos de um estado de inimizade com Deus à posse de uma amizade, que nos transforma em imagens e filhos de Deus. Começámos a viver da própria vida de Deus. E embora entre a justificação e a salvação medeie o espaço da nossa vida terrena, tão fértil em tribulações, estamos seguros de que viremos a gozar, de modo perfeito, das riquezas de Deus, pois o Espírito Santo nos foi dado como penhor do amor do Pai por nós.
Em paz com Deus e os irmãos, o cristão vai-se divinizando e divinizando a sua vida quotidiana. Vai impregnando de amor as suas relações humanas, procurando reproduzir na vida de cada dia o amor que se revelou no mistério da Trindade.

EVANGELHO – Jo 16, 12-15

«Tudo o que o Pai tem é meu.
O Espírito receberá do que é meu, para vo-lo anunciar»

No decorrer de toda a Sua vida, Jesus foi dando a conhecer aos Apóstolos, de maneira progressiva, mas muito concreta, as Suas relações com o Pai e o Espírito Santo, introduzindo-os assim no mistério de Deus uno e trino. Ao terminar a Sua missão, promete-lhes o Espírito Santo, como guia seguro, no tempo da Sua ausência. Espírito de verdade, Ele manterá vivo o ensinamento de Jesus, através dos séculos; Ele ajudará os discípulos a aprofundar a Revelação de Jesus, Palavra definitiva do Pai (Jo. 1, 12; 18).
Aceitando este dom de Deus, o Espírito enviado por Cristo, para nos iluminar, vivificar e divinizar, nós recebemos a salvação, que não é simples libertação do pecado, mas sim inserção na vida trinitária
– inserção que só será perfeita na eternidade.

SOLENIDADE DA SANTÍSSIMA TRINDADE