Cinquenta dias depois da Páscoa da Ressurreição do Senhor, celebramos neste Domingo a Solenidade do Pentecostes, que comemora a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, festa que encerra o Tempo Pascal.
A Palavra de Deus tem como tema principal o Espírito Santo, Aquele que “…é o Senhor que dá Vida e procede do Pai do Filho; e como o Pai e o Filho é adorado e glorificado”, como professamos em todos os Dias do Senhor.
O Espírito Santo, a terceira pessoa da Santíssima Trindade, continua a ser um desconhecido para muitos dos que professam a fé cristã. Uma parte dos cristãos reconhece o Deus Pai, relaciona-se com Deus Filho, Jesus Cristo, mas nem todos sentem a presença e a acção do Espírito Santo e a importância que Ele tem nas suas vidas.
O nosso Deus é um Deus uno e trino, ou seja, um só Deus em três pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. Assim, o Espírito Santo é Deus com o Pai e o Filho, e como o Pai e Filho recebe a mesma adoração e glória. Por isso, rezamos na oração da Glória: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito, como era, no princípio, agora e sempre. Amém.
Como relata a Sagrada Escritura, o Espírito Santo foi revelando a sua presença e manifestando a sua acção em momentos determinantes da História da Salvação: na criação, pairando sobre as águas, como força criadora de Deus, nas pessoas que foram decisivas para a condução do Povo de Israel, designadamente os patriarcas, profetas e reis, guiando a sua missão, em Maria, quando pelo seu poder Jesus Cristo foi concebido e no baptismo do Jordão, quando desceu sobre Jesus.
Hoje, o Espírito Santo, prometido por Jesus e a quem designou como o Paráclito (advogado, defensor, consolador), continua a revelar a sua presença e a manifestar a sua acção. Ele veio em Pentecostes para ficar para sempre na Igreja e para habitar e agir no coração de todos os que creem em Jesus Cristo. Ele é quem ajuda a compreender os mistérios da fé e a discernir qual o caminho a seguir para que seja feita a vontade de Deus.
I Leitura (Act.2,1-11)
A primeira leitura começa por nos relatar o facto de os discípulos estarem reunidos no mesmo lugar, quando o Espírito Santo manifesta a sua presença, sob a forma de vento e de línguas de fogo que descem sobre cada um deles.
Esta narração do Pentecostes no livro do Actos dos Apóstolos pretende ser uma catequese aos cristãos da Igreja primitiva que começavam a ter dúvidas sobre a sua adesão e fidelidade a Jesus Cristo. Na sua catequese, S. Lucas usa imagens e símbolos que não podem ser interpretados literalmente, mas têm de ser percebidos para que seja entendida a mensagem fundamental que o autor transmite neste texto.
Lucas coloca a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, festa judaica em que se comemorava a dádiva da Lei e a constituição do Povo de Deus, sugerindo que o Espírito é a lei da nova Aliança e que é por Ele que se forma a comunidade nova do Povo de Deus. Além disso, utiliza simbolicamente o vento e o fogo, elementos característicos da manifestação de Deus no monte Sinai e que representam a Sua força, e a forma como o Espírito desceu, a língua de fogo. A língua é elemento de comunicação, pois é através da linguagem que nos relacionamos uns com os outros, que criamos a possibilidade de vivermos unidos e em comunhão.
Esta vinda do Espírito Santo, conforme havia prometido Jesus Cristo (“…mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas (…) até aos confins da terra”), transforma radicalmente os discípulos, capacita-os e dá-lhes a força de Deus para começarem a missão de anunciar o Evangelho a todos os povos, dando assim início à actividade evangelizadora da Igreja.
Este texto define claramente o que é a Igreja e qual é a sua missão: comunidade do Povo de Deus reunida à volta de Jesus Cristo e animada pelo Espírito Santo, cuja missão primordial é a de fazer o anúncio do Evangelho a todos os homens.
II Leitura (1Cor 12,3-7.12-13)
Paulo dirige-se à comunidade de Corinto, uma comunidade em que havia muitas divisões, para transmitir que é pela presença e acção do Espírito Santo que tudo se realiza.
De facto, é necessária a sua presença e acção para compreender e fortalecer a fé em Cristo – “Ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor a não ser pela acção do Espírito Santo”.
Paulo também nos diz que há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo, há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo, há diversidade de actividades, mas é Deus que realiza tudo em todos, a fim de nos fazer compreender que os dons, ministérios e actividades provêm do Espírito Santo de Deus, são todos necessários e importantes, devendo, por isso, ser acolhidos como uma graça e colocados humildemente ao serviço da comunidade.
Tomemos consciência de que todos somos membros do Corpo de Cristo e todos recebemos a mesma dignidade pelo Baptismo, para que, nas nossas comunidades, a união com Cristo e com os irmãos seja a melhor prova de fé e de autêntica unidade cristã.
Evangelho (Jo 20,19-23)
No domingo da Ressurreição, quando os Apóstolos se encontravam fechados, em casa, com medo dos Judeus, Cristo Ressuscitado apareceu no meio deles e disse-lhes: “A Paz esteja convosco”. Esta paz de Jesus Cristo não é a paz que o mundo dá, é a paz messiânica prometida, a verdadeira paz, aquela que traz confiança e alegria.
E depois de ficarem cheios de paz e alegria, Jesus Cristo envia-os para testemunhar no mundo o perdão que Deus oferece a todos os que se convertem. Em seguida, sopra sobre eles a plenitude do Espírito, o que faz recordar o sopro de Deus na Criação, tornando-os participantes do mesmo Espírito, para que pela Sua acção possam ser continuadores da missão de Jesus Cristo e anunciadores do plano salvífico de Deus para toda a humanidade.
Também nós, os cristãos, pelo Sacramentos do baptismo e da crisma fazemos parte da comunidade que deve testemunhar no mundo o amor de Jesus Cristo e dar continuidade à sua missão. Por isso, neste dia de Pentecostes, bem como em todos os dias, devemos invocar o Espírito Santo, para que actue plenamente em nós e nos liberte de tudo o que impede os nossos corações de se abrirem e se deixarem inundar pela Paz e o Amor de Deus. Não nos cansemos de, em todas as circunstâncias, invocar o Espírito Santo, dizendo “Vinde Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do Vosso Amor. Enviai, Senhor, o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra”.