A Palavra de Deus do VII Domingo do Tempo Comum propõem-nos uma reflexão sobre o amor ao próximo, o perdão e a misericórdia, atitudes fundamentais de todos os que querem seguir Jesus Cristo.

I leitura (1Sm 26,2.7-9.12-13.22-23)

A primeira leitura, extraída do primeiro Livro de Samuel, relata-nos um episódio acontecido no início da monarquia em Israel, que tem como protagonistas Saul e David. Saul, o primeiro rei de Israel, foi um rei pedido pelo povo, escolhido por Deus e ungido por Samuel para presidir aos destinos dos israelitas. No entanto, Saul desagradou a Deus, chegando mesmo a agir contra a sua vontade.
David, um homem escolhido por Deus, foi ungido por Samuel para ser o futuro rei de Israel, o que gerou um conflito entre Saul e David, que teve como consequência a perseguição feita a David pelo exército do rei com a intenção de o matar, o que o obrigou a andar fugido.
Como relata o texto de hoje, David teve a oportunidade de atentar contra a vida do rei e terminar com a perseguição, mas recusou erguer a mão contra o ungido do Senhor. David não se deixou mover por impulsos humanos, como o espírito de vingança e o uso da violência, e agiu conforme a lei de Deus, perdoando o seu inimigo e respeitando a sua vida.
Num mundo em que há muitas situações de violência, nomeadamente guerras, agressões físicas e verbais, muitas delas geradas por vingança ou por lutas de poder, os cristãos são chamados a não responder a atitudes hostis ou violentas e a denunciar todas as situações que atentam contra a paz, a vida e dignidade humana.

II leitura (1Cor 15,45-49)

Na segunda leitura, S. Paulo continua a catequese sobre a ressurreição. Os cristãos de Corinto, uma comunidade originária de uma tradição cultural e religiosa diferente da judaica, apresentava muitas dúvidas quanto à ressurreição. Para tentar esclarecer esse mistério, Paulo retoma o paralelo entre Adão, o representante de uma humanidade terrestre sujeita à morte, e o novo Adão, Jesus Cristo, o primeiro de uma humanidade celeste e gloriosa, para dizer que o ser humano é portador de ambas as imagens. A de Adão, que corresponde à primeira criação, que terá o seu fim na morte, e a do novo Adão, Cristo, o primeiro da nova humanidade de Filhos de Deus, que, como Ele, ressuscitará e viverá eternamente.
A fé na ressurreição, que todos os Dias do Senhor proclamamos no Credo – creio na ressurreição dos mortos –, não pode ser uma simples declaração, mas tem de ser uma certeza que vem do íntimo do nosso coração.  Só acreditando convictamente na ressurreição é que podemos orientar a nossa caminhada terrestre no sentido de que, um dia, ressuscitaremos como Cristo e alcançaremos a vida plena, na comunhão com Deus.

Evangelho (Lc 6,27-38)

Depois da proclamação das bem-aventuranças, Jesus desafia as normas sociais da época e convida os seus discípulos a agirem de forma radicalmente diferente: “Amai os vossos inimigos”.
Deus é amor e a todos ama. O convite de Jesus é que amemos os outros como Deus nos ama, ou seja, amar não segundo os critérios humanos, que são condicionais e limitados, mas segundo os de Deus, que são incondicionais e ilimitados.
Jesus propõe que esta dinâmica de amor não se limite a uma simples ideia, mas tenha por base acções muito concretas, designadamente fazer bem aos que nos odeiam, abençoar os que nos amaldiçoam, rezar pelos que nos caluniam.
O resumo desta forma de agir é feito numa frase, que é habitualmente designada por a “regra de ouro” do amor cristão: “o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas” (Mt. 6, 12). E para que esta atitude esteja presente nas relações com os outros, é necessário fazer bem ao próximo, independentemente de esperar qualquer forma de retribuição. É amar de forma gratuita, é dar o amor gratuito que recebemos de Deus e não o guardar unicamente para nós.
Jesus apresenta também a misericórdia divina como a medida a seguir nas relações fraternas e, por isso, diz aos discípulos: Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso.
Por fim, Jesus convida os discípulos a não julgarem, não condenarem, perdoarem e darem, advertindo que a medida que usarem com os outros será a mesma usada com eles.
Este texto evangélico define claramente o que Jesus espera dos seus discípulos de todos os tempos. No meio do mundo, eles devem ser os primeiros a optarem, em quaisquer circunstâncias, pela via do diálogo, da compreensão, da reconciliação e do perdão, contribuindo assim para a paz e para a construção de um mundo em que a prática do amor elimine todo o mal.

VII DOMINGO DO TEMPO COMUM