A Palavra de Deus do XXXI Domingo do Tempo Comum convida-nos a reflectir sobre os mandamentos que são a característica essencial da vida cristã: amar a Deus acima de todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo.
I Leitura (Dt 6,2-6)
A primeira leitura, retirada do livro de Deuteronómio, que quer dizer segunda lei, o último livro do Pentateuco (primeiros cinco livros do Antigo Testamento), relata-nos uma parte do segundo discurso de Moisés.
Na sequência da proclamação do Decálogo, ou Dez Mandamentos, a Lei recebida de Deus e pela qual foi renovada a Aliança com Israel, Moisés exorta o Povo a temer o Senhor, o que não significa ter medo, mas respeito, reverência, obediência e o reconhecimento das nossas limitações e fraquezas perante a Sua santidade e transcendência, e a cumprir as leis e preceitos ordenados.
Em seguida, Moisés cita a primeira parte da profissão de fé de Israel, conhecida como “Shema’ Israel” (Ouve Israel), uma oração do devocionário judaico que continua a ser recitada diariamente pelos judeus, para salientar que Deus é o único Senhor que se deve amar “com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças”.
Num tempo em que outros “deuses”, nomeadamente o dinheiro, o sucesso, o poder, a posição social, etc., são uma tentação para prescindir do verdadeiro Deus e viver de costas viradas para Ele, os cristãos devem tomar consciência de que só Deus é o único Senhor que os pode conduzir à felicidade e à vida plena.
II Leitura (Heb 7,23-28)
A segunda leitura volta a falar-nos de Jesus Cristo, o sumo-sacerdote.
O texto deste domingo, também retirado da Carta aos Hebreus, fala-nos da superioridade do sacerdócio de Jesus Cristo em relação ao que foi exercido pelos sacerdotes da Antiga Aliança.
O autor, depois de considerar as diferenças existentes entre os dois sacerdócios, concluiu que o de Cristo é manifestamente superior.
Há diferença no tempo de duração do sacerdócio, pois, enquanto os sacerdotes da Antiga Aliança tinham um exercício limitado, devido à sua condição de mortais, Cristo ressuscitado permanece vivo e tem um sacerdócio eterno.
Há ainda diferença em relação ao pecado: os sacerdotes precisavam de oferecer sacrifícios pelos seus pecados e os do povo, enquanto Cristo, que não tinha pecado, ofereceu-se a si mesmo como sacrifício único para redimir os pecados de todos.
Jesus foi estabelecido pelo Pai Sacerdote perfeito e eterno, sendo o nosso mediador por excelência junto de Deus. Como diz S. Paulo, “Pois, há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, um homem: Cristo Jesus, que se entregou a si mesmo como resgate por todos” (1 Tim 2, 5)
Evangelho (Mc 12,28-34)
No Evangelho, um escriba pergunta a Jesus «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?».
Esta pergunta não era descabida, uma vez que, além dos dez mandamentos da Lei que faziam parte da Aliança de Deus com o seu Povo, havia, naquele tempo, mais de 600 preceitos e tradições destinados a regular situações concretas da vida quotidiana, o que constituía um problema para quem quisesse cumprir a lei.
Jesus responde, utilizando citações de dois livros do Pentateuco, o Deuteronómio (1ª Leitura) e o Levítico (Lv 19,18): o primeiro é ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças e acrescenta um segundo mandamento – ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’.
Estes dois mandamentos, amar a Deus e ao próximo, apresentados por Jesus Cristo como os maiores de todos, são indissociáveis e resumem a maneira de ser e de agir de todo daquele que se diz cristão. Como refere a carta de S.João: “Se alguém disser: «Eu amo a Deus», mas tiver ódio ao seu irmão, esse é um mentiroso; pois aquele que não ama o seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. E nós recebemos dele este mandamento: quem ama a Deus, ame também o seu irmão. (1 Jo 4, 20-21)
Na verdade, só reconhecendo que Deus é Único, ao qual devemos amar com todo o nosso coração, toda a nossa alma, todo o nosso entendimento e todas as nossas forças e, ao mesmo tempo, amar o próximo como a nós mesmos, é que se consegue cumprir toda a lei e, como o escriba, não estar longe do Reino de Deus.