A escuridão não pode ser derrotada com mais escuridão

O tempo que atravessamos é um tempo complicado. Pode parecer uma frase feita, mas de facto, se formos conscientes ao fluir da sociedade, vemos que ela vive, em grande parte, da aparência, imediatismo, excessos de toda a espécie, onde a coerência de comportamentos, de ideias, de escolhas, dura o espaço de 24 horas… Neste clima de excessos, que não se limitam ao consumismo, mas também se estendem às áreas da religião, da política, do desporto, da economia e até da família, as personagens mais famosas, e em alguns casos mais votadas, são aquelas que procuram estar sempre no centro das atenções, sempre na crista da onda… Para muitos é um tempo de confusão e de desencorajamento, porque falta coerência, confidencialidade, humildade, dignidade… A semana passada dizia-me um amigo de vetusta idade: «O nevoeiro e a escuridão invadem o nosso quotidiano, deixando-nos quase cegos sobre para onde iremos se continuarmos assim: guerras no norte e no sul, mas o leste e o oeste também não estão bem, com violência, extremismo e ódio. Os homens parecem ter escolhido as trevas em vez da luz». Parece que há um apagão. Um apagão das mentes, dos comportamentos e das escolhas inteligentes e pacíficas. Um apagão na escuta da gente sábia e moderada. Porém, como lhe disse, nós cristãos, acreditamos verdadeiramente que as trevas nunca serão derrotadas com mais trevas. Jamais serão transformadas em luz, com conflitos, violência, excessos e extremismos de direita ou de esquerda. Tal como a felicidade não é gerada com o consumismo do Natal. Enquanto tentarmos vencer esta escuridão com mais escuridão, permaneceremos numa dinâmica que nunca terá fim e que criará novas injustiças. Foi o que São João nos tentou dizer há quase 2000 anos: “A luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a Luz”. O mistério do Natal chega-nos precisamente nestas condições. Entre as mil preocupações, deceções e medos, temos uma certeza: Deus vem habitar no meio de nós. Deus quer viver connosco. Mesmo que vivamos suspensos num medo que anestesia a nossa alegria, é Ele que mais uma vez nos vem visitar. É à luz desta certeza que aqueles pequenos sinais que hoje decoram as nossas casas e as nossas ruas adquirem valor e beleza. Testemunhos de uma presença que tem sabor a novidade, de um amor que se renova e rompe o medo, de uma luz que aquece as trevas. É o convite a nunca desanimar, mesmo que a realidade em que vivemos seja, por vezes, dolorosa e difícil. Com efeito, ao fazer-se homem, o Senhor tomou sobre Si, tudo o que há de humano, de fraco, até de escandaloso e de contraditório, para o elevar ao Céu. Que esta seja a fonte da nossa esperança! (© iMissio)

Mensagem de Natal de D. Manuel Linda, bispo do Porto

Na sua Mensagem de Natal, o bispo do Porto saúda em particular os mais frágeis e os mais idosos, os doentes, os presos, os migrantes, os mais pobres. A todos convida para a Abertura do Jubileu 2025 na diocese do Porto, no domingo 29 de dezembro pelas 16.30h na Catedral do Porto. Publicamos aqui a transcrição das palavras de D. Manuel Linda. Amigas e amigos, como nos aproximamos do Natal, não queria deixar passar este tempo sem uma mensagem de saudação. No nosso interior não se perdeu, nem nunca se perderá, aquele sentimento de júbilo e de bem aventurança que nos transporta ao presépio, e nos faz sonhar com tempos novos de fraternidade e felicidade universais. Mas temos mesmo razões para isto? Há razões para a esperança e para o sonho? Haverá futuro? Ao olharmos para o nosso mundo, parece que nada nos anima, nada nos entusiasma, nada nos dá esperança e ânimo. Não são somente as convulsões do mundo, são também os nossos atritos familiares, aqueles que geramos nas redes sociais, os atritos dos ambientes em que nos movemos e até de nós, connosco próprios. De facto, não haveria razões para a esperança se contássemos somente com as nossas forças. Mas não nos podemos esquecer que Alguém, que mesmo na Sua aparente fragilidade, em que Se apresenta como Aquele que não tem força, possui todo o poder transformante do mundo. Ele tem um nome. É o Menino Jesus, nascido em Belém. Nele, de facto, o que parece perdido reencontra-se. A morte dá origem à vida, a guerra é substituída pela paz, pela paz fraterna. Ou, como diria o profeta Isaías: “Das espadas forjarão relhas de arado, e das suas lanças foice para o cultivo do pão”. Então a esperança de um mundo melhor encontra no Deus Menino um alicerce sólido. Ele é o garante da salvação total e em plenitude. Se Lhe abrirmos as portas do nosso coração, Ele fará aí a sua morada e nos trará a paz, a felicidade. É o que iremos saborear já no Jubileu do ano 2025, vivido precisamente sobre o signo da esperança cristã, e para cuja abertura eu convido todos os diocesanos. Será no dia 29 deste mês. Começará com uma concentração na Igreja de Santo Ildefonso, aqui na cidade do Porto, às 16h00, seguida de uma procissão até à nossa Catedral, onde por volta das 16h30 será celebrado o rito da abertura do Jubileu, e a Missa. Posso contar com todos? Neste clima de ânimo e de esperança, quero saudar os mais frágeis e os mais idosos, os doentes, os presos, os migrantes, os mais pobres, concretamente os sem-abrigo. Não me esqueço das crianças, das famílias, dos que vivem sós. Igual pensamento vai para os que fazem o bem organizado, como a nossa Cáritas, Conferência Vicentina, colaboradores das nossas instituições sociais, mormente dos centros sociais e paroquiais e da nossa obra Diocesana de Promoção Social. Saúdo todos aqueles que contribuam para a boa organização das realidades do mundo, tais como autarquias, organismos públicos, escolas e universidades. Uma palavra vai para os evangelizadores, sacerdotes, diáconos, colaboradores na vida paroquial. Enfim, dirijo-me a todas e a cada uma das pessoas que vivem na área desta grande Diocese, mesmo a aqueles que não partilham a fé cristã. A todos, ouso dizer: coragem. Quanto mais escuras são as nuvens, mas o Sol há de brilhar para fazer nascer o dia. Confiamos em Jesus. Em Jesus do presépio. Ele é o Salvador. A todos, mesmo a todos. Feliz Natal! Um Natal de ânimo, de salvação, de alegria e de paz.

Natal do Senhor

«Um Menino nasceu para nós, um Filho nos foi dado!». Alegremo-nos e exultemos porque Deus Se fez um de nós! Aquele que é eterno, omnipotente, omnipresente e omnisciente, o Deus sem princípio nem fim, Autor de tudo quanto vemos e conhecemos, fez-se um de nós; nasceu na humildade e na fragilidade daquele bebé nascido no presépio de Belém. É a maravilha do Amor de Deus: um Deus que vem ao nosso encontro, um Deus que toma a iniciativa, que se aproxima de nós. Faz-se tão próximo, tão próximo, que se faz um de nós, que assume a nossa natureza! Só um Deus cheio de amor ousa levar a cabo esta missão: vir até nós e assumir a nossa humanidade. Por isso, na contemplação do mistério do Natal, mais do que aprendermos como nos devemos comportar diante de Deus, aprendemos como Deus se comporta connosco, como Deus dialoga connosco e como entra na nossa história. Ele que «muitas vezes e de muitos modos falou Deus antigamente aos nossos pais, pelos Profetas. Nestes dias, que são os últimos, falou-nos por seu Filho, a quem fez herdeiro de todas as coisas e pelo qual também criou o universo». Ele vem, ligeiro sobre os montes, na colina de Belém, no estábulo por não haver lugar para ele na hospedaria, vem como mensageiro da Paz cumprindo a profecia de Isaías: «Como são belos sobre os montes os pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação». Ele traz-nos a boa notícia do amor. Haverá melhor notícia de que nos anunciarem que alguém nos ama muito e que nos quer felizes? Pois, muito bem, é essa notícia que o Menino nascido para nós nos vem trazer. «O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós». O Verbo de Deus é Deus dito em linguagem humana, por isso, Jesus Cristo é a Palavra feito carne, isto é, Aquele por meio do Qual Deus se dá a conhecer e faz-nos conhecer a Sua verdadeira identidade. O nascimento de Jesus marcou indelevelmente a história da humanidade, marcou o tempo e a história, fazendo com que, ainda hoje, crentes e não crentes contem o tempo antes e depois de Cristo: tudo o que acontece na história datamo-lo antes e depois de Cristo. Jesus aparece como a referência histórica por excelência. Quão bom seria se assim pudesse ser a nossa vida, que tudo o que fazemos e vivemos o fizéssemos por referência a Cristo. Sejamos audazes e corajosos e contemos os nossos dias, todos os momentos do nosso dia, a partir de Cristo, antes ou depois, ou melhor sempre depois, porque a iniciativa de amor é sempre Dele. E se Deus se fez um de nós, se Deus quis habitar connosco, quis montar a Sua tenda no meio da humanidade, foi para nos revelar que a Sua grandeza não está nas manifestações espectaculares ou na sua omnipotência que lhe permite abanar os Céus e a Terra, mas que a Sua grandeza é a do amor. Que Ele permanece grande quando se faz pequeno e parece fraco aos olhos humanos. No Menino do Presépio, Deus aproxima-se da humanidade, fazendo-nos saborear este mistério de proximidade, para que também nós nos saibamos aproximar uns dos outros. Apenas a distância nos empobrece, pois a proximidade engrandece-nos e faz-nos sentir homens e mulheres mais próximos de Deus porque mais próximos uns dos outros.(VP) NATAL DO SENHOR

Concerto Música Sacra

No próximo dia 27, Sexta-Feira, às 21H30, realiza-se na Igreja de S. Salvador de Ramalde um Concerto com as seguintes participações: Coro da Paróquia de Senhora da Conceição, Leonor Pereira Pinto (soprano), Paulo Oliveira (Glockenspiel), Daniel Ribeiro (Órgão), José Luís Carrapa (Maestro). Este concerto será preenchido com as obras Salve Regina (estreia absoluta) e Te Deum, ambas da autoria de Eugénio Amorim, e Au Soir de “Les Angélus op. 57 de Louis Vierne.  

Viver a Palavra

Evangelho de Lucas 1,57-66 Isabel deu à luz um filho ao qual deram o nome de João. Diante disso, soltou-se a língua de Zacarias, pois estava mudo e ele começou a louvar a Deus. Como viver esse Evangelho no dia de hoje? Zacarias recupera a voz e fala aquilo que até então só sentia em seu coração: “Bendito seja o Senhor, Deus de Israel…”. Quando sentimos fortemente a ação de Deus, a primeira coisa que acontece é sermos tomados pelo encanto, pela maravilha. É o que o pai e a mãe sentem quando pegam pela primeira vez seu filho recém-nascido no colo, ou seu netinho, no caso dos avós: são tomados por uma sensação que lhes aproxima de Deus, uma alegria sem fim. Naquele momento não precisa esforço para agradecer, pois a gratidão vem naturalmente. Neste natal um Filho nos foi dado, por isso, deixe que a gratidão a Deus tome conta de você! Palavras do Santo Padre Todo o acontecimento do nascimento de João Batista está circundado por um jubiloso sentido de admiração, de surpresa e de gratidão. Admiração, surpresa, gratidão. As pessoas são tomadas por um santo temor de Deus «e por toda a região montanhosa da Judeia se comentavam esses factos» (v. 65). Irmãos e irmãs, o povo fiel intuiu que aconteceu algo grandioso, mesmo se humilde e escondido, e pergunta-se: «O que virá a ser este menino?» (v. 66). O povo fiel de Deus é capaz de viver a fé com alegria, com sentido de admiração, de surpresa e de gratidão. Olhemos para aquela gente que falava bem acerca deste evento maravilhoso, deste milagre do nascimento de João, e fazia-o com alegria, estava feliz, com sentido de admiração, surpresa e gratidão. E pensando nisto perguntemo-nos: como é a minha fé? É uma fé jubilosa, ou é uma fé sempre igual, uma fé “tíbia”? Tenho o sentido da admiração, quando vejo as obras do Senhor, quando ouço falar da evangelização ou da vida de um santo, ou quando vejo tantas pessoas boas: sinto a graça, dentro, ou nada se move no meu coração? Sei sentir as consolações do Espírito ou sou fechado? Questionemo-nos, cada um de nós, num exame de consciência: como é a minha fé? É jubilosa? É aberta às surpresas de Deus? Porque Deus é o Deus das surpresas. “Experimentei” na alma aquele sentido da admiração que a presença de Deus dá, aquele sentido de gratidão? Pensemos nestas palavras, que são estados de ânimo da fé: alegria, sentido de admiração, surpresa e gratidão. (Angelus de 24 de junho de 2018)