Viver a Palavra

Evangelho de Lucas 7,36-50 Um fariseu convidou Jesus para uma refeição. Certa mulher, conhecida na cidade como pecadora, foi até onde estava Jesus e estando por detrás dele derramou perfume em seus pés e os enxugava com os seus cabelos. Jesus sabia quem era ela, mas reconheceu o seu amor e disse ao fariseu: os pecados dela estão perdoados, porque demonstrou muito amor. Como viver esse Evangelho no dia de hoje? Deste episódio entendemos que não basta dizermos que amamos muito a Deus: é preciso demonstrar isso por meio de gestos concretos. Fica em aberto a pergunta para cada um de nós: como tenho demonstrado a Deus que o amo de todo coração? Palavras do Santo Padre Esta mulher encontrou deveras o Senhor. No silêncio, abriu-lhe o seu coração; na dor, mostrou-lhe o arrependimento pelos seus pecados; com o seu choro, apelou-se à sua bondade divina para receber o perdão. Para ela não haverá juízo algum a não ser o que vem de Deus, e este é o juízo da misericórdia. O protagonista deste encontro é certamente o amor que vai além da justiça. Ao contrário Simão, o dono de casa, o fariseu, não consegue encontrar o caminho do amor. Tudo é calculado, refletido… Permanece firme no limiar da formalidade. Isto é mau, o amor formal, não se compreende. (…) A chamada de Jesus leva cada um de nós a nunca se deter na superfície das coisas, sobretudo quando estamos diante de uma pessoa. Somos chamados a olhar para além, a fixar o coração para ver de quanta generosidade cada um é capaz. Ninguém pode ser excluído da misericórdia de Deus. (…) Com quanto amor Jesus olha para nós! Com quanto amor cura o nosso coração pecador! Nunca se assusta com os nossos pecados. (Homilia na Liturgia penitencial de 13 de março de 2015)

Nota do Bispo do Porto sobre o drama dos incêndios

Nota episcopal O drama dos incêndios e o contributo dos cristãos Perante a situação calamitosa dos incêndios em Portugal, com triste destaque para a área desta Diocese do Porto, venho, por este meio, solidarizar-me com quantos sofrem os seus efeitos: os familiares dos mortos e feridos; os que veem desaparecer num instante as suas casas e bens que tanto custaram a ganhar; as Autoridades e os Bombeiros, cansados e exaustos por uma situação que se prolonga há já vários dias; os que os ajudam com os poucos meios que têm à mão; os que lhes fornecem comida e água; os que amam a natureza, obra de Deus, e agora nada mais podem contemplar que não seja a destruição, obra do homem; os que sofrem doenças graves por causa dos fumos; os que têm de suportar as estradas cortadas e ficam sem meios de transporte para chegarem ao seu local de trabalho; enfim, os que vivem este pesadelo na sua própria pele. Apelo a todos para que se tenha um cuidado redobrado para que não aconteçam mais casos. Que ninguém se esqueça que, moralmente, a vida ou os bens retirados aos outros por causa do fogo posto tem a mesma gravidade que o homicídio ou o roubo. Perante esta situação tão dolorosa, ouso mesmo pedir que se colabore com as forças de segurança e policiais para a identificação dos pirómanos e dos incendiários que o fazem por maldade. Apelo também aos agentes pastorais que observem de perto os dramas e intentem uma primeira ajuda ou solução, particularmente aos que perdem tudo. Por exemplo, mediante um ofertório específico para esse fim que fica autorizado desde já. E aos cristãos em geral, que exerçam uma solidariedade ativa e uma partilha de bens, se a situação assim o exigir. + Manuel, Bispo do Porto

Viver a Palavra

Evangelho de Lucas 7,31-35 Veio João Batista, que não comia pão nem bebia vinho e vós dissestes que ele está com um demônio. Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e vós dizeis: ele é um comilão e um beberrão, amigo dos pecadores. Como viver esse Evangelho no dia de hoje? Jesus mostrou que Deus não aprova quem acha em tudo e em todos motivos para condenar. Tem gente que reclama do seu esposo ou esposa, dos filhos, do padre, do bispo, do Papa e nem percebe que é ele mesmo o problema. Devido ao seu orgulho coloca-se acima de todos. Fala mal da Igreja e nem percebe que é ela que a dará a salvação. Vive com as mãos cheias de pedras e que serve isso? Palavras do Santo Padre Jesus lhes disse: “Mas eu não vos entendo! Sois como aquelas crianças: tocamos flauta e não dançais; cantamos um lamento e não chorais. O que quereis?”; ‘Queremos o que é nosso: queremos a salvação à nossa maneira!’ É sempre esse fechamento ao modo de Deus”. Eles não acreditam na misericórdia e no perdão: acreditam em sacrifícios. ‘Misericórdia eu quero, não sacrifícios’. Acreditam em tudo resolvido, bem arranjado, tudo claro. Esse é o drama da resistência à salvação. Nós também, cada um de nós, temos esse drama dentro de nós. Mas será bom nos perguntarmos: como eu quero ser salvo? Do meu próprio modo? “Penso que Jesus é Mestre que ensina a salvação, ou vou um guru que me ensine outra? Será bom hoje fazermos essas perguntas a nós mesmos. E a última: Resisto à salvação de Jesus?”. (Homilia na Capela da Casa Santa Marta, 3 de outubro de 2014)

A fraternidade e a resposta às tramas diabólicas do ódio e da guerra

A viagem apostólica à Indonésia, Papua Nova Guiné, Timor-Leste e Singapura foi o tema da catequese do Papa Francisco na Audiência Geral, desta quarta-feira (18/09), realizada na Praça São Pedro. O Pontífice iniciou recordando que “em 1970, Paulo VI foi o primeiro Papa a voar em direção ao sol nascente, visitando por muito tempo as Filipinas e a Austrália, mas também parando em vários países asiáticos e nas Ilhas Samoa”. “Uma viagem memorável”, disse Francisco, afirmando que também nisso tentou seguir o seu exemplo. “Agradeço ao Senhor, que me permitiu fazer como velho Papa o que gostaria de ter feito como jovem jesuíta”, acrescentou. Uma primeira reflexão que surge espontaneamente depois desta viagem é que ao pensarmos na Igreja somos ainda demasiado eurocêntricos, ou, como se costuma dizer, “ocidentais”. Na realidade, a Igreja é muito maior, muito maior que Roma e a Europa, muito maior! Também, ouso dizer, muito mais viva, nesses países! Experimentei isso de forma emocionante, encontrando aquelas comunidades, ouvindo os testemunhos de padres, freiras, leigos, sobretudo catequistas. Igrejas que não fazem proselitismo, mas que crescem através da “atração”, como disse sabiamente Bento XVI. “Na Indonésia, os cristãos representam cerca de 10% e os católicos 3%, uma minoria”, lembrou o Papa, dizendo que encontrou “uma Igreja viva, dinâmica, capaz de viver e transmitir o Evangelho naquele país que tem uma cultura muito nobre, inclinada a harmonizar a diversidade, e ao mesmo tempo tem a maior presença de muçulmanos no mundo. Naquele contexto, tive a confirmação de como a compaixão é o caminho que os cristãos podem e devem percorrer para dar testemunho de Cristo Salvador e, ao mesmo tempo, encontrar as grandes tradições religiosas e culturais”. “Fé, fraternidade, compaixão” foi o lema da visita à Indonésia: com estas palavras o Evangelho entra todos os dias, concretamente, na vida daquele povo, acolhendo-a e dando-lhe a graça de Jesus morto e ressuscitado. Estas palavras são como uma ponte, como a passagem subterrânea que liga a Catedral de Jacarta à maior mesquita da Ásia. Lá, vi que a fraternidade é o futuro, é a resposta à anti-civilização, às tramas diabólicas do ódio e da guerra, também do sectarismo. Existe fraternidade, fraternidade”, sublinhou. Na Papua Nova Guiné, um arquipélago que se estende até à imensidão do Oceano Pacífico, o Papa disse que encontrou “a beleza de uma Igreja missionária em saída”. Lá as diferentes etnias falam mais de oitocentas línguas: um ambiente ideal para o Espírito Santo, que gosta de fazer ressoar a mensagem do Amor na sinfonia das linguagens. O que o Espírito Santo faz não é uniformidade, é sinfonia, é harmonia, é o patrono, é o chefe da harmonia. Lá, de modo particular, os protagonistas foram e são ainda os missionários e os catequistas. Alegrou-me o coração poder conviver um pouco com os missionários e os catequistas de hoje; e fiquei comovido ao ouvir os cânticos e as músicas dos jovens: neles vi um futuro novo, sem violências tribais, sem dependências, sem colonialismos económicos ou ideológicos; um futuro de fraternidade e de cuidado com o maravilhoso ambiente natural. Segundo Francisco, “a Papua-Nova Guiné pode ser um “laboratório” deste modelo de desenvolvimento integral, animado pelo “fermento” do Evangelho. Porque não há nova humanidade sem novos homens e novas mulheres, e só o Senhor os faz”. O Pontífice recordou sua “visita a Vanimo, onde os missionários estão entre a floresta e o mar. Eles entram na floresta em busca das tribos mais escondidas, ali… uma lembrança linda, essa”. “O poder da promoção humana e social da mensagem cristã destaca-se particularmente na história de Timor-Leste”, disse o Papa, recordando que “lá a Igreja partilhou o processo de independência com todo o povo, orientando-o sempre para a paz e a reconciliação”. Isto não é uma ideologização da fé, não, é a fé que se torna cultura e ao mesmo tempo a ilumina, purifica, eleva. Por isso relancei a fecunda relação entre fé e cultura, que São João Paulo II já havia sublinhado na sua visita. Mas sobretudo impressionou-me a beleza daquele povo: um povo experimentado, mas alegre, um povo sábio no sofrimento. Um povo que não só gera muitos filhos, como os ensina a sorrir. Esta é uma garantia do futuro. Em suma, em Timor-Leste vi a juventude da Igreja: famílias, crianças, jovens, muitos seminaristas e aspirantes à vida consagrada. Respirei “ar de primavera”! A última etapa da Viagem Apostólica Internacional do Papa foi Singapura. “Um país muito diferente dos outros três: uma cidade-estado muito moderna, centro económico e financeiro da Ásia e de outros lugares”, disse Francisco, acrescentando: Lá, os cristãos são uma minoria, mas ainda formam uma Igreja viva, empenhada em gerar harmonia e fraternidade entre as diferentes etnias, culturas e religiões. Também na rica Singapura existem os “pequenos”, que seguem o Evangelho e se tornam sal e luz, testemunhas de uma esperança maior do que aquela que os ganhos económicos podem garantir. Francisco agradeceu a esses povos que o “acolheram com tanto carinho, com tanto amor”. Agradeceu também aos “seus governantes que tanto ajudaram nesta visita, para que fosse realizada com ordem, sem problemas”, e  “a todos aqueles que também colaboraram para isso”.  Por fim, agradeceu “a Deus o dom desta viagem! Deus abençoe os povos que conheci e os guie no caminho da paz e da fraternidade”, concluiu.

A vida é uma luta sem fim

Há cada vez mais distrações na nossa sociedade. É hoje mais difícil dedicarmo-nos ao que é essencial na nossa vida. A vida anda tão agitada que já quase ninguém consegue parar um pouco e focar-se no mais importante. E o mais valioso não está em mim… está no outro, que está próximo, ali mesmo, diante de mim. Se medito na minha vida, é possível que me perca por entre tantas possibilidades, tantos passados, uns mais verdadeiros que outros. E em tantos futuros, uns mais agradáveis do que outros. Mas quantas pessoas conseguiram escolher bem o seu destino e o seu caminho para lá chegar, só ao admirarem-se a si mesmas? Precisamos de nos mudar a nós mesmos, em vez de esperar que o mundo se ajoelhe para nos ajudar. Temos de lutar sem procurar descanso para manter o nosso coração a salvo de tudo o que procura escravizá-lo, convencendo-o de que a paz e a felicidade que aspira são impossíveis. O mal não nos quer matar; quer-nos submissos a fazer-lhe as vontades todas. Esquecidos do que somos e que podemos ser. O mal quer-nos rendidos e é por isso que nos distrai ao ponto de, perdidos por entre tantos dos seus brilhos aparentes, fazer com que nos esqueçamos da luz. Fortalece-te e guarda o teu coração como que num castelo. Mas não te deixes ficar aí. Vai ao encontro de outros corações desprotegidos e cuida deles. Assegura-te de que não há nada por mais encantador ou temível que seja que desvie a tua atenção do caminho que tens de sonhar, construir e percorrer. Terás de recomeçar vezes sem fim, e isso desgasta ainda mais do que os próprios combates, fazendo com que pareça que nenhum deles vale a pena e que, afinal, nada faz sentido. A vida é uma luta constante, não é a história de uma batalha difícil, única e definitiva, que se vence e com isso se alcança a grandeza para sempre. Não é assim. O bem quer-nos vivos e a lutar pela vida, pela nossa e pela dos outros, sempre. Renovando a cada dia essa decisão de estarmos ao serviço do amor e com isso a caminho da nossa paz e da nossa felicidade, que devemos continuar a fazer por merecer. Todos. Juntos. O nosso triunfo há de ser feito através de muitos fracassos e catástrofes. A nossa glória há de ser alcançada por termos conseguido manter a nossa fé, apesar de tudo.