Em tempo de guerras e seduções digitais, confiemos toda esperança a Deus

Maria colocou seu destino em boas mãos. Isso nos é lembrado pela catequese do Papa Francisco no Angelus deste domingo (08/12), de Solenidade da Imaculada Conceição, na iminência da abertura da Porta Santa do Jubileu. A origem periférica dessa moça humilde e desconhecida torna-se o centro de uma nova história. Até que ponto estamos dispostos, em uma época angustiada e sombria, a fazer como ela fez diante do Arcanjo Gabriel? Essa é a questão central que o Pontífice aborda hoje. Desejo de domínio ou confiança na misericórdia de Deus? A contemplação da cena narrada no início do Evangelho de Lucas – que o Papa recomenda reler, passando um pouco de tempo ali, porque “eu asseguro que lhes fará bem” – está sintonizada com os tempos atuais. O Sucessor de Pedro faz uma série de perguntas, como fez na homilia na missa celebrada pouco antes na Basílica de São Pedro. Mais uma vez, é o individualismo e o que vem com ele que preocupa o Papa: Em nossa época, agitada por guerras e concentrada no esforço de possuir e dominar, eu, onde coloco a minha esperança? Na força, no dinheiro, nos amigos poderosos, ali coloco a minha esperança? Ou na infinita misericórdia de Deus? E diante dos modelos falsos brilhantes que circulam na mídia e na Internet, onde busco eu a minha felicidade? Onde está o tesouro do meu coração? Está no fato de que Deus me ama gratuitamente, que o seu amor me precede para sempre e está pronto para me perdoar quando volto arrependido para Ele? Naquela esperança filial no amor de Deus? Ou me iludo ao tentar afirmar a todo custo o meu eu e a minha vontade? Em Maria, o encontro do humano e do divino O humano e o divino se unem nessa pequena palavra dita por Maria. É “um instante abençoado”, enfatiza o Papa. Daquela atitude de uma mulher de Nazaré, dependia o destino de toda a humanidade. Como na cena da criação de Adão, pintada por Michelangelo na Capela Sistina, em que o dedo do Pai celeste quase toca aquele do homem; também aqui o humano e o divino se encontram, no início da nossa Redenção, se encontram com uma delicadeza maravilhosa, no instante abençoado em que a Virgem Maria pronuncia o seu “sim”. Reservar tempo para uma bela confissão Por fim, o Papa marcou um encontro na Praça de Espanha neste domingo (08/12), onde irá, como de costume nesse dia de festa, prestar homenagem à estátua de Maria Imaculada, que se refere, ele nos lembra, àquele serviço da Palavra de Deus que cada um é chamado a renovar na vida cotidiana. Aqui Francisco acrescenta um conselho: “hoje é um belo dia para decidir fazer uma boa Confissão”. E lembra que o Senhor perdoa tudo e todos. Ele retorna à Virgem, que revela um mistério, um amor incondicional. Nela não há nada que resista à sua vontade, à vontade de Deus, nada que se oponha à verdade e à caridade. Eis a sua bem-aventurança, que todas as gerações cantarão. Alegremo-nos também nós porque a Imaculada nos deu Jesus, que é a nossa salvação!

2.ª Semana do Advento – Reflexões, Atitudes e Orações

2.ª semana do Advento – Solenidade da Imaculada Conceição: Dar corpo à esperança!  A ditosa esperança tem um exemplo perfeito: Maria, Mãe de Jesus. O Advento é o tempo por excelência de Maria, a Virgem da espera. “A esperança é a virtude da vida quotidiana, na qual se faz o possível e se confia a Deus o impossível” (K. Rhaner). A solenidade da Imaculada Conceição celebra-se como “preparação radical para a vinda do Salvador e feliz princípio da Igreja sem mancha nem ruga” (São Paulo VI, Marialis cultus, 3). Com o seu «sim» abriu a Deus a porta do nosso mundo: o seu coração de jovem estava cheio de esperança, totalmente animada pela fé; e assim Deus escolheu-a e ela acreditou na sua palavra. Ao lado de Maria está José, descendente de Jessé e de David; também ele acreditou nas palavras do anjo e, olhando para Jesus na manjedoura, medita que aquele Menino vem do Espírito Santo, e que o próprio Deus lhe ordenou que o chamassem assim. Na sua exemplaridade para a Igreja, Maria é plenamente a Virgem do Advento, na dupla dimensão que tem sempre na liturgia a sua memória: presença e exemplaridade, Presença litúrgica na Palavra e na oração, para uma memória agradecida d’Aquela que transformou a espera em presença, a promessa em dom. Peregrinas de esperança: As grávidas. Enquanto há vida há esperança; enquanto há esperança, há vida. Diz-se de uma mulher grávida, que está de “esperanças”.  “A mãe, que o traz no ventre, precisa de pedir luz a Deus para poder conhecer em profundidade o seu próprio filho e saber esperá-lo como ele é. Alguns pais sentem que o seu filho não chega no melhor momento; faz-lhes falta pedir ao Senhor que os cure e fortaleça para aceitarem plenamente aquele filho, para o esperarem com todo o coração. É importante que aquela criança se sinta esperada. Não é um complemento ou uma solução para uma aspiração pessoal, mas um ser humano, com um valor imenso, e não pode ser usado para benefício próprio” (Papa Francisco, Amoris laetitia, 170).  Oferecer sinais de esperança:  Apoio a grávidas (nomeadamente através de bens, que a mala das mães deve levar para a maternidade, para uso da mãe ou da criança que vai nascer). Apoio à natalidade. Apoio à vida em todas as suas fases (SNC 9-10). Apoio a instituições que acolhem crianças em risco. Promover a bênção das grávidas. Na Igreja Catedral do Porto, Pastoral Familiar promove esta bênção, no dia 7 de dezembro, às 21h30.  Viver o Ano da Oração “Em todas as minhas orações, peço sempre com alegria por todos vós”, diz São Paulo aos Filipenses (cf. 2.ª leitura do 2.º Domingo do Advento). Rezar todos os dias uma Ave-maria, uma dezena do Rosário ou os cinco mistérios do Rosário. Juntamente a estas e outras orações, pode-se convidar os mais pequenos a entrar em relação com o Senhor através de uma oração espontânea, uma oração que vem do coração. De­ste modo, os mais pequenos aprendem a dialogar com Jesus, a tornarem-se verdadeiros amigos do Senhor, confiando-Lhe as suas necessidades, desejos e preocupações. Pode rezar-se a oração de Santo Inácio, que é outra forma de dizer “eis-me aqui”, “faça-se”. Oração de Santo Inácio de Loyola Tomai, Senhor, e recebei toda a minha liberdade, a minha memória, o meu entendimento e toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo; Vós mo destes; a Vós, Senhor, o restituo. Tudo é vosso, disponde de tudo, à vossa inteira vontade. Dai-me o vosso amor e graça, que esta me basta.  Outra sugestão, de pendor mariano, pode ser a Oração:  Santa Mãe do Redentor, Porta do Céu, Estrela do mar, socorrei o povo cristão que procura levantar-se do abismo da culpa. Vós que, acolhendo a saudação do Anjo, gerastes, com admiração da natureza, o vosso Santo Criador, ó sempre Virgem Maria, tende misericórdia dos pecadores.  

Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria

Embora os domingos do Advento tenham precedência sobre as festas do calendário litúrgico, a solenidade da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria, pelo seu significado em Portugal, será celebrada no dia próprio, 8 de Dezembro, alteração requerida e obtida pela Comissão Episcopal de Liturgia junto da Congregação do Culto Divino. Celebrar neste dia Aquela que foi escolhida para acolher no seu ventre o Filho de Deus, Jesus Cristo, não significa fazer uma interrupção na celebração do Advento, uma vez que Maria é uma das figuras da liturgia deste tempo que nos acompanha na caminhada de preparação para o Natal do Senhor. O dogma da Imaculada Conceição fundamenta-se no facto de a Igreja reconhecer que Maria, desde o primeiro momento da sua existência, foi preservada de toda a mancha de pecado, um privilégio concedido por Deus por causa de seu Filho. Este dogma mariano foi declarado pelo Papa Pio IX, em 8 de Dezembro de 1854, pela bula “INEFFABILIS DEUS”: “A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do género humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.” Apesar de a definição do dogma ter acontecido somente no século XIX, a devoção a Nossa Senhora é muito antiga. Exemplo concreto desta devoção é o do povo Português que sempre teve pela Imaculada Conceição uma especial veneração. Na sequência do sentimento manifestado pela generalidade dos Portugueses, D. João IV, no ano de 1646, em Vila Viçosa, proclamou Nossa Senhora da Conceição Rainha e Padroeira de Portugal e, desde esse dia, mais nenhum rei Português usou a coroa na cabeça, prerrogativa que passou a ser unicamente da Imaculada Conceição. Sem dúvida, os Portugueses, particularmente os cristãos, devem sentir-se orgulhosos e agradecidos pela graça de terem a Mãe de Deus e nossa Mãe como Rainha e Padroeira de Portugal. A Palavra de Deus desta solenidade tem como tema central Maria de Nazaré. “Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua Palavra” – Foi assim, de forma simples e humilde, que Maria se disponibilizou para acolher a vontade de Deus e aceitar incondicionalmente ser a Mãe de Jesus Cristo. É o acolhimento e a aceitação de Maria, demonstrativos da sua grande fé, que vai permitir a Deus, pela acção do Espírito Santo, realizar nela o Mistério da Encarnação, a vinda do Filho de Deus ao mundo, com a missão de dar continuidade ao desígnio salvífico de Deus para toda a humanidade. Maria é o exemplo perfeito da fé, pelo qual todos os crentes devem orientar a sua vida cristã; Ela ensina-nos a estar sempre disponíveis para acolher Deus nos nossos corações e a responder-Lhe, em cada momento e sem hesitação, com o nosso “sim” aos planos que tem para cada um de nós. Peçamos a Maria, nossa Mãe, que interceda junto de Deus por todos os seus filhos e, neste tempo de Advento, os ajude a preparar devidamente a celebração do Mistério da Encarnação de seu Filho, Jesus Cristo. IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA    

Viver a Palavra

Evangelho de Mateus 9,27-31 Dois cegos aproximaram-se e Jesus lhes perguntou: vós acreditais que eu possa curar-vos? Eles responderam: Sim, Senhor! Então Jesus tocou nos olhos deles dizendo: faça-se conforme a vossa fé. E os olhos deles se abriram. Como viver esse Evangelho no dia de hoje? Os cegos não podiam fazer muita coisa para superar sua dificuldade, mas o que podiam fazer, fizeram: foram até Jesus e confessaram sua fé. As nossas fragilidades, pecados e defeitos não são um problema para Deus. Aliás, podem nos aproximar dele. É importante rezarmos as nossas fragilidades, isto é, nos aproximar de Deus e entregarmos a ele com confiança tudo. O resto ele fará. Palavras do Santo Padre Quando Jesus passava, dois cegos clamam por Ele referindo a sua miséria e esperança: «Filho de David, tem misericórdia de nós» (Mt 9, 27). «Filho de David» era um título atribuído ao Messias, que as profecias anunciavam ser da linhagem de David. Assim, os dois protagonistas do Evangelho de hoje são cegos e, contudo, veem o que mais conta: reconhecem Jesus como o Messias que veio ao mundo. […] Também nós, como os dois cegos, somos caminhantes muitas vezes imersos nas trevas da vida. A primeira coisa a fazer é ir ter com Jesus, como Ele próprio nos pede: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28). E quem dentre nós não está de alguma forma cansado e oprimido? Todos. Todavia sentimos relutância a encaminhar-nos para Jesus; muitas vezes preferimos ficar fechados em nós mesmos, ficar sozinhos com as nossas trevas, lamentar-nos um pouco da nossa sorte, aceitando a má companhia da tristeza. […] Irmãos, irmãs, o Senhor Jesus passa… passa também pelas nossas estradas de Chipre, escuta o clamor das nossas cegueiras, quer tocar os nossos olhos, quer tocar o nosso coração, fazer-nos abrir à luz, renascer, levantar-nos interiormente: isto é o que Jesus quer fazer. E dirige também a nós a pergunta que fez àqueles cegos: «Credes que tenho poder para fazer isso?» (Mt 9, 28). Cremos que Jesus possa fazer isso? Renovemos a nossa confiança n’Ele. Digamos-Lhe: Jesus, acreditamos que a vossa luz é maior do que qualquer uma das nossas trevas; cremos que Vós podeis curar-nos, que Vós podeis renovar a nossa fraternidade, que podeis multiplicar a nossa alegria; e, com toda a Igreja, Vos invocamos todos juntos: Vinde, Senhor Jesus! [todos repetem: «Vinde, Senhor Jesus!»] Vinde, Senhor Jesus! [todos: «Vinde, Senhor Jesus!»] Vinde, Senhor Jesus! (Homilia em Nicosia, Chipre, em 3 de dezembro de 2021)

Ano Santo 2025: peregrinos de esperança

Por Secretariado Diocesano da Liturgia Está prestes a começar o Jubileu do ano 2025. Se considerarmos o que pode e deve ser este tempo de graça na vida da Igreja – universal, particular, local – e na caminhada dos cristãos em Igreja, forçoso é reconhecer que andamos algo distraídos, surdos ou indiferentes a esta mobilização geral. De facto, têm sido tantos os «anos especiais» – da Eucaristia, Paulino, da Fé, da misericórdia… – que nem o ressoar da trombeta bíblica do yobel a anunciar o ano da graça e da redenção nos desperta… Em 11 de fevereiro de 2022, em carta ao presidente do então Conselho Pontifício para a nova evangelização (hoje Dicastério para a evangelização), o Papa Francisco pôs em marcha a sua preparação, lançando o lema que o deveria animar: «peregrinos de esperança». Propunha que a dimensão espiritual do Jubileu, que convida à conversão, se articulasse com uma atenção social solidária e com uma urgente preocupação ecológica. Já então convidou a dedicar o ano anterior ao evento jubilar – este, de 2024, que está a chegar ao seu termo – a uma grande “sinfonia” de oração «para recuperar o desejo de estar na presença do Senhor, escutá-Lo e adorá-Lo». Segundo a praxe secular, cada jubileu é proclamado através da publicação de uma bula pontifícia, um documento autenticado com o selo papal que outrora era feito de chumbo trazendo numa face a efígie dos Apóstolos Pedro e Paulo e no verso o nome do Pontífice. A “bula” era esse selo metálico, em forma de bola. No caso presente, a “bula” foi promulgada em 9 de maio do corrente ano de 2024 e tem como primeiras palavras, que lhe servem também de título, a frase de Rm 5, 5: «Spes non confundit» (a esperança não engana). O grande voto é o de que «o Jubileu seja, para todos, ocasião de reanimar a esperança» (n. 1). Recomendamos a leitura deste texto fundamental. Nele se determina que o ano jubilar será inaugurado com a abertura da porta santa da basílica de São Pedro, no Vaticano, em 24 de dezembro p.f.. As portas santas das outras 3 basílicas papais (a catedral – S. João de Latrão –, Santa Maria Maior e São Paulo fora de muros) serão abertas a 28 de dezembro, 1 e 5 de janeiro, respetivamente. Embora mantendo e enriquecendo o sentido da peregrinação e da “romagem”, o “ano santo” não restringe a Roma a possibilidade de viver esta extraordinária experiência de graça. Como já acontecera em anteriores jubileus – e ainda está vivo na memória o grande jubileu do ano 2000 – também nas Igrejas particulares se poderá fazer a experiência jubilar. Assim, na Bula de proclamação, o Papa determina  que, no domingo 29 de dezembro do corrente ano, em todas as catedrais e concatedrais – e só nessas igrejas – se celebra a abertura solene do Jubileu. Nas Igrejas particulares do mundo católico, o encerramento do ano santo ocorrerá em 28 de dezembro de 2025, no mesmo dia em que serão também encerradas em Roma as «portas santas» das basílicas Lateranense, Santa Maria Maior e São Paulo. O Jubileu Ordinário terminará com o encerramento da Porta Santa da Basílica Papal de São Pedro, no Vaticano, na dia 6 de janeiro de 2026, solenidade da Epifania do Senhor. O Secretariado Nacional de Liturgia publicou um subsídio com os textos litúrgicos e as normas para a concessão da indulgência jubilar. Para a celebração da abertura do ano jubilar nas Igrejas particulares são dadas orientações. Esta celebração apenas se pode realizar nas Igrejas catedrais ou concatedrais, sendo excluída a possibilidade de celebração noutras igrejas, mesmo importantes como santuários. A celebração configura-se como uma “Missa estacional”, nos termos do Cerimonial dos Bispos. Estão previstas 3 etapas: 1) reunião do Povo de Deus numa outra igreja para os ritos de introdução; 2) peregrinação/procissão dessa igreja para a catedral; c) celebração eucarística na catedral. Na Diocese do Porto prevê-se que tenha lugar na Igreja de Santo Ildefonso a collectio ou reunião do Povo de Deus. Após os ritos de introdução, com a proclamação do Evangelho e a leitura de algumas passagens da Bula Papal de proclamação, formar-se-á a procissão com destaque para uma cruz significativa que a abrirá e depois ficará colocada no presbitério da Catedral, perto do altar, durante todo o ano santo. Esta cruz estará também em destaque nos ritos iniciais da Eucaristia na Catedral, começando esta celebração com a bênção e aspersão da água, memória viva do Batismo.