Na passada Quarta-Feira iniciou-se o tempo da Quaresma, período de quarenta dias que precede a festa da Ressurreição de Jesus Cristo.
A Quaresma é um tempo litúrgico de preparação para a celebração da Páscoa do Senhor, um tempo que nos convida à oração, ao jejum e à esmola, práticas que não se devem concentrar apenas em gestos externos, mas devem ser expressão da nossa vida cristã.
A oração deve ser o sinal da nossa relação com Deus e da nossa predisposição de fazer a Sua vontade; o jejum deve ser a renúncia a tudo o que possa contribuir para nos separar do amor a Deus e ao próximo; a esmola não se deve limitar a uma mera entrega de dinheiro, mas deve ser um sinal da verdadeira caridade fraterna.
A Quaresma é, pois, um tempo que deve ajudar-nos a reafirmar a nossa fé e a despertar em nós uma grande vontade de mudança de vida, de uma verdadeira conversão, a fim de reforçar a nossa relação de amor com Deus e com o próximo.
A Palavra de Deus do I Domingo da Quaresma convida-nos a reflectir sobre toda a forma de tentações que podem influenciar o nosso relacionamento com Deus e nos desviam do caminho que que conduz à Salvação.
I LEITURA (Deut 26, 4-10)
A primeira leitura, retirada do livro de Deuteronómio, o livro que nos relata os discursos proferidos por Moisés antes da entrada do povo na terra prometida, apresenta-nos as leis e costumes que o povo devia seguir. uns versículos que podem ser considerados o primeiro Credo judaico, no qual são reconhecidos os acontecimentos salvíficos do Senhor.verdadeira expressão de fé em Deus de Israel. Moisés lembra as intervenções do Senhor em favor do seu Povo, a libertação da escravatura no Egipto e a condução pelo deserto até à terra de abundância, reconhecendo que tudo isto é um dom de Deus.
E como agradecimento por tudo o que Deus fez e concedeu, Moisés exorta o Povo a colocar diante do Senhor as primícias dos frutos da terra e a prostrar-se diante d’Ele. Com esta prática, o povo reconhece que tudo o que possuía era dom de Deus, proclama a fidelidade do Senhor às suas promessas e renova o seu compromisso de ser fiel à AliançaQue este texto nos faça tomar consciência de que tudo o que somos e temos é dom de Deus e, por isso, devemos agradecer todos os dias o que Ele nos concede, agradecimento que passa necessariamente por contemplar as maravilhas que Ele operou, e continua a operar, nas nossas vidas.
II Leitura (Rom 10, 8-13)
Na segunda leitura, S. Paulo exorta os cristãos de Roma: «A palavra está perto de ti, na tua boca e no teu coração». Por isso,” Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor e se acreditares no teu coração que Deus O ressuscitou dos mortos, serás salvo”.
A exortação de Paulo deve-se ao facto de os cristãos de origem judaica prescindirem de Deus para alcançar a salvação, pois achavam que somente necessitavam de cumprir as obras descritas na lei. Este seu entendimento leva-os a rejeitar Jesus Cristo e a oferta de salvação por Ele anunciada. Para alcançarem a salvação, eles não precisavam de Jesus, mas apenas de cumprir o que estava prescrito na Lei.
O Apóstolo Paulo diz à comunidade de Roma e aos cristãos de todos os tempos que têm de professar a fé com a boca e também com o coração, doutra forma, a profissão de fé que sai apenas da boca não será totalmente verdadeira.
E Paulo acrescenta que quem professar a fé será salvo, independentemente de ser judeu ou grego, pois, a salvação que Deus oferece por meio de Jesus Cristo não é privilégio de um grupo específico, mas uma realidade divina acessível a todos.
O tempo da Quaresma é um tempo propício para renovar a fé em Jesus Cristo e crer com o coração na salvação que, através d’Ele, Deus ofereceu a toda a humanidade.
EVANGELHO (Lc 4, 1-13)
No Evangelho, o Evangelista S. Lucas relata-nos a ida de Jesus para o deserto, onde permaneceu 40 dias. Para a teologia de Israel, o deserto era o lugar favorável à meditação, à oração e à penitência, caminhos que conduzem ao encontro com Deus.
Durante a permanência no deserto Jesus foi tentado por três vezes pelo diabo, isto é, enfrentou a tentação de abandonar Deus e não cumprir a Sua vontade.
Após ter jejuado 40 dias, o que o fez experimentar a fome, Jesus Cristo responde à primeira tentação de transformar uma pedra em pão: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’». Jesus resiste à tentação de ceder ao desejo de não sofrimento e ao prazer de usar os bens terrenos em substituição dos do Reino de Deus.
Na segunda tentação, o diabo oferece-Lhe o poder e a glória de todos os reinos da terra, com a condição de se prostrar diante dele. Porém, Jesus Cristo responde: «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’». Jesus resiste à tentação de adquirir facilmente o que se deseja e a de não cumprir um mandamento.
Na terceira tentação, Jesus Cristo é conduzido ao pináculo do Templo, e o diabo diz-Lhe «Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo… porque Deus mandará os Anjos para que nada de mal te aconteça. Jesus responde: «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’. Jesus resiste à tentação de pôr Deus à prova.
Ao vencer as tentações Jesus mostra a fidelidade incondicional ao Pai e transmite aos seus seguidores de todos os tempos as seguintes verdades:
-Que a Palavra de Deus e a fidelidade à Sua vontade são alimento que conduz à salvação (1ª tentação);
– Que somente Deus tem o poder e é digno de adoração, verdades que não se podem trocar por a tentação de obter um qualquer poder terreno (2ª tentação);
– Que não se deve tentar Deus, ou seja, não se deve pedir que Ele faça “milagres”, que utilize a sua bondade para satisfazer simplesmente as nossas ambições pessoais (3ª tentação).
Jesus Cristo é o modelo que devemos seguir para que, perante as tentações que permanentemente temos de enfrentar, possamos também, em cada momento, optarmos seguir pelo caminho de fidelidade a Deus.