A chamada à santidade

A primeira sessão da Escola da Fé foi dedicada à reflexão sobre os dois primeiros capítulos da Exortação Apostólica “Alegrai-vos e Exultai”, na qual o Papa Francisco trata da chamada à santidade no mundo actual.
Da análise feita aos capítulos I e II, destacámos alguns dos pontos que, em conjunto com os referidos na apresentação, foram objecto da nossa reflexão.
Só Deus é Santo, só Ele é o exemplo perfeito de santidade, mas, pelo seu Amor, nós fomos criados à sua imagem e semelhança e, em todos os tempos, por Ele chamados a participar na sua santidade.
O chamamento à santidade está bem expresso no que nos diz a Sagrada Escritura: Eu sou o Senhor que vos tirou do Egipto para ser o vosso Deus. Sereis santos porque Eu sou Santo” (Lv 1,44-45).
Também, como salientou o Concílio Vaticano II “todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou o seu estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho”.
Como muitas vezes podemos pensar, o caminho da santidade não está apenas ao alcance dos bispos, sacerdotes, religiosos ou religiosas ou de pessoas que dedicam muito do seu tempo à oração, mas é um caminho que poderá ser percorrido de forma progressiva e contínua por todos. Para tal, bastará seguir o que nos indica o Papa: “Deixa que a graça do teu Baptismo frutifique no caminho de santidade. Deixa que tudo esteja aberto a Deus e, para isso, opta poe Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida”.

Para ser santo é necessário viver de maneira santa, fazer o que é agradável a Deus, ou seja, evitar que o pecado nos domine, pois este não agrada a Deus, e evitar o mal, procurando sempre fazer o bem. O caminho para a santidade é exigente e difícil, todavia, ele pode tornar-se acessível e fácil se for seguido o exemplo de Jesus Cristo, que em tudo fez a vontade do Pai.

A santidade, um dom que nos é oferecido pela graça do baptismo, pode ser concretizada na vida quotidiana através de palavras, gestos e acções que demonstrem o amor a Deus e aos outros.
Não tenhamos medo de caminhar no sentido da santidade. Como refere o Papa, “Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça. No fundo, como dizia León Bloy, na vida «existe apenas uma tristeza: a de não ser santo”.

No Capítulo II, o Papa chama a atenção para dois inimigos da santidade: o gnosticismo e o pelagianismo.
Estas duas ideologias que surgiram nos primeiros séculos do cristianismo e que foram classificadas e condenadas pela Igreja como heréticas, continuam, nos nossos tempos, a seduzir muitas pessoas, inclusive algumas que se dizem cristãs.
Por isso, o Papa explica o que apresentam estas ideologias e os perigos que elas constituem para o caminho de santidade.
O gnosticismo supõe «uma fé fechada no subjectivismo, onde apenas interessa uma determinada experiência ou uma série de raciocínios e conhecimentos que supostamente confortam e iluminam, mas, em última instância, a pessoa fica enclausurada na imanência da sua própria razão ou dos seus sentimentos»
A mentalidade gnóstica leva a um conhecimento abstracto de Deus e a “uma mente sem encarnação, incapaz de tocar a carne sofredora de Cristo nos outros, engessada numa enciclopédia de abstrações. E, ao desencarnar o mistério, preferem “um Deus sem Cristo, um Cristo sem Igreja, uma Igreja sem povo “(37-39), criando para si um Deus à sua medida.

Quanto à mentalidade pelagiana ou semipelagiana, o Papa explica que “embora fale da graça de Deus com discursos edulcorados, no fundo, só confia nas suas próprias forças e sente-se superior aos outros por cumprir determinadas normas ou por ser irredutivelmente fiel a um certo estilo católico” (49). O Papa cita ainda o Catecismo da Igreja Católica para lembrar que o reconhecimento da absoluta necessidade da graça deve ser “uma das grandes convicções definitivamente adquiridas pela Igreja”, posto que “bebe do coração do Evangelho (55)
As pessoas que, consciente ou inconscientemente, seguem esta ideologia, “não se deixam guiar pelo Espírito no caminho do amor” (57), “complicando o Evangelho e tornando-se escravos de um esquema” (59).
O Papa termina este capítulo com um pedido ao Senhor que “liberte a Igreja das novas formas de gnosticismo e pelagianismo que a complicam e detêm no seu caminho para a santidade e exorta os cristãos a “questionar-se e a discernir diante de Deus a maneira como possam estar a manifestar-se na sua vida”.

No próximo mês, o tema da sessão será o capítulo III da Exortação, à Luz do Mestre”, seguir e viver as bem-aventuranças.

APRESENTAÇÃO DA SESSÃO DE OUTUBRO