Perspectivas Pastorais

Resumo das sessões de Janeiro e Fevereiro, ambas inteiramente dedicadas ao Capítulo VI, ALGUMAS PERSPECTIVAS PASTORAIS, da Exortação Apostólica “Amoris laetitia”.

Neste capítulo, o Papa indica algumas vias pastorais que se destinam à construção de famílias sólidas e que vivam conforme o plano de Deus.
Recorrendo às relações conclusivas dos dois sínodos sobre a família, o Papa indica alguns desafios, mas refere que compete às comunidades elaborar propostas práticas e eficazes, que tenham em conta as necessidades específicas de cada local.
Sendo as famílias cristãs o sujeito e não apenas objecto da evangelização, é necessário o seu envolvimento na Pastoral Familiar, pois é das suas diferentes experiências que podem surgir as melhores páticas pastorais.
“A principal contribuição para a pastoral familiar é oferecida pela paróquia, que é uma família de famílias, onde se harmonizam os contributos das pequenas comunidades e movimentos eclesiais.”(AL 202)
Considerando os complexos problemas existentes em muitas das famílias, designadamente os casos de violência e abuso sexual, é fundamental que haja uma preparação adequada dos agentes de pastoral familiar. “É necessário formar agentes leigos de pastoral familiar, com a ajuda de psicopedagogos, médicos de família, médicos de comunidade, assistentes sociais, advogados de menores e família, predispondo-os para receber as contribuições da psicologia, sociologia, sexologia e até aconselhamento. ” (AL 204)

Guiar os noivos no caminho de preparação para o matrimónio é uma das questões que é abordada na Exortação. Este tema, motivou um amplo debate centrado nos desafios colocados na Exortação.
Houve uma opinião generalizada quanto à necessidade de os noivos terem uma formação adequada para o matrimónio, no sentido de os ajudar a descobrir o verdadeiro significado da união que se propõem realizar. Nesse percurso, torna-se necessário que os noivos se identifiquem com o matrimónio, não como um simples contrato jurídico, mas como uma vocação que é abençoada por Deus. É urgente que os noivos entendam que o matrimónio como sacramento é sinal do próprio amor de Deus e realiza a mesma relação de amor de Cristo pela Igreja sua esposa. Pelo sacramento os cônjuges são chamados a uma intima comunhão de vida e de amor entre eles.

No caminho de preparação, os noivos deviam ser ajudados a compreender o que é o amor e os compromissos decorrentes do matrimónio, para que não o considerem como fim do caminho, mas o início de uma vida que obriga a enfrentarem juntos provações e momentos difíceis.
Relativamente à preparação que a Igreja oferece, os cursos de preparação para o matrimónio, a opinião da maioria dos presentes, uns por experiência própria e outros de forma indirecta, foi a de que não a considera suficiente, uma vez que o conteúdo programático e a duração desses cursos não permitem aos noivos a aquisição de conhecimentos capazes de os ajudar a enfrentar os problemas consequentes de uma vida matrimonial.
Um dos factos que ilustra perfeitamente a deficiente preparação é a constatação de que muitos dos noivos colocam mais empenho nos convites, na roupa, na festa, em aspectos puramente económicos, do que na celebração litúrgica. Esta situação merece do Papa o seguinte comentário: “Queridos noivos, tende a coragem de ser diferentes, não vos deixeis devorar pela sociedade do consumo e da aparência.”

O acompanhamento nos primeiros anos de vida matrimonial faz parte de uma das preocupações constantes na Exortação.
É nos primeiros anos de vida conjugal que os cônjuges são incapazes de enfrentar e ultrapassar as dificuldades que surgem. Nesse tempo, é frequente a existência de crises, muitas delas resultantes de os noivos não terem tomado consciência dos desafios e do verdadeiro sentido do matrimónio, durante preparação para o matrimónio e no tempo de noivado.
As expectativas demasiado altas sobre a vida conjugal, a incapacidade de se doarem com generosidade e a incompreensão do matrimónio como um projecto de felicidade de ambos, são factores que contribuem para que os cônjuges não consigam gerir e superar as crises, levando-os a tomar a decisão, muitas vezes precipitada, de partir para uma separação.
E a separação, que devia ser usada como o último dos recursos, torna-se o primeiro, mesmo quando ela causa sofrimento em ambos os membros do casal ou apenas num só. Este sofrimento pode ser ainda sentido pelos filhos, caso os haja, pois eles são os mais prejudicados num processo de separação, são sempre vítimas inocentes.
A Pastoral Familiar pode ter um papel decisivo no acompanhamento dos primeiros anos de matrimónio, pois ela poderá ajudar os casais a entender e superar as crises, angustias e dificuldades. Por isso, é que o Papa nos diz: “Hoje, a Pastoral Familiar deve ser fundamentalmente missionária, em saída, por aproximação, em vez de se reduzir a ser uma fábrica de cursos, a que poucos assistem. “

O Papa aponta à Igreja a atitude que deve ser seguida com os que vivem uma situação de ruptura ou de divórcio. Neste sentido, o Papa advoga que não haja marginalização, mas sempre um processo que leve ao acolhimento, à compreensão, especialmente daqueles que sofreram injustamente a separação ou foram obrigados, por razões de violência ou outras, a optar pelo divórcio.
Também, as pessoas divorciadas que não voltaram a casar devem ser acolhidas e encorajadas a encontrar na Eucaristia o alimento que as ajude.
Quanto às pessoas divorciadas que vivem uma nova união, é necessário que a Igreja os faça sentir que não estão excomungadas. A comunidade cristã deve acolher estas pessoas e cuidar delas, porque o cuidado com elas não pode ser visto como um enfraquecimento da fé, mas como uma expressão de caridade.
Embora a Exortação não refira a possibilidade dos divorciados que vivem uma nova união passarem a ter acesso à comunhão, o Papa propõe que pessoas nesta situação irregular sejam acompanhadas e pede que seja feito um caminho de discernimento sobre a sua situação.
A Exortação refere ainda que” as comunidades cristãs não devem deixar sozinhos os pais divorciados que vivem numa nova união. Pelo contrário, devem integrá-los e acompanhá-los na sua função educativa.
Relativamente aos processos de reconhecimento da nulidade do matrimónio, uma prerrogativa prevista no Código de Direito Canónico, o Papa recomenda que se tornem mais acessíveis, ágeis e, tanto quanto possível, sem custos para os requerentes.

A união entre pessoas homossexuais também foi matéria que mereceu uma reflexão. Os padres sinodais concluíram que esta situação nunca poderá ser equiparada ao matrimónio, uma vez que não há fundamento algum que permita analogias entre as uniões homossexuais e o desígnio de Deus sobre o matrimónio e a família.
O Papa chama à atenção para o respeito e a recusa de qualquer forma de discriminação que a comunidade deve evidenciar, face às famílias que têm pessoas com tendência homossexual.

A análise dos conteúdos deste capítulo e a forma como foram debatidos pelo elevado número de participantes nas duas sessões, permitiu aos presentes identificarem-se com muitos dos problemas actuais das famílias e, ainda, tomarem consciência dos desafios e do caminho para o exercício de uma Pastoral Familiar capaz de ajudar a construir famílias cristãs, que vivam segundo o plano de Deus.

APRESENTAÇÃO DAS SESSÕES DE JANEIRO E FEVEREIRO