I Domingo da Quaresma

Na passada Quarta-Feira iniciou-se o tempo da Quaresma. A Quaresma é um tempo litúrgico de preparação para a celebração da Páscoa, durante o qual somos convidados ao jejum, à oração e à esmola, práticas que não se devem resumir a umas simples atitudes, mas a uma manifestação da nossa identidade cristã.
O jejum deve ser a renúncia a tudo o que possa contribuir para nos separar do amor a Deus e ao próximo. A oração deve ser o sinal da nossa relação com Deus e da nossa predisposição de fazer a Sua vontade. A esmola não se deve limitar a uma mera entrega de bens materiais, mas, acima de tudo, deve ser expressão de uma verdadeira caridade fraterna.
A Quaresma é, por isso, um tempo privilegiado para que se opere em nós uma mudança de vida, que passa necessariamente por uma verdadeira conversão e por um fortalecimento da nossa relação de amor a Deus e ao próximo. Este tempo também nos convida a ter uma maior consciência da salvação que nos é oferecida por Deus em Jesus Cristo, bem como a viver de harmonia com o nosso compromisso baptismal.

I Leitura (Gn 9,8-15)
A primeira Leitura fala-nos da Aliança de Deus com Noé e a sua descendência, uma aliança realizada única e exclusivamente com base no amor e misericórdia de Deus, e que deu origem a uma nova humanidade.
No relato do dilúvio, o autor pretende ensinar que Deus não aceita os desvios da humanidade, mas procura sempre caminhos para a purificar dos seus erros. Neste sentido, Deus usa Noé, uma pessoa justa e íntegra, para resgatar todos os que se desviaram e faz com ele uma Aliança, pela qual se compromete que não haverá mais destruição de todas as criaturas. Deus não quer condenar os pecadores, mas sim que eles se arrependam e se convertam.
Esta primeira Aliança feita entre Deus e os homens e todas as outras que se seguiram, e que culminaram com a realizada definitivamente em Jesus Cristo, são um sinal evidente da fidelidade, do amor e da misericórdia de Deus por toda a humanidade.
Que este trecho evangélico contribua para que, em quaisquer circunstâncias, consigamos dar resposta ao amor e fidelidade de Deus, pois é esta atitude que Ele espera e deseja de todos os seus filhos.

II Leitura (1 Pe 3,18-22)
A segunda Leitura, extraída da 1ª Carta de Pedro, é dirigida às comunidades cristãs das províncias romanas da Ásia Menor. Conhecedor do ambiente hostil em que viviam estas comunidades por testemunharem a fé em Cristo, o autor da carta exorta-as a permanecerem fiéis na fé. Estabelecendo uma semelhança com o dilúvio, o autor refere que assim como, outrora, as águas do dilúvio purificaram a humanidade e deram origem, pela Aliança de Deus com Noé, a uma nova humanidade, agora, pela água do baptismo todos são purificados e incorporados em Cristo que, pela sua morte redentora, deu origem a uma nova e definitiva Aliança de Deus com a humanidade.
Deste modo, o autor apela às comunidades de baptizados, que pelo baptismo nasceram para uma vida nova, a serem fiéis ao seu compromisso e a darem testemunho da salvação, mesmo diante daqueles que são seus inimigos.
A Quaresma é um bom tempo para renovarmos o nosso compromisso baptismal e tomarmos consciência de que a nossa identificação com Cristo é única forma de nos incluirmos na nova humanidade criada por Deus em Jesus Cristo e de seguir o caminho de libertação e salvação que Ele nos veio oferecer.

Evangelho (Mc 1,12-15)

No breve trecho, o evangelista Marcos não relata as tentações uma por uma, como fazem Mateus e Lucas, apenas nos transmite que Jesus foi impelido pelo Espírito Santo para o deserto, onde permaneceu 40 dias, e ali foi tentado por Satanás.
O deserto é um lugar que, pelo seu isolamento e silêncio, propicia o recolhimento, a meditação, a oração e a penitência, o que faz dele um sítio privilegiado de encontro com Deus.
Depois de passar por diversas tentações e provações, Jesus manteve a sua fidelidade a Deus e partiu para a Galileia, onde começou a sua pregação. Jesus anuncia que chegou o tempo do Reino de Deus, o tempo em que Deus cumprirá as suas promessas. E para que essa nova realidade se concretize, Jesus pede que se arrependam e acreditem no Evangelho.
O arrependimento pedido por Jesus, que é essencial à conversão, implica numa transformação radical de vida, numa existência centrada em Deus e nos valores do Reino. Acreditar no Evangelho não significa apenas ter conhecimento do conjunto de ensinamentos de Jesus, mas requer o acolhimento da sua mensagem e uma vida em conformidade com ela.
Por isso, é que a mensagem de Cristo -“Arrependei-vos e acreditai no Evangelho” é uma mensagem que se aplica também aos cristãos de hoje. Ela define o caminho a seguir para este tempo da Quaresma e para todos os tempos da nossa existência.
Na verdade, Jesus Cristo é o modelo que devemos seguir para que, perante as tentações que neste mundo temos permanentemente de enfrentar, possamos, em cada momento, perceber com clareza qual é a vontade de Deus.

I DOMINGO DA QUARESMA