Papa fala das «alegrias» de 2018 e diz que bem realizado pela Igreja brilha mais que «males cometidos por alguns»

O sínodo dos bispos dedicado aos jovens, a reforma das estruturas administrativas e pastorais do Vaticano e os novos santos e batizados foram algumas das «alegrias» que o ano de 2018 trouxe à Igreja, afirmou hoje o papa.

Na última parte do discurso à Cúria Romana, por ocasião da troca de votos natalícios, Francisco acentuou também a importância do trabalho oculto realizado pelos católicos, nomeadamente padres e pessoas consagradas a Deus.

«O Natal dá a prova de que os graves males cometidos por alguns nunca poderão ofuscar todo o bem que a Igreja realiza gratuitamente no mundo», declarou o papa, que no fim da intervenção ofereceu aos participantes o livro “Compêndio de teologia ascética e mística”, de Adolphe Tanquerey, obra que «fará bem, para a reforma de cada um» e da «Igreja».

 

Papa Francisco
Audiência à Cúria Romana
Vaticano, 21.12.2018

«Passemos às alegrias. Foram numerosas este ano, por exemplo, o bom resultado do sínodo dedicado aos jovens (…). Os passos até agora realizados na reforma da Cúria. Muitos perguntam-se: quando acabará? Nunca acabará, mas os passos são bons.

Por exemplo, os trabalhos de clarificação e de transparência na economia; os esforços louváveis realizados pelo Gabinete do Revisor Geral e pela Autoridade de Informação Financeira; os bons resultados alcançados pelo Instituto para as Obras de Religião [conhecido como o Banco do Vaticano]; a nova lei do Estado da Cidade do Vaticano; o decreto sobre o trabalho no Vaticano, e muitas outras realizações menos visíveis.

Recordemos, entre as alegrias, os novos beatos e santos que são as “pedras preciosas” que adornam o rosto da Igreja e irradiam para o mundo esperança, fé e luz. É imperativo mencionar aqui os 19 mártires da Argélia: «Dezanove vidas dadas por Cristo, pelo seu Evangelho e pelo povo argelino (…), modelos de santidade comum, a santidade “da porta ao lado”»; o alto número de fiéis que a cada ano, ao receber o Batismo, renovam a juventude da Igreja, como mãe sempre fecunda, e os numerosíssimos fiéis que voltam a casa e tornam a abraçar a fé e a vida cristã; as famílias e os pais que vivem seriamente a fé e transmitem-na diariamente aos seus filhos através da alegria do seu amor; o testemunho de muitos jovens que escolhem corajosamente a vida consagrada e o sacerdócio.

A força de qualquer instituição não reside em ser composta por homens perfeitos (isto é impossível), mas na sua vontade de purificar-se continuamente; na sua capacidade de reconhecer humildemente os erros e corrigi-los

Um verdadeiro motivo de alegria é também o grande número de consagrados e consagradas, bispos e sacerdotes, que vivem diariamente a sua vocação em fidelidade, silêncio, santidade e abnegação.

São pessoas que iluminam a escuridão da humanidade, com o seu testemunho de fé, de amor e de caridade. Pessoas que trabalham pacientemente, por amor a Cristo e ao seu Evangelho, a favor dos pobres, dos oprimidos e dos últimos, sem procurar colocar-se nas primeiras páginas dos jornais ou ocupar os primeiros lugares. Pessoas que, deixando tudo e oferecendo a sua vida, levam a luz da fé onde Cristo está abandonado, com sede, com fome, recluso e nu. E penso particularmente nos numerosos párocos que oferecem a cada dia bom exemplo ao povo de Deus, sacerdotes próximos das famílias, conhecem os nomes de todos e vivem a sua vida em simplicidade, fé, zelo, santidade e caridade. Pessoas esquecidas dos meios de comunicação social mas sem as quais reinaria a escuridão.

Caros irmãos e irmãs (…) [com esta minha intervenção] quis realçar o valor da consciência, que se deve transformar num dever de vigilância e de proteção da parte de quem, nas estruturas da vida eclesiástica e consagrada, exercita o serviço do governo.

Na realidade, a força de qualquer instituição não reside em ser composta por homens perfeitos (isto é impossível), mas na sua vontade de purificar-se continuamente; na sua capacidade de reconhecer humildemente os erros e corrigi-los; na sua habilidade de reerguer-se das quedas; no ver a luz do Natal que parte da manjedoura de Belém, percorre a história e chega até à Parusia.

O Natal dá a certeza de que a verdadeira força da Igreja e do nosso trabalho diário, tantas vezes escondido – como o da Cúria, onde há santos –, está no Espírito Santo que a guia e a protege

É preciso por isso abrir o nosso coração à verdadeira luz, Jesus Cristo: a luz que pode iluminar a vida e transformar as nossas trevas em luz; a luz do bem que vence o mal; a luz do amor que supera o ódio; a luz da vida que derrota a morte; a luz divina que transforma em luz tudo e todos; a luz do nosso Deus: pobre e rico, misericordiosos e justo, presente e oculto, pequeno e grande. (…)

O Natal dá-nos a cada ano a certeza de que a luz de Deus continuará a brilhar, apesar da nossa miséria humana; a certeza de que a Igreja sairá desta tribulação, ainda mais bela e purificada e esplêndida. Porque todos os pecados, as quedas e o mal cometido por alguns filhos da Igreja nunca poderão obscurecer a beleza do seu rosto, aliás, dão até a prova certa de que a sua força não está em nós, mas sobretudo em Jesus Cristo, Salvador do mundo e Luz do universo, que a ama e deu a sua vida por ela, sua esposa.

O Natal dá a prova de que os graves males cometidos por alguns nunca poderão ofuscar todo o bem que a Igreja realiza gratuitamente no mundo. O Natal dá a certeza de que a verdadeira força da Igreja e do nosso trabalho diário, tantas vezes escondido – como o da Cúria, onde há santos –, está no Espírito Santo que a guia e a protege através dos séculos, transformando até os pecados em ocasiões de perdão, as quedas em ocasiões de renovamento, o mal em ocasião de purificação e vitória.

 

Rui Jorge Martins
Fonte: Sala de Imprensa da Santa Sé
Imagem: KovalenkovPetr/Bigstock.com
Publicado em 21.12.2018